Autores
Ana Cláudia da Silva Mendonça – anac_mendonca@hotmail.com
Lucas Pereira da Silva / Bruna Cristina de Andrade –Engenheiros agrônomos e mestrandos em Agronomia – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
A tecnologia aumenta a eficiência da absorção de nutrientes, portanto, reduz quantidade de adubo e aumenta produtividade
As plantas necessitam da disponibilidade de nutrientes ao longo de todo o seu ciclo. Em cada fase existe um combinado de nutrientes que são requisitados. No geral, as fases reprodutivas são as que mais exigem adubação.
Muitas vezes o produtor rural não atento a essa necessidade faz uma adubação única no início da cultura, gerando assim perdas em produtividade e insumos. Um exemplo disso é o nitrogênio.
As plantas absorvem menos de 50% do nitrogênio que é fornecido por meio da adubação mineral – o parcelamento ameniza as perdas, favorecendo a produção pelo aumento do aproveitamento pelas plantas, mas aumenta os custos com tratos culturais para o produtor rural. Pensando em diminuição de custos e aumento da eficiência de adubação, foram desenvolvidos os fertilizantes inteligentes.
Quem são eles
Os fertilizantes inteligentes são uma tecnologia que tem por objetivo aumentar a eficiência do adubo adicionado ao solo, principalmente dos nitrogenados, que quando aplicados em apenas uma dose resultam em grande concentração deste elemento nos primeiros estágios de crescimento e pouca quantidade em fases posteriores, diminuindo a produtividade da cultura.
A tecnologia consiste na liberação lenta ou controlada do adubo. Sendo assim, temos os fertilizantes de liberação controlada (FLC), que possuem padrão e duração da liberação conhecidos; e os fertilizante de liberação lenta (FLL), em que o padrão de liberação é dependente do solo e das condições climáticas, não podendo ser previsto no tempo.
Redução de perdas de nutrientes
Os nutrientes são perdidos por lixiviação, escorrimento superficial e por volatilização. Segundo a International Fertilizer Industry Association, as proporções médias de nutrientes dos fertilizantes absorvidas pelas culturas estão entre 50 e 70% de nitrogênio, 15 e 30% de fósforo e 50 e 70% de potássio.
Sendo assim, em todos os nutrientes muito é perdido. Estudos realizados em campo e laboratório com fertilizante nitrogenado demonstram que o fertilizante inteligente volatiliza menos, comparado à ureia convencional, que costuma volatilizar cerca da metade da quantidade aplicada.
Outra forma de redução das perdas é a disponibilização mais eficiente do nutriente. Agronomicamente falando, a melhor forma de se disponibilizar nutrientes é seguindo uma curva sigmoidal, pois ela atende as épocas de maiores demandas das principais culturas, e reduz perdas por lixiviação e volatilização.
Para que isso ocorra, os fertilizantes de liberação lenta buscam a liberação gradual dos nutrientes por vários meios, como o uso de materiais de baixa solubilidade com estruturas complexas biodecompostas, que agem como barreira física, ou seja, revestimento por materiais inorgânicos; com baixa área de contato, diminuindo a velocidade das reações, como super grânulos e organominerais.
Os nutrientes são perdidos por lixiviação
Nitrogênio – As plantas absorvem de 50 a 70%
Fósforo – As plantas absorvem de 15 a 30%
Potássio – As plantas absorvem de 50 a 70%
[rml_read_more]
As plantas absorvem menos de 50% do nitrogênio que é fornecido por meio da adubação mineral
Fontes de ureia revestida com polímeros apresentaram acréscimos de produtividade de 15%
Aditivos
De forma geral, a tecnologia aplicada aos fertilizantes nitrogenados estabilizados consiste em adicionar aditivos capazes de inibir a transformação do nitrogênio em formas voláteis ou facilmente lixiviadas, além de haver substâncias que aumentam o tempo em que o nitrogênio permanece em uma determinada espécie, seja ela ureia ou amônio.
Já os de liberação lenta ou controlada têm em sua tecnologia solubilidade controlada do material em água devido a revestimentos semipermeáveis, obstrução, materiais proteicos ou outras formas químicas, por hidrólise lenta de compostos de baixo peso molecular solúveis em água, ou por outros meios desconhecidos.
Como implantar a técnica
Para a adoção da técnica, é importante adotar um planejamento nutricional. Para isso, é necessária uma análise de solo representativa da área. Ressaltando que a implantação dessa nova tecnologia só é eficiente quando se conhece a real necessidade do solo. Sendo assim, deve ser determinada corretamente a profundidade de amostragem, de acordo com a cultura e a realização de uma amostra composta que represente a área em questão.
O adubo inteligente deve ser usado em substituição ao adubo convencional na implantação da cultura de plantas anuais e perenes. Para isso, eles podem ser utilizados na cova, que tem a vantagem de não aumentar o potencial osmótico, como ocorre em adubos convencionais e com a possibilidade de fazer aplicação em dose única para as culturas anuais, sem interferir na germinação das sementes.
Posteriormente, deve ser analisada a necessidade do uso de adubo em cobertura no caso de anuais. Já para as perenes, deve ser determinada a necessidade de parcelamento da adubação.
