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Silício – Nematoides de solo sob controle

Autores

Giovani Belutti Voltolini
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
giovanibelutti77@hotmail.com
Jean dos Santos Silva
Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia – UFLA
Jéssica Elaine da Silva
Simone Lopes Guimarães
Graduandas em Agronomia – UFLA
Crédito Miriam Lins

A crescente demanda por alimentos no mundo faz com que as técnicas de cultivo sejam cada vez mais aprimoradas, visto que a exploração de novas áreas em alguns países não é possível, e assim, a busca por aumentos de produtividade é essencial para atender a demanda mundial de alimentos.

Neste sentido, diversos são os fatores que podem interferir na produtividade das lavouras, como o nível tecnológico empregado, a ocorrência de pragas e doenças, a nutrição das plantas e a fertilidade do solo, e também os fatores climáticos.

Dentre os organismos vivos que podem interferir diretamente na produtividade das plantas cultivadas, tem-se os nematoides. Sobretudo, estes são caracterizados por serem organismos microscópios e incolores, presentes no solo e em alguns casos na parte aérea das plantas, como na cultura da soja, e muitas vezes, passam despercebidos pelos agricultores.

Danos

Os danos causados por esses patógenos estão relacionados ao seu modo de vida parasita, eles infectam as raízes das plantas para completar parte de seu ciclo, com isso, formam-se galhas que irão reduzir a absorção de água e nutrientes, causando altos prejuízos na produção. Uma de suas características é a baixa mobilidade no solo, portanto, sua disseminação depende de fatores como: deslocamento de máquinas utilizadas em áreas afetadas para áreas sadias, uso de mudas com solo infectado e por meio de irrigação.

Seus sintomas são diferenciados de deficiência nutricional ou intoxicação por se manifestarem em reboleiras. A partir de constatada a infestação o produtor deve manipular formas de manejo que dificulte sua ação nas plantas.

Silício

Como estratégia para aumentar a resistência a esse tipo de patógeno, o silício (Si), segundo elemento mais abundante da Terra, depois do oxigênio, vem sendo estudado para ser aplicado em lavouras.

Considerado um elemento não essencial e imóvel, o silício restringe a severidade de doenças, pois após ser absorvido, há deposição de silício na parede celular, enrijecendo-a, dificultando a ação de insetos e a penetração de patógenos, como os nematoides. O silício é assimilado na forma de ácido silícico. Sua aplicação pode ser realizada via solo seguida de incorporação ou via foliar, variando conforme a necessidade.

Modo e época de aplicação

O silício pode ser fornecido para a planta tanto via solo, como via foliar. No entanto, para o controle de nematoides, seu uso deve ser feito preferencialmente via solo, por meio da aplicação de silicato de cálcio.

A molécula de silicato (SiO2) em sua composição atua de forma semelhante ao carbonato (CO3) presente no calcário, conferindo a esses insumos propriedades semelhantes, tais como neutralização de alumínio e redução do pH do solo.

Devido a isso, o silicato de cálcio pode ser usado em substituição total ou parcial do calcário, possuindo modos de ação e aplicação semelhantes. Vale destacar a importância de se realizar uma análise de solo e contar com a orientação de um engenheiro agrônomo, para que o teor de silício no solo seja avaliado e a aplicação tenha doses corretas.

As características semelhantes ao calcário se estendem ao modo e a época de aplicação, que irá variar com a reatividade e qualidade do material adquirido, mas de modo geral, ela deve ser feita antes da implantação da cultura, com no mínimo um mês de antecedência, pois, assim como o calcário, os silicatos de cálcio possuem um tempo maior para que ocorra sua reação no solo.

Melhor manejo

O silício é um aliado no controle dos nematoides, mas não deve ser usado de forma isolada. Por isso, outras práticas devem ser usadas para que o manejo seja efetivo. Uma delas é o uso de culturas resistentes as raças de nematoides mais frequentes na região em que se produz, de forma que a produção não seja afetada.

