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terça-feira, abril 23, 2024
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Silício reduz oídio na seringueira?

Autores

Bruno Nicchio
Pós-doutorado em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
bruno_nicchio@hotmail.com
Marlon Anderson Marcondes Vieira
Mestrado em Agronomia – UFU

A espécie arbórea com maior potencial de produção de látex é a seringueira, amplamente cultivada em regiões quentes e úmidas dos países tropicais. No Brasil seu cultivo representa importante fonte de recurso econômico. A relevância comercial da borracha natural é justificada pelo fato de ser a matéria-prima estratégica para mais de 40.000 produtos em função de tamanha versatilidade e uso em virtude de sua estrutura lhe conferir: elevada resiliência, elasticidade, resistência à abrasão e ao impacto, maior resistência à ruptura e menor aquecimento interno por esforço mecânico, características que não podem ser obtidas em polímeros produzidos artificialmente a partir de combustíveis fósseis (Embrapa, 2012).

No entanto, um dos maiores desafios no cultivo e multiplicação desta cultura é o ataque de doenças. A seringueira pode ser afetada pelo fungo fitopatogênico Oidium heveae (oídio), uma das mais importantes doenças da seringueira, o qual ocorre com maior intensidade nos países asiáticos, mas com incidências no Brasil.

Ataque

A enfermidade afeta folhas, hastes jovens, inflorescência e frutos tenros, e em condições favoráveis pode causar sucessivos desfolhamentos das plantas numa estação, ocorrendo esgotamento das reservas da planta, que resulta na morte descendente dos brotos e ramos, no retardamento da renovação da casca e até na morte da planta.

As folhas maduras ficam enrugadas e distorcidas por causa da infecção. As colônias do fungo podem esporular intensamente por diversas semanas e as lesões adquirem aparência marrom-avermelhada.

A disseminação desta doença ocorre principalmente pelo vento e chuvas leves em locais com umidade entre 75 – 81% e temperaturas entre 13,3 e 16,7°C, mas condições extremas de seca ou umidade são desfavoráveis ao seu desenvolvimento.

No geral, o microclima da copa das plantas apresenta temperatura diária máxima do ar menor que 32° e a umidade relativa acima de 90%, no mínimo, durante pelo menos 13 horas, o que pode favorecer o desenvolvimento da doença.

Controle

A melhor medida recomendada para controle da doença é o método cultural por meio do cultivo de clones resistentes. Além disso, outro método eficiente em viveiros é o controle químico com uso de enxofre na forma de pó molhavel, em pulverizações.

Para plantas adultas, recomenda-se a aplicação de 11 a 13 kg ha-1 de enxofre seco, de três a seis aplicações com intervalos de quatro a 10 dias, dependendo da intensidade da doença. Uma das desvantagens do controle cultural é que não se pode realizar este manejo em estandes já estabelecidos. No caso do controle químico, o custo de aplicação é a maior desvantagem.

Por isso, a busca de técnicas alternativas é de suma importância. O uso da defesa vegetal na resistência a doenças deve ser considerado, apesar de ser uma técnica complexa em função de diversos fatores. Potencializar a defesa vegetal das plantas pode ser de grande vantagem aos produtores de seringa.

Importância do silício

Os nutrientes minerais apresentam funções importantes no metabolismo vegetal e o silício (Si), apesar de ser considerado elemento benéfico, tem-se demonstrado como alternativa viável no controle de doenças (Figura 1) em culturas como cana-de-açúcar, sorgo, milho, pastagens, soja, hortaliças, arbóreas e etc.

Figura 1. Efeito visual da aplicação de Si no controle de Oídio em trigo e pepino (Foto: Menzies et al. 1991; Bélanger et al. 2004).

O Si absorvido pode apresentar muitos benefícios às plantas, pois sua deposição foliar promove melhoria do posicionamento das folhas para maior interceptação da luz solar, aumentando a capacidade fotossintética e a produtividade das culturas (Camargo, 2016). O Si pode ser muito efetivo em doenças que atacam principalmente área foliar como o oídio, já que este nutriente pode promover proteção química e física contra com patógenos (Figura 2).

Figura 2. Representação esquemática da penetração de uma hifa na camada epidérmica foliar, e alguns fatores que afetam a penetração e colonização do fungo (Foto: Marchner, 1995/Fonte Adaptado: Lima Filho; Lima; Tsai, 1999).

