Autores
Jéssica E. R. Gorri – Doutoranda em Proteção de Plantas e professora – Faculdades Integradas de Taguaí – FIT – gorrijer@gmail.com
Natalia Oliveira Silva – Doutoranda em Produção Vegetal – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Rodrigo Donizeti Faria – Doutorando em Proteção de Plantas – Unesp – Botucatu
Wanessa de Oliveira Queiroz – Graduanda em Engenharia Agronômica – FIT

Os nematoides de galhas (Meloidogyne spp.) tornaram-se um grande desafio para todos os produtores de café arábica. Mais de 15 espécies de nematoides do gênero Meloidogyne foram encontrados como patógenos do café. Entretanto, Meloidogyne exigua é especialmente comum na América Latina, onde tornou-se uma grande preocupação dos cafeicultores.
M. exigua, além de ser a espécie de maior disseminação nos cafezais, tem outras plantas hospedeiras, como o cacau, cebola, melancia, pimentão e algumas plantas daninhas, sendo elas a trapoeraba, guanxuma, tiririca e maria-preta.
Esses nematoides, ao saírem do ovo com auxílio do seu estilete, vão para o solo, iniciando a sua fase infectiva. Neste período, eles migram em direção às raízes das plantas hospedeiras. Após sua penetração, o nematoide movimenta-se em direção ao tecido vascular, onde estabelece o seu sítio de alimentação, introduzindo substâncias que alteram as células vegetais das raízes.
Essas células aumentam de tamanho, formando as células gigantes, que conhecemos como galhas, resultando em menor crescimento e desenvolvimento das plantas, e até mesmo podendo ocasionar sua morte, o que gera grandes perdas significativas na produção.
Formas de controles
Dentre as formas de controle dos nematoides no cafeeiro, o controle químico pode apresentar desvantagens, como a contaminação do ambiente e do aplicador. Sendo assim, torna-se necessário a adoção de técnicas que minimizem o uso desses produtos.
Entre as opções disponíveis para manejo de nematoides na cultura, destaca-se a resistência genética. Apesar de existirem poucas cultivares de café com níveis elevados de resistência aos nematoides, essa resistência pode ser induzida por meio da ativação de mecanismos de defesa ou pelo menos de parte dela na planta.
Silício como aliado
O adequado manejo da nutrição mineral exerce efeito direto no crescimento, desenvolvimento e na produção do cafeeiro e, além disso, pode auxiliar na indução da resistência genética e/ou tolerância no ataque de nematoides.
O silício (Si) é um dos elementos mais utilizados para esse fim, e apesar de não ser considerado um micronutriente essencial para as plantas, a sua absorção poderá provocar modificações na anatomia das plantas, como a presença de células mais espessas, lignificadas ou silicatadas, o que constitui uma barreira física, dificultando a penetração e poderá também acarretar em atraso no desenvolvimento do nematoide pela modificação da parede celular.
Além disso, o Si poderá ativar mecanismos específicos da planta, como produção de substâncias inibidoras ou repelentes e compostos antimicrobianos que agem direta ou indiretamente sobre os nematoides.
Fontes
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No Brasil, as principais fontes de Si são os silicatos de cálcio e magnésio. Além das vantagens atribuídas ao controle de nematoides, os silicatos podem atuar como corretivo no solo, fonte de cálcio, magnésio, fósforo e micronutrientes, aumentar saturação por bases e, consequentemente, diminuir a saturação por bases de alumínio.
A aplicação dos silicatos no cafeeiro pode ser realizada na forma sólida (pela incorporação em área total ou aplicação nas linhas de plantio) ou líquida (via solo ou via foliar). Portanto, deve ter atenção na fonte escolhida, pois é necessária a retirada dos metais pesados, e as fontes podem apresentar altas concentrações, e provocar sérios problemas na cultura e ambientais, quando não utilizadas de maneira inadequada.