O cuidado com o trânsito de máquinas e implementos entre propriedades, assim como o plantio de mudas com sanidade atestada, também devem ser levados em consideração, uma vez que os nematoides possuem baixa mobilidade no solo, e a chegada de solo contaminado pode comprometer a sanidade de sua área.

O uso de matéria orgânica também auxilia na redução da infestação destes microrganismos nas áreas de cultivo. Práticas de controle químico e biológica vem sendo bastante testada por diversas empresas, contudo o resultado pé variável em função da população destes nos solos e também da eficiência de cada produto.

Por fim, preconiza-se o manejo integrado, que é a principal chave para o manejo dessa praga, não se pode abster de nenhuma medida que possa trazer benefícios em relação ao problema.

Modo de ação do silício

O silício não é considerado um nutriente essencial, porém, se fosse considerado, seria um macronutriente, devido a tamanha absorção deste elemento pelas plantas. Neste sentido, o silício, depois de absorvido, é depositado na parede celular das plantas, de modo a deixa-las mais espessa e com uma proteção física e química contra a infestação de microrganismos.

Desta forma, com as paredes mais espessas, o nematoide tem maior dificuldade para penetrar nas raízes das plantas e consequentemente, por ser um parasita, fica incapaz de sobreviver e se reproduzir.

Aliado a isto, o silício também é um precursor do metabolismo secundário, e desta forma, indiretamente está relacionado com a produção de metabolitos que atuam diretamente na indução de resistência das plantas à patógenos. Dentre estes metabólitos, ressalta-se as fitoalexinas e alcaloides.

Culturas mais beneficiadas

O uso dos silicatos é crescente na agricultura, tanto como corretivo de solo, quanto como um protetor contra fatores bióticos, como pragas e doenças, e abióticos, como o clima.

Neste sentido, culturas como o milho e a cana de açúcar, que são gramíneas, são muito beneficiadas por este elemento, visto que o mesmo auxilia na arquitetura da planta, de modo a otimizar a atividade fotossintética, assim como na redução da evapotranspiração e n melhoria dos manejos fitossanitários.

Outras culturas, como o café, também já foram estudadas quando na utilização do silício, e os resultados foram muito promissores. Neste sentido, houve melhorias no manejo da cercosporiose e da ferrugem do cafeeiro, além da redução de estados juvenis e ovos de nematoide no solo, assim como a melhoria na produtividade e da qualidade dos frutos produzidos.

De modo geral, todas as culturas podem ser beneficiadas pela aplicação do silício, porém, as gramíneas são mais responsivas, e os resultados são mais significativos.

Entraves

Como entraves para a utilização do silício na agricultura, tem-se alguns fatores como a logística de obtenção, pois no Brasil, não existe diversidade de empresas deste seguimento. Neste sentido, o valor do produto pode ser encarecido devido ao frete, já que a região que utilizará o silicato pode estar distante dos centros distribuidores.

Outro fator diz respeito a origem destes materiais, que na maioria das vezes são escorias de siderúrgicas, e portanto, com composição química variável. Há relatos de metais pesados como o cádmio e chumbo presentes nos silicatos, e assim, poderiam inviabilizar seu uso devido às restrições dos alimentos produzidos nestes locais com inserção dos silicatos contaminados.

Por fim, ressalta-se que a granulometria destes insumos deve ser bastante reduzida, de modo a aumentar a superfície de contato do produto com o solo, e assim, deixá-lo mais reativo.

Custo

O custo é variável em função do local de obtenção, assim como do local de destino, contudo, o preço pago por tonelada deste corretivo varia entre R$ 250,00 e R$ 500,00, isto para as fontes de silicato de cálcio, utilizados via solo. Por outro lado, para as fontes de silicato de potássio, utilizados via folha, para melhorar o manejo fitossanitário das culturas, o valor é mais alto, chegando a custar até R$ 300,00 por hectare, por aplicação.

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