Ana Carolina da Silva – Mestra em Engenharia Florestal – Universidade Federal do Paraná (UFPR) – anac.florestal@fgmail.com
A araucária (Araucaria angustifólia), espécie nativa do Brasil, está classificada no grupo das Gimnospermas. Uma das características dessa espécie é a produção de sementes nuas, ou seja, não são acondicionadas dentro de frutos. Os pinhões são formados por casca e castanha, agrupados numa pinha que pode conter até 100 dessas sementes por unidade.
Como identificar se o pinhão está maduro?
Os pinhões, quando maduros, se soltam da pinha e caem das árvores, não necessitando serem retirados por ação humana. Alguns animais se alimentam de pinhões (gralha-azul – ave símbolo do Paraná, maritacas e outras da ordem dos Psittaciformes) e também estimulam a queda ao abrir as pinhas e causar o esfacelamento, mas fazem isso apenas quando eles estão maduros.
Quando se força a retirada de uma pinha do galho, ela provavelmente está verde, com pinhões úmidos e leitosos. Para reconhecer uma pinha madura deve-se prestar atenção em sua coloração, que deve ser marrom nas pontas e amarelado no restante.
A importância da colheita na época certa
O pinhão é um alimento rico em carboidratos, principalmente amido, proteínas, fibras, cálcio, fósforo, ferro e vitaminas. No passado, os pinhões serviam de alimentação para os grupos indígenas que habitavam o Sul do Brasil e, hoje, possuem um alto consumo cultural pelas populações sulistas, além de ser um importante alimento para a fauna local.
A qualidade do pinhão a ser consumido depende da época da sua colheita; se feita antes do tempo correto, o consumidor está comprando uma semente de baixa qualidade e coloca em risco a sua saúde. Além disso, o pinhão verde, quando derrubado, não será consumido pelos humanos ou animais e não irá germinar a semente, diminuindo a população das araucárias nas florestas.
O armazenamento correto faz com que a semente dure mais para o consumo. Em um saco fechado e refrigerado, o pinhão dura cerca de 20 dias. Quando congelado, em sacos a vácuo, pode durar até três anos.
Datas definidas para colheita
No Paraná e Santa Catarina a colheita é permitida a partir do primeiro dia de abril, e no Rio Grande do Sul é permitido apenas a partir do dia 15 de abril. Qualquer venda ou atividade extrativista antes dessas datas é considerada crime e deve ser denunciado.
Para uma colheita sustentável, 50% da produção pode ser colhida e o restante deixado para gerar novas germinações e garantir a alimentação dos diversos animais que também consomem essa semente.
Recomendações de manejo
A principal recomendação de manejo em plantios de araucárias é de um espaçamento de 10 x 10 m entre as mudas, não sendo recomendado o desbaste dos ramos, visando sempre manter o maior número de galhos para a maior produção de pinhas.
O plantio dessa espécie deve ser realizado em solos profundos e com boa fertilidade; este fator pode acelerar o início da produção. As sementes ou mudas utilizadas para o plantio devem ser de origem regional, sendo mais adaptáveis às condições climáticas do local.
Para que o pomar renda uma boa produção, pelo menos 70% da população de plantas devem ser femininas (produtoras do pinhão) e 30% de plantas masculinas (polinizadoras).
Para a produção das pinhas, as araucárias levam de 12 a 15 anos e seguem produzindo até aproximadamente 200 anos. Porém, pesquisadores da Embrapa desenvolveram uma técnica de enxerto que faz com que esse tempo de reprodução seja reduzido pela metade, além de torná-las do tipo arbustivo, com cerca de cinco metros de altura.
Em propriedades de agricultura familiar, recomenda-se também utilizar a araucária em Sistemas Agroflorestais (SAFs), ou seja, em conjunto com culturas agrícolas de ciclo anual e espécies florestais nativas geradoras de renda, como erva-mate, ervas medicinais e espécies frutíferas.
Para a implantação de SAFs é possível utilizar a linha de financiamento Pronaf Florestas, que atualmente tem limite de R$ 60.000,00, taxa de juros de 2,75% ao ano, até 20 anos para pagar e 12 anos de carência.
Rendimento: madeira x pinhões
A renda média calculada com base na venda de toras de 40 anos de araucárias fica em torno de R$ 1.300 hectare/ano. Esse rendimento é bem inferior se comparado à produção de pinhões com manejo adequado, elevando ao valor médio de R$ 14.300 hectare/ano.
Disseminou-se uma noção que a diferença entre árvores machos e fêmeas estaria no formato das copas, mas isso é um mito. A única diferença é que as árvores fêmeas têm pinhas e as macho têm estróbilos. A identificação do sexo de árvores nativas normalmente é feita a partir de 12 a 15 anos da idade, mas no processo de enxerto é possível diferenciar desde a sua concepção.