

Giovanni Aleixo Batista
Engenheiro de Alimentos e mestrando em Ciência dos Alimentos (UFLA)
giovannialeixob@gmail.com
Luíz Guilherme Malaquias da Silva
Cientista de Alimentos e doutorando em Ciência dos Alimentos (UFLA)
lg.malqs@gmail.com
Carlos Alexandre Rocha da Costa
PhD. em Ciência dos Alimentos (UFLA)
alexandre.vitae@gmail.com
A produção de sorgo no Brasil tem potencial para dobrar nos próximos quatro anos, com a área cultivada aumentando para 1,8 a 2,0 milhões de hectares e uma colheita estimada de 5,5 a 6 milhões de toneladas. Uma grande inovação é o uso do sorgo-biomassa, que vem se destacando em nível global como alternativa sustentável para a geração de energia. Além dessa nova oportunidade, haverá exportação para a China, além da expansão das indústrias de ração e etanol.
Fatores determinantes
O aumento da produção de sorgo no Brasil nos últimos anos é impulsionado por sua crescente demanda como alternativa econômica ao milho na alimentação animal, aliado à sua notável resistência à seca, que o torna ideal para regiões com baixa disponibilidade hídrica e para a safra de inverno (segunda safra ou “safrinha”). Além disso, o sorgo desempenha um papel estratégico no sistema de plantio direto, especialmente no centro-oeste e sudeste, onde, além de ser utilizado na rotação com a soja, contribui com boa produção de palhada, essencial para a conservação do solo. A cultura também se destaca pelo baixo custo de produção, sua adaptabilidade a áreas marginais e a crescente valorização no mercado de etanol e biocombustíveis.
Alternativa sustentável
A discussão sobre meio ambiente tem recebido destaque entre as nações, e medidas vêm sendo tomadas para reduzir a poluição ambiental, a fim de preservar um futuro seguro e sustentável às próximas gerações. Uma das medidas empregadas globalmente tem sido a substituição de combustíveis fósseis por biomassa vegetal, matriz energética renovável e menos poluente. Nesse contexto, a utilização de sorgo-biomassa em usinas termoelétricas vem despontando globalmente como uma alternativa promissora e sustentável, devido às vantagens proporcionadas por essa cultura, em comparação a outras que também são utilizadas como biomassa, como capins e eucaliptos.
Demanda de mercado
Embora o Brasil ainda não seja um grande consumidor de biomassa, apresenta-se como um grande produtor para mercados internacionais. O crescimento da área cultivada de sorgo convencional no Brasil foi superior ao do milho e da soja em 2023, e a safra de sorgo em 2022/23 foi superior em 53,4% em produção em comparação à safra 2021/22. Isso mostra o imenso potencial do Brasil para produzir sorgo-biomassa e, por isso, a cultura do sorgo-biomassa tem ganhado destaque, aquecendo e impactando positivamente o mercado financeiro agrícola do país.
Exportações
A China é o principal destino das exportações agropecuárias brasileiras, e o sorgo tem se destacado como um produto de interesse crescente, especialmente para uso na produção de bebidas tradicionais e ração animal.

Em 2023, o país importou US$ 1,83 bilhão em sorgo, principalmente dos Estados Unidos, enquanto a participação do Brasil no mercado global ainda é limitada, representando apenas 0,29%. Atualmente, estão em andamento negociações entre Brasil e China para abrir o mercado chinês ao sorgo brasileiro, além de outros produtos, como uvas frescas e gergelim, com um potencial comercial estimado em cerca de US$ 450 milhões anuais.
Altos padrões
Para cobrir essa demanda, o sorgo brasileiro precisa atender aos altos padrões exigidos internacionalmente, como qualidade nutricional, boa apresentação física e práticas agrícolas sustentáveis, que são cada vez mais valorizadas. Com a China figurando entre os maiores consumidores e produtores globais de cereais, como arroz, milho e trigo, há uma oportunidade significativa para o Brasil expandir sua participação no mercado, desde que consiga garantir consistência na oferta e competitividade nos preços.
Indústrias de ração animal e etanol
No setor de ração animal, o sorgo se destaca como uma alternativa econômica ao milho, com valor nutricional adequado para a alimentação de aves, suínos e ruminantes, o que o torna cada vez mais atrativo em um cenário de elevação nos preços dos grãos.
Já na indústria de etanol, o sorgo sacarino tem ganho espaço como matéria-prima devido ao seu alto teor de açúcares fermentáveis, sua adaptabilidade a diferentes condições climáticas e o menor custo de produção em comparação à cana-de-açúcar.
Essa dupla funcionalidade fortalece a posição do sorgo como uma cultura estratégica para atender às demandas crescentes de ambos os mercados.