A barreira química pode estar ligada por meio da resposta da planta ao ataque do parasita, aumentando a síntese de toxinas e compostos fenólicos que podem agir como substâncias inibidoras ou repelentes (isoflavonoides).

A barreira física pode estar ligada ao Si depositado no tecido epidérmico (silificação) na forma de silica amorfa que pode impedir mecanicamente a invasão de hifas de fungos, agindo de modo semelhante à lignina ou suberina depositada em paredes primárias das células, ligando-se aos polissacarídeos, para bloquear o avanço do patógeno (Figura 2).

Pesquisas

Com relação ao método de aplicação, diversos estudos relatam que o suprimento de Si via solo, foliar ou solução nutritiva têm contribuído de forma significativa na redução da intensidade de inúmeras doenças de importância econômica. Para aplicação via solo, muitos produtos têm sido utilizados como fontes de Si, dentre eles os subprodutos da indústria de siderurgia e da produção de fósforo elementar, metassilicatos de cálcio e de sódio, termofosfatos e silicatos de cálcio e magnésio (Korndörfer et al., 2004).

Sua grande vantagem é que além de promover maior resistência a doenças de plantas, o Si pode corrigir o pH do solo. Os silicatos de Ca e Mg, por apresentarem comportamento e composição semelhante ao dos carbonatos, podem substituir os calcários, onde a dose a ser aplicada nos solos, deve ser baseada em qualquer dos métodos de recomendação de calagem. Em solos já corrigidos, isto é, onde os valores de pH e/ou saturação por bases encontram-se em níveis desejáveis ou adequados, o fornecimento de Si através de silicatos não deve ultrapassar 800 kg ha-1 para evitar desequilíbrios nutricionais.

Além do fornecimento de Si via solo, sua aplicação via adubação foliar pode facilitar a absorção deste elemento na parte aérea das plantas, favorecendo assim o seu acúmulo na folha de forma que possam estimular seus efeitos benéficos. O silicato de potássio (K2SiO3) líquido e solúvel é uma das fontes mais utilizadas para o fornecimento de Si via aplicações foliares em plantas (Zenão Júnior et al., 2009).

Schultz et al. (2012) ao avaliar aplicação de Si via foliar no controle de Oídio em mudas de Eucalipto, observaram que a pulverização de K2SiO3 (4 mL L-1) por 14 dias foi eficiente no controle da severidade de oídio em mudas, durante 150 dias de cultivo em casa-de-vegetação. Os autores observaram que o uso de Si não diferiu do controle químico (epoxiconazole + piraclostrobina 6 mL L-1) por 14 dias, demonstrando-se como método alternativo no controle da doença.

Por outro lado, Caiafa (2014) ao avaliar aplicação de doses de Si (0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2 mol L-1) em cinco clones de Eucalyptus grandis x urophylla, não verificou redução da severidade de Oídio. Apesar disso, foi observado aumento na concentração de Si foliar de Eucalipto. Já Silva (2016) ao avaliar aplicação de produtos contendo Si e Fosfito no controle de oídio em mudas de eucalipto, observou que aos 120 dias de idade, os tratamentos tiveram uma taxa de sobrevivência das mudas adequada, podendo constatar que o efeito positivo do uso de Si e Fosfito podem ser de grande importância econômica em um viveiro de produção mudas.

Deste modo, a melhor forma de aplicação de Si visando aumento da Seringueira ao ataque de Oídio é sua aplicação foliar no cultivo de mudas, assim como demonstrados em trabalhos com Eucalipto, já que em ambientes de viveiro a presença do patógeno pode ser mais frequente. Como citado anteriormente, outro método que pode ser utilizado é o uso de Si via solo (recomendação do solo de acordo com necessidade de calagem) antes do transplantio das mudas no talhão.

É importante considerar que mesmo em clones resistentes o fungo pode em alguns em função de diversos fatores adaptarem-se a resistência do material cultivado. Por isso, deve-se levar em conta ação preventiva em ambientes propícios ao desenvolvimento da doença. Contudo é sempre importante buscar auxílio técnico e avaliar as condições de produção para tomada de decisão quanto o uso deste tipo de técnica e manejo.

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