Como introduzir a técnica na lavoura
A dose a ser recomendada para a lavoura depende principalmente da fonte utilizada e da forma de aplicação. Estudos mostram que as fontes sólidas em pó e aplicadas a lanço podem ser 1,5 a 2,0 t ha-1 de silicato de cálcio, e em os solos que foram submetidos à correção deve ter atenção especial, e a dose não deverá ultrapassar 800 kg ha-1.
Em relação às fontes granuladas, aplicadas diretamente no sulco de plantio, as doses podem variar de 0,5 a 0,8 t ha-1. Em casos da aplicação via foliar, as doses recomendadas variam entre 1,0 a 8,0 L ha-1.
A aplicação dos silicatos deve ser realizada na época de maior exigência nutricional do cafeeiro, que compreende dos meses de setembro a março, depois da colheita e início da vegetação.
Redução do nematoide de galhas
O silício pode contribuir para a indução de resistência, evitando perdas de 30 a 45% ocasionadas por M. exigua. Dos poucos trabalhos realizados quanto à densidade de manejo do nematoide e os danos ocasionados à cultura, destaca-se o trabalho feito no Norte do Estado do Rio de Janeiro no ano de 2004 em lavouras de cinco anos de produtividade revelaram que a presença de 10 a 15 nematoides (J2)/100 cm3 de solo causaram 13% de perda na produção do cafeeiro arábica, podendo atingir 30% de perda na ocorrência de mais de 40 nematoides (J2)/100 cm3 de solo. Em determinadas regiões as perdas na produtividade podem chegar a 45%.
Em 2010, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (Silva et al., 2009) estudaram cultivares de café arábica Catuaí 144 (suscetível a M. exigua) e Iapar 59 (resistente a M. exigua) cultivados em vasos contendo solo com silicato de cálcio (+Si) ou carbonato de cálcio (-Si).
As plantas foram avaliadas 150 dias após a inoculação e mostraram que o número de galhas e de ovos diminuiu significativamente 16,8 (+Si) e 28,1% (-Si), para a cultivar suscetível, no qual os pesquisadores concluíram que o fornecimento de silício aos cafeeiros aumenta a resistência das raízes contra M. exigua, diminuindo sua capacidade reprodutiva.
Para a cultivar Iapar 59, o silício não teve nenhum efeito na redução de galhas ou ovos, mas é importante ressaltar que quando cultivares resistentes são utilizadas por produtores, fontes de silício podem desempenhar um papel importante na redução do nível de inóculo de nematoides no solo.
Erros mais frequentes
Entre os erros mais comuns cometidos por cafeicultores é a identificação e constatação de M. exigua na propriedade. Esta espécie pode ser separada em raças fisiológicas com base na capacidade de reprodução em diferentes hospedeiros. Assim, considera-se:
- Raça 1: indivíduos que infectam apenas o cafeeiro;
- Raça 2: indivíduos que infectam o cafeeiro, o pimentão e o tomateiro;
- Raça 3: indivíduos que infectam apenas a seringueira.
Medidas necessárias para evitar que os nematoides se espalhem pela lavoura, como limpeza de equipamentos, erradicação de plantas e controle de plantas daninhas hospedeiras devem ser rotineiros. Em regiões com histórico de ocorrência de M. exigua o produtor deve preferencialmente plantar cultivares resistentes e sempre consultar um engenheiro agrônomo(a).
Importante sobre o silício
Profissionais da área de fitossanidade e nutrição de plantas devem estar envolvidos na escolha quanto às dosagens de produtos para controle de M. exigua, principalmente para a introdução de silício na área. Neste caso, o profissional precisa conhecer bem o histórico nutricional das plantas e ver a melhor forma e quantidade de aplicação.
Como evitar os principais erros:
Ü Monitoramento e amostragem de solo da área em dia;
Ü Identificação da espécie de nematoide em laboratórios especializados;
Ü Mudas sadias e certificadas;
Ü Limpeza de implementos e equipamentos;
Ü Acompanhamento profissional para melhor escolha de dosagem e forma de aplicação do silício.