Vantagens
Em se tratando de plantas perenes, a vantagem do uso de fertilizantes inteligentes está na menor dependência dos períodos de chuvas para montar seu cronograma de adubação. Em exemplos práticos, na citricultura, estudos realizados na cultivar Valência, com a utilização destes adubos a frequência de aplicação pode ser reduzida de seis para duas vezes, com nenhum efeito adverso sobre o crescimento das plantas.
Em termos de dosagem, não existe um padrão. Os adubos inteligentes variam muito em sua formulação disponível no mercado e material, ou seja, para cada caso se faz necessário uma dosagem, devido a fatores como cultura e região, material genético, condição de solo e clima.
Em termos de produtividade
A principal vantagem dessa tecnologia é manter a produção usando uma menor quantidade de adubo e diminuir os tratos culturais (devido ao uso de dose única ou por diminuição da frequência de adubação), mas existe também o incremento de produtividade, quando bem executado o manejo nutricional.
Em culturas perenes, como é o caso do café, existem trabalhos onde o aumento foi de até 6,0 sacas ha-1. Já para culturas anuais, como é o caso do milho, fontes de ureia revestida com polímeros apresentaram acréscimo de produtividade superiores a 5,3%. Quando o adubo utilizado foi ureia revestida com polímeros policote, o acréscimo foi ainda maior, 14,8%.
Outra vantagem da tecnologia é a produção de mudas florestais e frutífera. Nesse nicho de mercado, o aumento não é em produtividade, mas sim em qualidade de muda produzida. As vantagens estão no melhor enraizamento e aumento no volume de copa formado.
como é o caso do milho, fontes de ureia revestida com polímeros apresentaram acréscimo de produtividade superiores a 5,3%. Quando o adubo utilizado foi ureia revestida com polímeros policote, o acréscimo foi ainda maior, 14,8%.
Em campo
No campo, essa tecnologia proporciona a melhor absorção dos nutrientes e a necessidade de uma menor frequência de adubação, ou seja, ela tem como vantagem a menor necessidade de mão de obra, diminuição do custo com combustível, aumento da flexibilidade de trabalho da propriedade, menor dependência de condições meteorológicas, menos tráfego no campo, diminuindo o risco de compactação do solo, menor risco de perda de time de aplicação.
Sendo assim, em termos de manejo, o uso da tecnologia traz uma maior comodidade e facilidade ao produtor rural. Como desvantagem temos o maior custo, o que pode dificultar a adoção da tecnologia, atualmente tornando-a mais comum no cultivo de plantas perenes.
Ademais, temos resultados encorajadores nas plantas perenes, pois o fertilizante pode ser adicionado no fundo da cova ou onde haverá o maior desenvolvimento de raízes no sulco de plantio facilitará a absorção contínua e, consequentemente, um maior e mais constante desenvolvimento das árvores.
Erros mais frequentes
O maior erro do produtor, neste âmbito, é não seguir as recomendações de um técnico, pois isso pode acarretar em menor produtividade, em caso de descompasso com o que já foi estudado, testado e recomendado. Dois extremos são comuns no uso do fertilizante de liberação controlada – produtores que usam superdosagem e os que diminuem a dosagem.
Alguns produtores podem não acreditar na maior eficiência do produto e aplicar a dose de um fertilizante convencional, gerando perda econômica, já que não existirá sistema radicular para absorver todo o fertilizante disponível ou ainda gerar um excesso que não pode ser corrigido. Outro caso são os produtores que querem economizar e diminuem a dosagem, ocorrendo assim menor produtividade.
Para evitar menores produtividades ou menor rentabilidade final da cultura, deve-se seguir todas as recomendações do técnico responsável pela propriedade. Existem diferentes tipos de adubos inteligentes, os de liberação lenta e os de liberação controlada. Neles, a tecnologia aplicada de recobrimento de partícula é variável, até mesmo dentro de uma mesma categoria existe diferença de metodologia aplicada para gerar o controle da liberação, interferindo no desempenho do fertilizante e na quantidade recomendada.
O profissional só conseguirá realizar uma recomendação adequada se sua amostragem de solo representar sua área corretamente, tornando isso um ponto-chave.
Investimento – na ponta do lápis
O preço dos insumos está diretamente relacionado às oscilações no mercado nacional e internacional. Variações no preço do dólar ou falta de matéria-prima trazem oscilação dos valores. Só no mercado de fertilizantes nitrogenados estima-se que 73% do nitrogênio sejam importados pelo País, tornado o preço muito instável.
Sendo assim, o custo do fertilizante inteligente viraria sazonal e regionalmente, podendo chegar a custar cinco vezes mais que um convencional. Entretanto, quando ocorre aumento do preço de fertilizantes convencionais, há diminuição na lacuna entre o preço do fertilizante inteligente, tornando mais viável o seu uso.
Custo-benefício
Em se tratando do uso de adubos inteligentes, existe um maior valor agregado no produto, ou seja, o custo de aquisição é maior, mas isso pode ser compensado pelo uso de uma menor dosagem e pelo menor custo operacional.
Em estudos econômicos realizados na cultura do café, temos que existe um maior investimento inicial gerado pelo valor do fertilizante, mas o lucro líquido final é maior, pelo acréscimo em produtividade e menor gasto operacional, mostrando assim que, atualmente, o melhor nicho de mercado está nas culturas perenes para essa tecnologia.