Um dos principais desafios do agricultor brasileiro na safra 2021/22 foi o de adequar o orçamento diante dos expressivos reajustes nos preços médios dos insumos. Uma das alternativas possíveis para o agricultor mitigar essa situação, pensando-se no equilíbrio financeiro sem prejuízos à produtividade, diz respeito a redução da adubação. A área de solos, nutrição e sistemas de produção da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), realiza há inúmeras safras pesquisas que demonstram que esse ajuste nem sempre desfavorece o solo e os resultados da lavoura, mas para isso há critérios a serem observados.
Felipe Bertol, mestre em Ciência do Solo e pesquisador de Solos & Sistemas de Produção da instituição, diz que o ponto de partida é ter uma assistência técnica de qualidade e basear todas as decisões no histórico de produtividade das culturas envolvidas no sistema produtivo da área, monitoramento dos teores dos nutrientes através de análise de solo de qualidade, aspectos físicos do solo (textura, densidade, infiltração de água) e boa distribuição de fertilizantes. “É preciso uma análise de solo e caracterização ambiental muito boa e, a partir daí, temos um mundo a explorar”, define.
Poupança de outras safras
Uma orientação genérica para a decisão de reduzir a adubação, segundo o pesquisador, é a lógica da poupança. “Se na safra passada o produtor fez o manejo da adubação com a perspectiva de produzir mais, mas em razão das condições climáticas ele produziu menos, então nesta safra é possível aproveitar o que não foi exportado ano passado. Mas tem que avaliar qual a dinâmica do nutriente a ser poupado, o papel dele na planta e as características do solo, e estando com sobras, a redução pode ser feita com tranquilidade, como é o caso de nutrientes como fósforo e potássio em solos de fertilidade construída”, explica Felipe.
Por outro lado, se o solo é frágil, com textura mais arenosa, é necessário ser ainda mais criterioso com a redução, mesmo que seja uma área com investimento na adubação em toda safra. “É possível reduzir sim, sobretudo em sistemas produtivos com acidez do solo corrigida, ciclagem de nutrientes através de plantas de cobertura na entressafra e boa cobertura vegetal ao longo do ano. Ou seja, é necessário ter maior critério para a redução da adubação, visto a fragilidade do sistema. Isto somente é possível com manejo do sistema bem feito, histórico de cultivos e amostragem de solo de qualidade”, destaca Bertol.
“Num ano como esse, em solos argilosos de alto teto produtivo, se o agricultor tem o histórico, se fez tudo certo, manteve os nutrientes em níveis altos, então possivelmente ele pode trabalhar com redução da adubação, sem impactar na produtividade”, esclarece.
Respostas do solo
Para o agricultor ter clareza se reduz ou tira a adubação, a conta deve ser feita a partir dos níveis de fertilidade do solo, pondera Bertol. “Os níveis baixos, médios, altos e muito altos no solo determinam acurva de resposta e probabilidade de retorno. Um solo que apresenta nível baixo de fertilidade indica que a disponibilidade de nutriente para a planta é baixa, logo se ocorrer o aporte de nutriente via fertilização a probabilidade de resposta produtiva é alta,”, explica.
Já em solos com média e alta fertilidade, a probabilidade de resposta é menor, sendo a probabilidade de resposta baixa ou quase nula, respectivamente. “Nesses solos podemos retirar a adubação com tranquilidade, pois já há uma segurança com a questão de reposição. Agora, em solos da classe média para baixo, pode haver problemas”, alerta