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sexta-feira, março 29, 2024
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Químicos e biológicos: Juntos para o sucesso na lavoura

Autores

Vitor Muller AnunciatoEngenheiro agrônomo, mestre em Agricultura e doutorando em Proteção de Plantas – UNESP – Botucatuvitor.muller@gmail.com

Roque de Carvalho DiasEngenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Proteção de Plantas – UNESP – Botucaturoquediasagro@gmail.com

Leandro BianchiEngenheiro agrônomo, mestre em Agricultura e doutorando em Proteção de Plantas – UNESP – Botucatuleandro_bianchii@hotmail.com

Samara Moreira PerissatoEngenheira agrônoma, mestre e doutoranda em Agricultura – UNESP – Botucatu samaraperissato@gmail.com

Irrigação – Crédito: Jacto

O mundo agrícola vive hoje uma nova transformação: a expansão do uso de produtos biológicos em complementariedade a produtos químicos. Os produtos biológicos são definidos como o uso de organismos vivos, geralmente bactérias, fungos e insetos, para proteger e fortalecer outros organismos, geralmente culturas agrícolas, contra vários tipos de pragas e doenças, podendo também atuar como condicionadores do solo e na fertilização das plantas cultivadas.

Essa nova fase da agricultura é pautada pela combinação da busca por novos incrementos de produtividade e novos padrões de sustentabilidade exigidos pela sociedade e desejados pelos agricultores. Os produtos biológicos já são uma realidade e serão cada vez mais utilizados em combinação com os químicos.

Entre outras razões, o uso de técnicas de controle combinadas, como o controle químico em conjunto com o biológico, visa a diminuição do risco de desenvolvimento da resistência adquirida em patógenos e pragas ou para auxiliar no controle dos mesmos, aumentando a efetividade do controle por meio da diversidade de meios de controle.

Biológicos

O uso do controle biológico como alternativa à resistência de pragas e doenças ao controle químico é tão promissor que muitas empresas que desenvolvem produtos para controle químico estão fazendo-o com base no controle biológico e focando principalmente naqueles alvos que possuem resistência comprovada a algum tipo de controle químico.

Aliado à eminente necessidade de novas alternativas no manejo fitossanitário, essas empresas possuem ferramentas muito potentes à disposição para atender a essa demanda. O desenvolvimento, na última década, da tecnologia de DNA, tornou possível estudar em detalhes as interações entre agentes de controle biológico, a praga/doença e o hospedeiro (planta cultivada).

Por exemplo, isso levou à percepção de que o Trichoderma harzianum, um fungo que pode colonizar raízes de plantas cultivadas, é um micoparasita que controla fungos de raízes como  Botrytis, Fusarium e Penicillium sp. Além de controlar alguns patógenos de raízes, ele também induz respostas imunes contra o patógeno no hospedeiro, tornando o hospedeiro mais preparado para o ataque.

Versatilidade

Assim como os produtos químicos não são utilizados somente para controle de pragas e doenças, como por exemplo os fertilizantes e estimulantes, os produtos biológicos também podem ser utilizados para outras finalidades, que não sejam fitossanitárias.

Alguns desses outros usos de agentes biológicos já são até mais consagrados do que o seu uso como defensivo, como por exemplo, os inoculantes contendo bactérias formadoras de nódulos nas raízes das plantas (rizóbios). Esses trabalham na fixação biológica de nitrogênio, podendo dispensar a adição química desse nutriente.

Outro agente biológico que todos conhecemos e que passa desapercebido por muitos são as minhocas, que trabalham diretamente na estruturação do solo, favorecendo a descompactação e infiltração do mesmo. Portanto, são inúmeras as aplicações que pode se dar aos produtos biológicos, e esses trabalham em conjunto com os produtos químicos de forma a aumentar a produção agrícola, melhorando a qualidade da mesma e auxiliando a reduzir possíveis impactos ambientais gerados pela atividade agrícola.

Manejo de aplicação

Existem dois tipos de uso dos agentes biológicos que podem ser adotados:

Ü Controle biológico clássico: introdução por meio de importação e colonização de predadores ou parasitoides, focando no controle de pragas exóticas, ocasionalmente nativos. A liberação é realizada com um número reduzido de indivíduos por algumas vezes no local, como uma medida de controle a longo prazo, pois a população dos inimigos naturais tende a aumentar com o passar do tempo e, portanto, somente se aplica a culturas especificas como semiperenes ou perenes.

Ü Controle biológico aplicado: trata-se de liberações em massa de predadores ou parasitoides, após criação laboratorial de larga escala. Esse tipo de controle biológico é bem aceito pelo mercado, pois tem um tipo de ação rápida, muito semelhante à de inseticidas convencionais.

Apesar dos dois tipos serem termos mais utilizados para controle de pragas e doenças, pode-se fazer uma analogia do mesmo para os condicionadores de solo, uma vez que se pode inserir pontualmente esses na área de cultivo e propiciar condições favoráveis para que esse se instale na mesma.

