

Daniel Pena Pereira
Doutor em Solos e Nutrição de Plantas e professor – IFTM, Uberaba, MG
danielpena@iftm.edu.br
Nilton César Fielder
Doutor e professor – UFES, Jerônimo Monteiro, ES
nilton.fiedler@ufes.br
Renival Almeida Carvalho
Mestrando em Produção Vegetal – IFTM
renival.carvalho@estudante.iftm.edu.br
A fumaça de incêndios florestais tem um impacto significativo na fisiologia das árvores. Quando expostas à fumaça, muitas plantas reagem fechando seus estômatos – pequenas aberturas presentes na superfície das folhas que controlam a troca gasosa com o ambiente.
Essa resposta é uma estratégia de proteção das árvores para evitar a entrada de gases potencialmente tóxicos presentes na fumaça. No entanto, ao fechar seus estômatos, as árvores interrompem a fotossíntese e a respiração, levando a impactos significativos no seu crescimento e metabolismo.
Entenda o processo
Os estômatos são fundamentais para a regulação da absorção de CO2, essencial para a realização da fotossíntese, e para a liberação de vapor d’água no processo conhecido como transpiração.
Na Amazônia, as árvores geralmente exibem taxas de crescimento e assimilação de carbono mais altas durante a estação chuvosa, com o ecossistema florestal atuando como um sumidouro de carbono, exceto durante anos mais secos.
Por outro lado, na época seca ocorrem os incêndios florestais que produzem fumaça que pode afetar significativamente a fisiologia das árvores e a dinâmica do ecossistema. A exposição à fumaça pode reduzir a capacidade fotossintética em mais de 50% em espécies decíduas e coníferas, com árvores caducifólias geralmente mostrando maior sensibilidade.
Em campo
Estudos de campo mostram que a exposição à fumaça de incêndios pode levar ao fechamento prolongado dos estômatos, que pode durar desde algumas horas até vários dias, dependendo da intensidade e duração da exposição.
Esse comportamento equivale a “prender a respiração”, uma vez que a árvore evita tanto a entrada de poluentes quanto a liberação de compostos orgânicos voláteis (VOCs), que têm um papel importante na comunicação da planta com o ambiente.
Esses compostos estão envolvidos nas respostas das plantas a estresses bióticos e abióticos. Na fumaça do fogo, certos VOCs, como benzeno, tolueno e naftaleno são encontrados em concentrações mais altas, potencialmente podendo reduzir taxas de crescimento e a atividade da fotossíntese.

Ao prejudicar as trocas gasosas, afeta a capacidade das árvores de converter o CO2 em carboidratos, que são fundamentais para o crescimento e a sobrevivência das plantas. Além disso, a ausência de trocas gasosas prolongadas pode levar ao aumento da temperatura interna das folhas, o que potencializa o estresse térmico e pode causar danos irreversíveis aos tecidos foliares.
Alerta
Outro ponto relevante é que a frequência e a intensidade crescentes dos incêndios florestais, muitas vezes associados às mudanças climáticas, têm aumentado a exposição das árvores à fumaça.
Isso tem implicações a longo prazo não apenas para o crescimento individual das plantas, mas também para a dinâmica dos ecossistemas florestais como um todo. A redução na capacidade fotossintética das árvores afeta diretamente o sequestro de carbono, um fator crucial na regulação do clima global.
Em síntese, o fechamento dos estômatos em resposta à fumaça de incêndios florestais é uma estratégia de sobrevivência das árvores que, embora eficiente para minimizar danos imediatos, compromete processos fisiológicos vitais, como a fotossíntese e a transpiração.
Esse fenômeno tem impactos profundos no crescimento das plantas e na dinâmica dos ecossistemas, especialmente em um cenário de frequência crescente de incêndios. Pesquisas futuras são necessárias para entender melhor os mecanismos envolvidos e desenvolver estratégias de manejo que possam mitigar os efeitos negativos da fumaça sobre as florestas.