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quinta-feira, março 28, 2024
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Redução de fungos em algodão com algas

Daniele Maria do Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
Marcos Roberto Ribeiro Junior
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
marcos.ribeiro@unesp.br
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e docente – UNESP

O manejo de doenças em plantas ainda representa um desafio quando se almeja uma agricultura mais sustentável. Os produtos químicos sintéticos, amplamente adotados pelos produtores no controle das mais diversas doenças, embora eficientes, são danosos à saúde humana e ao meio ambiente.
A cada ano observamos um aumento na área tratada com defensivos agrícolas. Para 2021, as estimativas apontavam em torno de 10% a mais de vendas do setor de agroquímicos.

Obstáculos

O constante crescimento das aplicações de defensivos nas lavouras nos traz algumas preocupações. Esses produtos podem persistir nas camadas superiores do solo e lixiviar para águas subterrâneas, além de não apresentarem seletividade aos organismos benéficos.
Produtos naturais, por sua vez, são menos prejudiciais ao meio ambiente por serem biodegradáveis. Esses compostos podem auxiliar no desenvolvimento de novos produtos a serem usados no manejo de doenças em cultivos orgânicos, por exemplo. E é nos mares e oceanos que encontramos um potencial aliado: as macroalgas, que podem ser classificadas em algas verdes (Chlorophyta), marrons (Phaeophyta) ou vermelhas (Rhodophyta).
As macroalgas são excelentes fontes de compostos bioativos, que apresentam atividade antibacteriana e antifúngica. Extratos de macroalgas marinhas são usados como condicionares de solo, visando o aumento de produtividade e como estimuladores de plantas.
Quando aplicados via pulverização foliar, podem promover maior crescimento de plantas expostas ao congelamento, seca e habitats salinos; resistência a fungos, bactérias e vírus, e maior rendimento e produtividade em várias culturas.
São também compostos versáteis; a macroalga marrom Ascophyllum nodosum, por exemplo, é usada como biofertilizante do solo, agente condicionador, suplemento alimentar animal e humano.

Atividade antifúngica das algas

Extratos de algas naturais apresentam uma vantagem em relação aos fungicidas sintéticos usualmente empregados: são mais seguros e não impactam o meio ambiente. O composto laminarina (β-1,3-glucana), derivado da alga marrom Laminaria digitata, induz mecanismos de defesa na videira, protegendo-a contra os agentes causais do mofo cinzento (Botrytis cinerea) e míldio (Plasmopara viticola).
Em solos naturalmente infestados com fungos causadores de podridão de raízes (Fusarium solani, F. oxysporum e Macrophomina phaseolina), a aplicação de pó de microalgas marinhas protegeu plantas de berinjela e melancia da infecção por esses patógenos.
Extratos das algas marrons Cystoseira myriophylloides, L. digitata e Fucus spiralis reduziram a severidade da murcha de verticílio (Vertillicium dahliae) e também da bactéria causadora da galha das coroas (Agrobacterium tumefaciens) em tomateiro.

Ação e reação

O mais provável mecanismo de ação é a indução de resistência, uma vez que as plantas tratadas apresentaram níveis elevados de enzimas relacionadas à defesa. Em testes in vitro, realizados em laboratório, confrontando-se os patógenos diretamente com os extratos de algas, os mesmos não inibiram o crescimento fúngico e bacteriano.
Em conclusão, as microalgas marinhas são um importante recurso natural que pode ser usado em larga escala no controle dos mais diversos patógenos que infectam plantas.

Pesquisas

Na Europa e Estados Unidos, é comum o uso de extratos de algas em culturas perenes e anuais e, até então, importávamos algas desses países. A Embrapa Agroenergia, em parceria com a Embrapii e Dimiagro, vêm buscando adaptar a produção de algas encontradas na costa brasileira, reduzindo assim os custos que tínhamos com as importações.
Segundo César Miranda, pesquisador da Embrapa Agroenergia, algas de áreas tropicais também produzem fitohormônios e, por apresentarem um crescimento acelerado, o processo de extração desses hormônios é facilitado.
Quando aplicadas às culturas de interesse agronômico, promovem maior crescimento das raízes e resistência a algumas pragas e doenças. Aumentos na produtividade em torno de 10 a 15% já foram relatados com o uso de biofertilizante à base de algas.

Mercado

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Já temos bons produtos à base de algas marinhas disponíveis no mercado e produtores do Brasil vêm aderindo a essa nova tecnologia. No interior de Goiás, produtores já utilizam biofertilizante à base da alga vermelha Lithothamnium em lavouras de milho, tendo obtido um aumento de até 3,0 mil toneladas/ha na produção.
Um outro fertilizante, dessa vez composto pela espécie A. nodosum, também vem apresentando bons resultados nessa cultura. Incrementos de 47% no crescimento radicular e 62% no número de grãos já foram registrados. Esses produtos podem ser misturados no tanque e aplicados juntamente com os demais fertilizantes e defensivos usados na lavoura.
Uma outra cultura para a qual ainda não foram realizados testes em larga escala a campo, mas que pode se beneficiar desses compostos, é o algodoeiro.

Pesquisas

Pesquisas realizadas na Índia com extratos de alga comprovaram a eficiência deste composto natural no controle de doenças fúngicas do algodoeiro. Extratos de Caulerpa scalpelliformis, Caulerpa veravalensis, Ulva lactuca e Ulva fasciata inibiram o crescimento de F. solani, um dos patógenos responsáveis pelo tombamento de plântulas nessa cultura.
Em outro estudo, dessa vez realizado por pesquisadores da University of Karach, no Paquistão, oito espécies de algas foram transformadas em pó e aplicadas na linha de plantio (35 g/metro), em solos naturalmente infestados por fungos.
No tratamento controle (sem aplicação de algas ou fungicidas), a incidência de M. phaseolina, R. solani e F. solani era de 25%, 31% e 25%, respectivamente. Esses índices baixaram para 0%, no caso de M. phaseolina e R. solani, e 18% para F. solani, no tratamento com Solieria robusta. A termos de comparação, nem mesmo o tratamento com carbofuran reduziu totalmente a infecção por tais patógenos.
Os fungos estudados são importantes patógenos para a cultura do algodoeiro e o maior desafio em relação a seu controle é que eles podem sobreviver no solo. Rotação de cultura com plantas não hospedeiras, uso de cultivares resistentes e o tratamento de sementes com fungicidas são geralmente os métodos de controle mais utilizados para essas doenças.
Como demonstrado, esses fertilizantes que vêm do mar são uma alternativa aos fungicidas no manejo desses patógenos. O desafio agora é adaptar essa tecnologia para as condições brasileiras, iniciando pesquisas com algas obtidas em nossas regiões.
As algas marinhas e seus extratos podem ser aliados valiosos na agricultura orgânica e em lavouras que almejam uma agricultura mais sustentável.

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