
Jean de Oliveira Souza
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Produção Vegetal e professor de Agroecologia – E.E.G.R, Mossoró-RN/Maísa
jeanosouza2030@gmail.com
O Brasil é o maior produtor mundial de soja (Glycine max (L.) Merril), apresentando números de 147 milhões de toneladas produzidas na safra 2023/24, em 46 milhões de hectares (ha) cultivados (Embrapa, 2024).
A soja é uma das culturas de maior área de plantio no Brasil e, consequentemente, de maior importância econômica para o país, à medida que é responsável pela exportação de grãos e derivados.
A busca por produtividade e o fator econômico na produção de grandes culturas esbarra na interferência das plantas daninhas, as quais tendem a aumentar o custo de produção, reduzir as margens de lucro e diminuir a qualidade do produto.
Entraves
Dentre as principais plantas daninhas que acometem danos na soja, destacam-se: a erva-quente (Spermacoce latifolia), corda-de-viola (Ipomoea grandifolia), trapoeraba (Comelinea benghalensis), amendoim-bravo ou leiteiro (Euphorbia heterophylla), guanxumas (Sida rhombifolia) e outras.
A competição das plantas daninhas com a cultura da soja tem maior potencial de interferir negativamente sobre a cultura, quando se observa nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, com danos que podem chegar a 80% e até mesmo inviabilizar a produção, além de reduzir a qualidade dos grãos, causar desuniformidade na maturação, dificultar a colheita e servir de hospedeiro para pragas e doenças.
Pragas x melhoramento genético
O período crítico de maior competição da soja é de 30 a 50 dias após a emergência, variando de acordo com a cultivar. No campo, as plantas daninhas, em geral, levam vantagem competitiva sobre as plantas cultivadas.
Por outro lado, o melhoramento genético das culturas objetiva obter acréscimo na produtividade econômica, e isso quase sempre é acompanhado por acréscimo no potencial competitivo.
Por isso, o controle de plantas daninhas torna-se importante para convivência com as plantas daninhas sem prejuízo para a soja.
Dessecação como alternativa eficiente
Diante desse problemática, surge uma alternativa eficiente de suprimir o crescimento de espécies invasoras, como a prática da dessecação em áreas de produção de grãos, com o objetivo de controlar as plantas daninhas.
Nesse viés, o manejo ou dessecação antecedendo o plantio direto é fundamental para um bom desenvolvimento das lavouras, ou seja, a eliminação das plantas daninhas antes da semeadura permite que a cultura tenha um desenvolvimento inicial rápido, vigoroso e competitivo, o que condiciona a soja a ter um excelente comportamento no campo e boa produtividade.
Dicas importantes
Para o cultivo da soja, a semeadura logo após a dessecação pode causar perdas significativas à produção, por isso, a melhor opção é aguardar de 14 a 18 dias após a operação de dessecação, quando as plantas deverão estar completamente secas, condições em que a semeadura é mais fácil de ser realizada.
É importante ressaltar que, para segurança da cultura da soja, é recomendado estabelecer um intervalo de dez dias entre aplicação e o plantio. Outro fato relevante e que deve ser levado em conta é, quando da dessecação de gramíneas, especialmente o milheto, para o imediato plantio da soja ou milho, podem estar presentes na área insetos, de modo particular as lagartas.
Ocorrendo a secagem da vegetação, as lagartas passam a se alimentar da cultura recém-plantada, causando danos significativos. Uma solução, neste caso, é a utilização de inseticidas e herbicidas dessecantes.
Aplique-plante
A utilização de herbicidas de manejo, que permitam efeito residual no solo como, por exemplo, o sistema denominado por aplique-plante, pode ser uma alternativa para reduzir as infestações de plantas daninhas e permitir o plantio imediato da cultura da soja no sistema aplique-plante, causando redução nos custos de controle de espécies de plantas daninhas.
Esse sistema consiste na aplicação de herbicidas seguida pelo plantio de soja, sem necessidade de intervalo de tempo entre essas práticas. Já o uso de herbicidas de contato de rápida ação de choque no manejo de plantas daninhas e/ou nas dessecações sequenciais, iniciadas 15 a 20 dias antes da semeadura, apresenta, portanto, inúmeras vantagens, que são tanto maiores quanto maior for a biomassa de cobertura do solo.
A rápida velocidade de dessecação das plantas daninhas ou controle do primeiro fluxo de plantas daninhas que emergem são fundamentais para reduzir a interferência dessas plantas daninhas sobre o desenvolvimento inicial e produtividade da cultura da soja.
Outras soluções
Alguns outros produtos têm sido recomendados e registrados no Brasil para dessecação em pré-plantio, dentre os quais o Paraquat, que, até meados de 2020, era o ingrediente ativo mais utilizado nas aplicações com objetivo de dessecação em pré-plantio.
No entanto, o fato de os produtos à base de paraquat serem classificados como altamente tóxicos e não possuírem antídoto em caso de contaminação levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a decidir pela proibição da produção, importação, comercialização e uso desses produtos no Brasil.
Já o diquat é um herbicida considerado de alta solubilidade em água. Isso devido à rápida adsorção pelos coloides do solo, ou seja, seu uso pode ser feito no sistema aplique-plante.
Observa-se, ainda, uma absorção mais rápida nas folhas por conta de sua passagem acelerada pela cutícula, bem como uma ação mais ágil na presença de luz e a não seletividade e translocação em relação ao alvo, o que tem sido amplamente recomendado para essa prática.

Crédito: Ricardo Victória Filho

Crédito: Ricardo Victória Filho
O herbicida saflufenacil é de ação dessecante, com excelente desempenho sobre as espécies de plantas daninhas de difícil controle em diversas culturas, podendo apresentar importante alternativa no controle de plantas daninhas resistentes a outros dessecantes.
Este produto pode ser aplicado de forma isolada ou em mistura com glyphosate no manejo de um amplo espectro de espécies de eudicotiledôneas. Portanto, o uso do diquat, saflufenacil, como também do glyphosate de forma isolada ou em associação, pode possibilitar o aumento da eficácia sobre espécies de plantas daninhas de folhas largas, que são consideradas as de maior potencial de danos para a cultura da soja.
Eficácia no tratamento
Não obstante, o uso correto de dessecantes em pré-plantio na soja favorece a exploração de forma mais eficiente da cultura, mitigando os efeitos nocivos que as plantas daninhas podem acarretar sobre o desempenho produtivo e qualitativo da soja no campo. Com isso, elevam-se os ganhos com a rentabilidade dos produtos advindos da produção dos grãos.