Pedro Guilherme Lemes
Engenheiro florestal e professor – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
pedroglemes@ufmg.br
A certificação florestal é um processo voluntário que atesta que a madeira e/ou produtos florestais provêm de manejo florestal sustentável. Por meio desse processo, uma empresa ou órgão independente autorizado avalia se uma organização ou produto atende a uma série de padrões pré-estabelecidos de sustentabilidade.
Caso aprovados em auditoria, recebem um selo para usar em seus produtos, garantindo ao consumidor sua origem sustentável. O selo certifica o cumprimento das normas que asseguram boas práticas ambientais, sociais e econômicas na produção florestal.
Sustentabilidade ambiental
Os principais objetivos da certificação florestal são definir padrões e normas para promover o manejo florestal sustentável e rastrear a origem da madeira e seus produtos. No entanto, os objetivos específicos irão depender do selo de certificação.
Hoje temos dois principais selos de certificação do manejo florestal no Brasil: o Forest Stewardship Council (FSC), com um viés mais ambiental, e o Cerflor, que atua sob a tutela do PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification), com um viés mais econômico.
Apesar das diferenças, ambos os sistemas de certificação contribuem para a preservação ambiental, bem-estar social e avanço econômico.
O FSC foi criado com o objetivo de reduzir o desmatamento e degradação de florestas tropicais, mudando as práticas de manejo florestal. Mesmo em plantações, o FSC promove a conservação de áreas nativas ao exigir o cumprimento das leis ambientais, restringir a conversão de novas áreas, limitar o uso de agrotóxicos e monitorar os impactos do manejo florestal.
Em florestas nativas, promove a conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos, reduz o desmatamento ilegal, protege ecossistemas frágeis e promove a colheita controlada para garantir a regeneração natural da floresta.
Valor agregado
Os selos de certificação, como o do FSC, garantem práticas responsáveis e sustentáveis muito além do que é legalmente exigido no país, agregando valor à reputação e diferenciação dos produtos certificados.
A certificação também proporciona rastreamento e transparência por meio de auditorias. Assim, os compradores não correm risco de comprar madeira ilegal ou de empresas com más condições de trabalho, por exemplo.
Benefícios percebidos
A certificação beneficia os produtores ao aprimorar o manejo florestal, exigindo avaliações, planos de manejo e monitoramento de impactos, melhorando a qualidade das operações florestais.
A certificação também agrega valor de marketing, possibilitando a venda da madeira e produtos certificados a preços premium, atraindo compradores e investidores ambientalmente responsáveis.
Porém, o maior benefício percebido pelos produtores brasileiros é que a certificação permite o acesso a mercados mais exigentes quanto à sustentabilidade, como Europa e América do Norte. Ao demonstrar práticas responsáveis, a certificação abre oportunidades de negócios e fortalece a imagem dos produtores brasileiros.
Novos mercados
A certificação florestal atrai consumidores exigentes e dá acesso a novos mercados ao conferir credibilidade à sustentabilidade. As auditorias independentes garantem a autenticidade das práticas sustentáveis, tranquilizando compradores.
Além disso, selos como o FSC e o Cerflor conscientizam os consumidores, aumentando a demanda por produtos de origem responsável. Por isso, produtos certificados têm um diferencial de marketing, permitindo acesso a nichos de mercado como o de “consumidores verdes”.
Desenvolvimento social e econômico
A certificação encoraja a participação ativa dessas comunidades, com consultas frequentes e comunicação transparente sobre atividades florestais como colheita, transporte e aplicação de agrotóxicos. Isso promove o entendimento mútuo e ajuda a evitar conflitos.
Empreendimentos certificados também contribuem para o desenvolvimento das comunidades, podendo empregar trabalhadores locais e criando programas comunitários. A certificação também promove práticas de trabalho justas e seguras para os trabalhadores florestais.
Além disso, alguns requisitos para proteger o patrimônio cultural e os direitos dos povos indígenas ajudam a preservar valores sociais importantes. A certificação florestal gera benefícios econômicos e fortalece os laços sociais nas comunidades florestais.
Desafios específicos
Sem dúvida, existem muitos desafios no processo de certificação florestal. O maior deles é o alto custo com auditorias, documentação, atualizações de sistemas e cadeia de custódia.
Esses custos, muitas vezes, são proibitivos, especialmente para pequenos produtores. Para mitigar isso, o FSC criou a certificação “SLIMF” (floresta pequena ou de baixa intensidade de manejo) para pequenos produtores, permitindo o compartilhamento de custos e certificação em grupo.
Além do mais, o grande número e a alta complexidade das normas e regras, principalmente no FSC, relacionadas a questões ecológicas, trabalhistas e comunitárias podem ser difíceis de implementar.
Treinamentos e a introdução gradual das mudanças necessárias ajudam a superar essa barreira. Manter a conformidade por meio de monitoramento, documentação e auditorias frequentes também exige muito esforço (e custos), embora se torne mais fácil com o tempo.
Um exemplo de desafio é a “política de pesticidas” do FSC, que proíbe produtos permitidos no Brasil e restringe tecnologias promissoras, como organismos geneticamente modificados, encarecendo e dificultando o manejo de pragas.
Os incentivos também nem sempre são claros, já que os preços premium de madeira e/ou produtos certificados dependem do contexto e não são garantidos. O maior incentivo à certificação ainda é o acesso a novos mercados.
A certificação florestal exige regras e burocracia, mas seus benefícios ambientais, sociais e financeiros podem compensar, com as ferramentas e paciência necessárias.