Sueli Vieira Rodrigues
Diretora da Bioneem
É quase impossível falar em sustentabilidade e preservação ambiental nas atividades agrícolas sem ter como referência a pioneira da revolução ambiental, Raquel Carson e seu livro Primavera Silenciosa (Silent Spring/1962), em que Carson argumenta que “pela primeira vez na história do mundo, os seres humanos estão sujeitos ao contato com produtos químicos perigosos, do momento da concepção até a morte“.
Diante das evidências de destruição maciça da vida selvagem causadapelo uso de novosinseticidas e biocidas, em que ela escreve “permitimos que esses produtos químicosfossem utilizados com poucas ou nenhuma investigaçãoprofunda quanto aos seus efeitos sobre o solo, a água, a vida selvagem e próprio homem.As gerações futuras não nos perdoarão pela falta de prudência em relação à integridade do mundo natural que dá suporte à vida“.
Adverte ainda“foi dada muito pouca atenção à natureza do perigo. Esta é uma era de especialistas, em que cadaum vê seus próprios problemase é incapazde abranger uma gamamaior de tópicosque possam estar correlacionados.Tambémé uma era dominadapela indústria, em que o direitode fazerum dólar a qualquer custoé raramente questionado.
Se por um lado essa visão permanece atual e preocupante, principalmente em relação ao uso desenfreado de substâncias químicas (pesticidas, herbicidas e biocidas de uso não agrícola), em contrapartida o amadurecimentodas relações entre o setor produtivo, o mercado e o os órgãos reguladores vem evoluindo no sentidode encontrar mecanismosde convergência que atendamaos interesses de todos.
Fiscalização
As indústrias, mesmo que fortes e agressivas do ponto de vista coorporativo, são severamente fiscalizadas pelos órgãos reguladores e o mercado, que tem papel soberano nas relações de consumo, pulsa forte e exige dos dois mudanças e ações que demonstrem segurança e integridade, frente às demandas do consumidor.
Esse comportamento se deve principalmente às mudançasocorridas no perfil do consumidorna última década, quando a independência e busca por informações se intensificou, principalmentepeloacessoe rapidezquea informação sobreprodutos e serviçosé obtida e incorporada ao consumo. A internetéferramenta primordial nesse comportamento.
Redução dos impactos
Para atender às demandasdo mercado o setoragrícola vem aperfeiçoandoe buscandopermear suas atividades produtivas com medidas para reduzir os impactosambientaisde suas atividades e, principalmente, resgatando ou inovando no uso de insumos e práticas mais sustentáveis.
Exemplo claro desse comportamento é a consolidação no País do uso de defensivos agrícolas naturais, que após mais uma década de discussões, idas e vindas na legislação, consolidou alterações no Decreto 4074 de 04 de janeiro de 2002, promovidas pelo Decreto 6.913 de 23 de julho de 2009, criando uma categoria para os defensivos naturais que passaram a ser denominados fitossanitários.
As indústriasinvestem pesado em cadeias verticalizadase inovação tecnológica em defensivos naturais,com destaque para o óleode neem indiano, Rotenona, Piretro e sabadilha.Segundo dados da Embrapa, o setor cresce 16% ao anoerepresentade 03 a 5% dos pesticidas químicos vendidos em território nacional.
Os orgânicos
Outro insumo que desponta no setor agrícola são as sementes orgânicas para atendera demanda de produtores de todos os portese escalas,destinadas à multiplicação de sementes ou grãos para consumo.
As características desejadassão plantasmais resistentes e com melhor desempenho, que necessitamdequantidades menores de fertilizantes, água e defensivos.Novas variedadesorgânicase certificadasestão sendo cultivadasemultiplicadas a partirda conversão de sementes crioulasou materiais genéticosconvencionaisnão melhorados. Além da rusticidade, no caso do milho, umadasvariedades já disponíveis no mercado,a BRSCaimbé, temciclosemi precoce, ou seja, adaptado à regiãosudeste, centro-oestee ao semiárido, com bom portede planta e espiga.
Outra característicaimportante ésua resistência ao quebramento e acamamentoe boa resistênciaàs doenças.Como a procuraéalta por grãosorgânicose/ou não transgênicos destinados à cadeiada proteína animal (avicultura, suinocultura, bovinocultura decorte e leite), as sementes de milho orgânico, devido àscaracterísticas de cultivo e colheita do grão, são, no cenário atual, primordiaispara o crescimento e consolidação do setor, que nesse momentoestá enforcado, com a demanda crescenteeprodução estagnadapor faltade disponibilidade, quantidade eregularidadenos estoques de milhoorgânico.
E aà só tem um jeito ” plantar, pois importaré impossível, porque afalta é mundial, os preços são altos e não tem sobra de estoque em nenhumlugar.Na mesma vertenteestão os grãos orgânicos de soja,algodão e outrasoleaginosas,cuja demandaestabelecidaé similar à ausência de estoques disponíveis a curto emédio prazo.
Na mesma direção, a procuraé intensa porsementesde hortaliças orgânicasou agroecológicas, não tratadascom defensivos, destinadas à produçãoorgânica delegumes e verduras,brotos e microgreens.
Além da pressãoda falta de grãos orgânicos, a cadeia produtivade leite e derivados, com as novas diretrizesdas indústriasdo setor, exigindoa reduçãodo uso de antibióticos, pesticidase hormônios em vacasleiteiras, e ureia na pastagem, o consórciode gramÃneas e leguminosas vira exigênciadentro da atividade.
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