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Relevos montanhosos

Camila Queiroz da Silva Sanfim de Sant’AnnaEngenheira agrônoma e doutoranda em Produção Vegetal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiroagro.camilaqs@gmail.com

Relevos – Créditos: Pretaterra

Sistemas Agroflorestais (SAF) constituem opções simultâneas ou sequenciais de cultivo de árvores com culturas agrícolas, mais comumente, e/ou animais. Esses sistemas têm a capacidade de contribuírem com o aumento do potencial de produção e sustentabilidade do agroecossistema.

Os SAF são uma alternativa de uso da terra bastante viável quanto aos aspectos agronômicos dos cultivos envolvidos, na geração de diferentes fontes de renda, no aumento da diversidade, contribuindo para o aspecto ecológico, aumento da sintropia (relações benéficas e positivas entre os indivíduos), na capacidade produtiva e na redução dos impactos negativos provenientes de manejos inadequados.

A partir de uma avaliação do local a ser implantado, esse tipo de sistema se adequa às mais diferentes condições de topografia. O uso em áreas de relevo montanhosos tem sido uma opção cada vez mais recorrente e ecologicamente viável, visto que são fortemente influenciadas por processos erosivos, podendo ser potencializados pelo tipo de solo, cobertura vegetal, uso e respectivo manejo, implicando, deste modo, no comprometimento dos recursos naturais e afetando diretamente a produção econômica.

Sendo assim, os Sistemas Agroflorestais em locais de relevos montanhosos demonstram-se uma alternativa a fim de evitar a desestabilização desses solos, evitando os processos erosivos, além de colaborarem com inúmeros outros benefícios.

Benefícios do plantio

A alta diversidade encontrada nos SAF devido aos diferentes extratos vegetais permite variação, aumento e escalonamento da produção; melhor eficiência no aproveitamento dos fatores climáticos (luz, nutrientes, água, por exemplo); estímulo da atividade biológica, ciclagem de nutrientes e promoção de biomassa; como também a manifestação do controle biológico realizada por inimigos naturais, além da melhoria do clima local, do favorecimento da manutenção hídrica e da segurança alimentar.

Como implantar

Para a implantação dos Sistemas Agroflorestais, é necessário realizar o diagnóstico da área, levando em conta estudos prévios sobre a caracterização local, problemas existentes e potenciais; análise econômica, considerando quais culturas introduzir, custos, receitas de acordo com a sazonalidade dos ciclos de produção; caracterização do arranjo das plantas no sistema e  disponibilidade de mão de obra para o manejo.

Basicamente, o desenho de um SAF é composto de linhas de árvores (frutíferas ou florestais) intercaladas com linhas de culturas de interesse, geralmente de maior rotatividade.

A distribuição dos componentes é realizada dispondo as plantas, segundo ciclos de crescimento, sistema radicular e porte distintos; utilizando espaçamento adequado e observando as necessidades de cada grupo ecológico, a fim de que não haja influência negativa de uma espécie sobre a outra, ou seja, competição.

Um desenho agroflorestal ideal é aquele em que as plantas consigam se beneficiar, explorando perfis distintos (vertical e horizontal) e otimizando ao máximo os recursos disponíveis.

Resultados práticos

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 O sucesso do Sistema Agroflorestal é notório e cada vez mais expansivo, no entanto, informações quanto ao seu uso em locais declivosos são ainda incipientes, embora seus benefícios já sejam comprovados. Um exemplo prático do uso do SAF em locais com declive bastante proeminentes foi realizado pela equipe da Pretaterra, implantado nas montanhas peruanas – Pichanaki, em declives superiores a 45% um SAF, em áreas de aproximadamente 1,0 hectare, contendo linhas a cada cinco metros de árvores e, dentro destas, as espécies de interesse – gengibre – espaçadas 2,5 m x 2,5 m. As linhas de serviço foram compostas por banana e ingá alternadas, e as linhas de árvores frutíferas (jaca, cacau) e madeira (mogno, cedro).

O sistema implantado foi de grande importância para a melhoria do solo, para aumento da biodiversidade e para diversificação da produção. Estes locais antes estavam sob fortes prejuízos, devido ao cultivo em monocultura, sem realização de curva de nível, utilizando agrotóxicos para o manejo, além do uso da coivara (derrubada e queima da biomassa).

Cabe ressaltar que se deve atentar cuidadosamente à disposição das espécies nesses sistemas em declive, além da importância do uso em curva de nível para a preservação do solo.

Erros mais frequentes

Embora seja um sistema em que as plantas contribuem umas com as outras, vivendo de forma harmônica, os SAF necessitam de acompanhamento periódico para que se observe, no sistema, a necessidade de intervenção quanto ao excesso de sombreamento, a necessidade da reposição do aporte de matéria orgânica no solo, além da substituição de cultivos de ciclos mais rápidos.

Ademais, outros fatores que podem implicar em erros do sistema consistem no mal planejamento, sem selecionar as espécies conforme suas necessidades edafoclimáticas, além da não observância dos efeitos sinergético ou alelopático entre os cultivos.

Custo x benefício

Um estudo feito por Maurício Rigon Hoffmann com relação à análise econômica de alguns SAFs destinados para agricultura familiar, comparando dez distintos empreendimentos com monocultivo, observou que os Sistemas Agroflorestais, além de economicamente viáveis, apresentaram taxas de retorno interno superiores a 50% nos primeiros cinco anos.

Em avaliações realizadas por Marcos C. Neves e colaboradores, na Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), verificaram que o custo de implantação foi de R$ 10.372,67/ha, sendo 38,2% relacionado à aquisição de mudas, seguido por custo de máquinas (26,4%) e mão de obra (22,6%).

Este último pode ser reduzido com o uso de mão de obra própria, assim como de produção de mudas dentro da própria propriedade.

Os custos de manejo, nos primeiros anos, foram cerca de 80%, no entanto, é um valor declinante, conforme o desenvolvimento das plantas. São valores que se diluem ao longo dos anos de exploração do sistema.

Deste modo, comprovadamente a implantação de Sistemas Agroflorestais é uma viável alternativa quanto aos benefícios relacionados à biodiversidade, à rentabilidade, assim como redução dos custos de produção, ressaltando que, quanto menor a dependência de aporte externo, menor esse custo, e a competitividade de mercado em comparação à monocultura.

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