Potencial de expansão
O sorgo tem sido produzido em todas as regiões do Brasil, com destaque expressivo para o centro-oeste e sudeste. Essa região central do país é caracterizada pelo bioma do cerrado brasileiro, que apresenta um período de chuvas mais intensas e outro de chuvas escassas, além de dias mais longos e curtos.
Quando essa região central está em período de limitação de recursos hídricos e sob altas temperaturas, o sorgo se apresenta como uma cultura resistente, pois tem baixa demanda hídrica e boa eficiência de uso da água disponível, além de resistência a elevadas temperaturas.
Embora seu desenvolvimento seja menor, ainda é resistente a tais condições adversas, trazendo retorno financeiro superior a outras espécies que produzem pouco nesse período.
Sorgo com cinco metros
Quando no período de chuvas intensas e dias mais longos, o sorgo-biomassa pode atingir até cinco metros de altura. Por isso, essa cultura tem sido empregada majoritariamente nessa região central do país, que concentra a maior produção agrícola e vias de escoação por malhas ferroviárias e rodoviárias.
Recentemente, tem sido relatado um avanço da cultura do sorgo na região norte, que em parte tem características climáticas parecidas com o cerrado na região de transição, onde os biomas Amazônia e Cerrado se encontram, além de potencial de escoação da produção pelas vias fluviais.
Desafios
Dobrar a produção de sorgo nos próximos quatro anos exige superar desafios relacionados à eficiência produtiva, sustentabilidade e infraestrutura. Um dos principais entraves está na necessidade de adotar tecnologias avançadas que melhoram a produtividade por hectare, como cultivares mais resistentes a pragas, doenças e condições climáticas adversas, além de sistemas de manejo que otimizem o uso de água e nutrientes.


É essencial, também, ampliar a capacitação de produtores, promovendo o acesso a técnicas modernas de cultivo e a práticas agrícolas sustentáveis que maximizem os rendimentos sem comprometer os recursos naturais.
Armazenamento
Outro desafio significativo está na infraestrutura de armazenamento e distribuição, que precisa ser modernizada para evitar perdas pós-colheita e garantir que a produção atenda à crescente demanda de mercados internos e externos.
Além disso, políticas públicas que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento, bem como linhas de crédito acessíveis para os agricultores, são fundamentais para viabilizar investimentos em tecnologia e inovação.
Alcançar essa meta requer um esforço conjunto entre produtores, pesquisadores, instituições e governos, com estratégias que integrem eficiência econômica, sustentabilidade ambiental e competitividade no mercado global.
Rentabilidade e sustentabilidade

O sorgo se destaca em termos de rentabilidade e sustentabilidade em relação a outras culturas devido a várias características que favorecem sua produção e utilização. Em termos de rentabilidade, o sorgo apresenta um custo de produção mais baixo em comparação com culturas como o milho, principalmente devido à sua menor necessidade de insumos, como fertilizantes e defensivos, além de ser mais resistente a pragas e doenças.
Isso se traduz em menores custos operacionais, o que torna o sorgo uma opção atraente para os produtores, especialmente em períodos de volatilidade nos preços de commodities como o milho.
Quanto à sustentabilidade, o sorgo é uma cultura altamente adaptável, com excelente resistência à seca, o que o torna uma escolha ideal para regiões com escassez de água ou para cultivo em safras de segunda época (“safrinha”).
Sua capacidade de se desenvolver em solos mais pobres e com menor uso de insumos reduz o impacto ambiental em comparação com outras culturas. Além disso, o sorgo contribui para a rotação de culturas e a preservação da qualidade do solo, práticas que são essenciais para a sustentabilidade da agricultura a longo prazo.
Essas características abrem novas oportunidades para os produtores, incluindo a diversificação de culturas, redução de riscos financeiros e adaptação às mudanças climáticas. O sorgo pode ser integrado a sistemas de produção de baixo impacto ambiental, como o plantio direto e a rotação de culturas.
