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Francisco Soares Neto
Diretor-presidente da TMG
A sojicultura é hoje, no Brasil, a atividade com o maior giro financeiro em toda a cadeia do agronegócio. A crescente demanda mundial por alimento e as condições de clima e solo favoráveis para o cultivo de soja encontradas no Brasil fizeram com que essa leguminosa fosse plantada em grande escala de norte a sul do País.
O aumento da área plantada só foi possível com o desenvolvimento de cultivares cada vez mais adaptadas às condições do Sul do País e, principalmente, do cerrado brasileiro (região onde, pela origem de clima temperado da soja, no início do cultivo comercial da cultura, não era possível alcançar boas produtividades).
Portanto, o primeiro trabalho da pesquisa foi “tropicalizar“ a soja, procurando melhorar sua adaptabilidade entre os trópicos, ou seja, no cerrado brasileiro. AÃ vem a origem do nome “Tropical Melhoramento & Genética“.
Conquistada essa abrangência de adaptação, a busca por produtividade foi e é intensa, sendo um fator primordial para o sucesso de uma cultivar ou de um programa de melhoramento.
Com o crescimento da cultura, agora em âmbito nacional, era esperado que a ampla utilização e plantio causassem desequilíbrios de pragas e doenças, algumas limitantes ao cultivo, como por exemplo, o “cancro da haste“. A pesquisa logo identificou o fungo causador e, por meio de melhoramento genético, foram obtidas variedades resistentes a essa doença, que hoje praticamente não causa mais danos à cultura em questão.
Evolução
O cancro é um exemplo da rapidez que a pesquisa e melhoramento trabalham para resolver os problemas causados pela “quase“ monocultura instalada nas lavouras em nosso País. Esse problema de falta de opções de espécies para rotação de culturas se agrava nos cerrados onde a soja plantada no verão, em primeira safra, é a única capaz de trazer a viabilidade econômica para o agricultor.
Por esse motivo, em minha opinião, apesar da sucessão com milho safrinha (segunda safra) ser uma prática complementar e rentável, não classifico como uma rotação de culturas, pois as duas (soja e milho) acontecem no período de um mesmo ano agrícola, o que configura uma sucessão, e não uma rotação de culturas.
Pressão de doenças
Sem a rotação de culturas, a pressão pelo aparecimento de novas pragas e doenças intensifica, trazendo mais trabalho aos nossos melhoristas. O aparecimento de doenças de solo, nematoides, com destaque para o NCS (nematoide de cisto da soja) foi um outro desafio e, hoje, temos opções de controle com variedades resistentes fornecidas por nosso foco no melhoramento para mitigar o problema.
A ferrugem asiática da soja é outro bom exemplo de doença foliar, extremamente agressiva, que causou prejuízos altÃssimos, com necessidade de várias aplicações de fungicidas. Os melhoristas da TMG descobriram genes naturais de resistência e conseguiram chegar a variedades menos sensíveis a essa doença, e hoje esses materiais são importantes ferramentas para ajudar no controle dela.
Opções comerciais
O mercado, como um todo, lança mais de 100 cultivares ao ano, buscando sempre atender às exigências dos produtores e consumidores finais.
As empresas produtoras de sementes têm como base principal a produtividade associada à resistência a doenças. Sabemos que ser produtiva é pré-requisito para o produtor plantar determinada semente, mas nos esforçamos para agregar valores que tragam segurança e economia ao produtor para que ele possa garantir uma colheita rentável.
O trabalho é árduo, pois é difícil chegar a uma cultivar perfeita, com todos os atributos de produtividade e resistência a doenças e nematoides, numa mesma planta, porém, é isso que procuramos – quanto mais “completa“ melhor.
Também temos que levar em conta os eventos biotecnológicos hoje disponíveis no mercado, que trazem benefícios ao agricultor. Portanto, combinar toda a carga genética de tolerâncias e resistências a doenças e pragas com eventos biotecnológicos com entrega de produtividade é exatamente o nosso foco, e não é fácil.
Ganho produtivo
Há 14 anos a média de produtividade brasileira está estagnada em aproximadamente 3.000 kg/ha. Atribuo isso a fatores de manejo (a monocultura é um deles), novas doenças e pragas surgindo e a dificuldade de combinar todas as características desejáveis que a planta precisa para cumprir sua função e entregar produtividade.
Acredito que estamos vencendo esse período de estagnação e voltaremos a crescer em produtividade por área. Mas, para que o produtor consiga aproveitar o potencial genético das cultivares de soja, teremos que ter total suporte de pesquisa agronômica para melhorar as condições de manejo de nossas lavouras.