Ainda, pode-se fazer a liberação em massa do mesmo na área e propiciar condições para que essa população se mantenha, podendo diminuir gradualmente a quantidade de organismos liberados na área com o passar do tempo.

Técnicas

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Assim como os produtos químicos, a implementação do uso de produtos biológicos é extremamente técnica e exige estudos prévios e acompanhamento de profissionais da área para que se tenha êxito.

Uma característica bastante distinta dos produtos biológicos é a possibilidade da implementação de “biofábricas”, que permitem a multiplicação dos agentes biológicos na própria área de cultivo. A produção do agente biológico “on farm” é um processo que varia muito, dependendo bastante do agente biológico que se pretende multiplicar, sendo que alguns podem ser de simples multiplicação, demandando pouca estrutura e possuindo até mesmo empresas que fornecem estrutura e insumos direcionados para tal atividade. Como exemplo estão os condicionadores de solo, que muitas vezes são baseados em um tanque, onde se dá a multiplicação de microrganismos favoráveis à fertilidade do solo.

Por outro lado, existem agentes biológicos que podem ser multiplicados “on farm”, mas possuem uma demanda técnica bastante alta, exigindo muitas vezes estrutura e mão de obra especializada. Um exemplo são os insetos parasitoides ou predadores, que demandam a multiplicação da sua presa ou hospedeiro, esses servindo de insumo para multiplicação dos agentes biológicos.

Podendo se optar pela compra desses agentes biológicos de empresas especializadas na produção dos mesmos, sendo essa uma opção que pode garantir uma maior qualidade e segurança na utilização da técnica.

Em campo

Um dos usos de maior sucesso de agentes biológicos no Brasil é a Cotesia para controle da Diatraea saccharalis, conhecida como broca da cana-de-açúcar, no qual o manejo ineficiente por meio do controle químico e os danos à cultura resultam em altos custos na produção final da cana, levando a grandes prejuízos em determinados casos.

Sendo assim, o uso das vespas endoparasitoides, conhecidas como Cotesia flavipes, é uma alternativa amplamente utilizada e altamente eficaz. A utilização dessa técnica começa com a análise no campo, verificando a proporção de infestação da praga. Assim, são destinadas quantidades proporcionais à infestação da broca da cana-de-açúcar, de Cotesia flavipes, para eventual liberação e consequentemente controle da praga.

A liberação e amostragem das áreas são um desafio técnico que pode ser compensado, uma vez que o controle da broca da cana-de-açúcar pode atingir até R$ 1.500 por hectare, sendo que a opção de utilização do controle biológico pode ser até 40% menor em relação ao controle químico.

Também, pode evitar perdas de produção derivadas dos meios utilizados para aplicação do controle químico, como o amassamento gerado pelo rodado do trator na pulverização terrestre, perdas por deriva e baixa eficiência de controle, quando utilizada a aplicação aérea em condições não ideais. 

Erros

O uso de agentes biológicos vem sendo estudado para uso comercial desde os anos 70 e, apesar de ter bons resultados em vários casos, até agora não houve uma mudança de paradigma, e o controle químico continua sendo muito mais utilizado.

A principal razão para isso é que o tratamento químico tem sido economicamente superior. Esses produtos têm sido mais baratos para desenvolver e comprar, mais simples de aplicar, eficazes contra uma ampla gama de organismos e resultaram em maior retorno financeiro.

Com o surgimento de várias espécies resistentes e outras deficiências que não são resolvidas com o controle químico, a solução que se tornou economicamente viável é a utilização do controle biológico, que também vem tendo o preço gradualmente reduzido devido à pesquisa e investimento em tecnologia de produção.

A principal preocupação do uso em conjunto dessas duas ferramentas de manejo é a incompatibilidade da mistura dos químicos com os biológicos, fazendo com que ambas as partes se atrapalhem e reduza e eficiência dos mesmos. Outro exemplo é a liberação de organismos como fungos entomopatogênicos e parasitoides, e depois de um período é realizada a aplicação de fungicidas ou inseticidas, controlando esses organismos benéficos para a cultura.

Investimento x retorno

A única forma de evitar esses erros é conhecer as possíveis misturas e interações entre químicos e biológicos. Esses estudos podem ser realizados pelos produtores que visam buscar o uso dessas misturas e também pelos institutos de pesquisa e empresas que comercializam esses produtos.

Um estudo realizado pelo CTC aponta que os gastos com defensivos entre inseticidas e utilização de Cotesia flavipes variam de R$ 36,00 a R$ 128,84 por hectare. Esses valores não levam em conta a mão de obra necessária e consideram apenas uma aplicação. Considerando os menores valores da pesquisa do CTC em uma área de 30 mil hectares, com três aplicações anuais, são R$ 12,6 milhões anuais em gastos apenas com produtos.

O valor pode ser bem maior, já que estimativas do CTC colocam os gastos com controle da broca entre R$ 500 e R$ 1.500 por hectare. Mas há empresas que optam por utilizar apenas o controle biológico, opção que pode ser até 40% mais barata que a utilização de defensivos químicos.

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