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Técnicas pós-colheita de citros

Catherine Amorim
Doutora e professora – Instituto Federal Catarinense
cath.amorim@gmail.com

O Brasil está no topo da cadeia produtiva mundial de citros, figurando na primeira colocação em produção de laranjas e na quinta colocação em produção de limas, limões e tangerinas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Além disso, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o Brasil ainda é o líder na produção e exportação mundial de suco de laranja, sendo hoje uma commodity no país.

Mais de 50% do consumo mundial de suco de laranja vem do nosso país, e 98% de tudo que é produzido aqui vai para o mercado externo, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

Portanto, com tamanha importância desse mercado, é preciso saber conservar essas frutas para que se mantenha a qualidade e a vida de prateleira prolongada.

Carinho é fundamental

Quando se fala em qualidade pós-colheita, tudo começa no campo. Uma boa nutrição e colheita são cruciais para tudo o que virá depois. Alguns cuidados simples, como evitar realizar a colheita nas primeiras horas da manhã, quando os frutos ainda estão úmidos com o orvalho ou chuva (facilidade de desenvolvimento de podridões), evitar causar injúrias mecânicas, como cortes, marcas de unha ou tombamento, não colher frutos do chão, não deixar os frutos expostos diretamente ao sol (fermentação) e utilização de caixas de transporte adequadas e higienizadas podem ser cruciais para uma boa pós-colheita nos próximos dias que se seguirão.

Após a colheita, os frutos seguem para as etapas de beneficiamento no packing house, que envolvem algumas etapas principais: recepção, primeira seleção, lavagem, secagem, segunda seleção, classificação, embalagem e armazenamento.

O começo

A recepção, primeira etapa, é a chegada das frutas no packing house. Na recepção é onde os lotes são identificados, é feita uma amostragem para avaliação da qualidade, e os frutos são, então, encaminhados para o beneficiamento.

Na seleção dos frutos, é feita a retirada daqueles com injúrias mecânicas, presença de doenças ou ainda verdes. A lavagem deve ser realizada com produtos específicos para higienização de alimentos e da cultura à base de detergente e cloro.

Esses frutos precisam ser secos e encaminhados para a classificação, que é feita seguindo os parâmetros do mercado de cor da casca, tamanho dos frutos (diâmetro em mm) e defeitos e manchas.

As primeiras seleções são feitas manualmente, enquanto a classificação normalmente é automatizada, a partir de equipamento programados com algoritmos avançados que classificam os frutos quanto aos parâmetros citados e garantem a qualidade e melhor valoração do produto.

Embalagem

Feita a classificação, o produto é embalado e rotulado de acordo com o mercado de destino. A embalagem precisa ser realizada seguindo a instrução normativa conjunta SARC/ANVISA/INMETRO/009, que regulamenta o acondicionamento, manuseio e comercialização dos produtos hortícolas “in natura”, visando a conservação a manutenção da qualidade do produto fresco.

A rotulagem também deve seguir a legislação em vigência regulamentada pelo Ministério da Agricultura (MAPA).

Armazenagem

O armazenamento é a etapa final antes da comercialização, e garante o produto fresco até a chegada ao consumidor. As condições podem variar um pouco com o produto, mas normalmente citros podem ser armazenados em frio à temperatura média de 5°C e 90-95% de umidade relativa.

As laranjas podem permanecer nessas condições por até dois meses, enquanto as tangerinas durante cerca de quatro semanas. Já a lima ácida ‘Tahiti’ é mais bem conservada a 10°C e 90 – 95% de umidade relativa por mais ou menos quatro semanas, assim como as tangerinas.

‘Embelezamento’ das frutas

Além dos procedimentos padrões, é comum, no mercado, a aplicação de ceras nos frutos. Essa aplicação é feita após a lavagem e secagem e antes do produto ser embalado, e confere o brilho característico à casca que vemos nas gôndolas dos supermercados.

A formulação comumente utilizada no Brasil é uma emulsão aquosa à base de cera de carnaúba e resina vegetal, comestível e sem cheiro e sabor. Portanto, não é prejudicial à saúde humana e nem influencia no sabor da fruta.

A aplicação é feita por aspersão nos frutos, que passam sobre uma esteira rolante. Posteriormente, a secagem da cera é feita em um túnel de ar a 45 °C e os frutos são polidos por escovas de crina para conferir o brilho à casca.

O revestimento dos frutos com as ceras confere uma aparência visual melhor, mas este não é o seu único benefício. O revestimento tem a função de proteger e conservar a fruta. O recobrimento da casca protege o fruto principalmente contra a perda de água pela transpiração, uma vez que este ainda respira após a colheita.

E isso é essencial para que o produto chegue fresco à localidade de destino. Além da perda de água, a cera funciona também como uma barreira contra o ataque de fungos patogênicos.

Os frutos já têm naturalmente uma cera que recobre a sua casca, produzida pela própria planta durante o desenvolvimento do fruto. Mas, durante as etapas de beneficiamento ela acaba sendo removida, devido à lavagem. Essa cera, então, é apenas reposta de forma artificial.

Novas tecnologias

O armazenamento convencional em frio tem a finalidade de reduzir a taxa respiratória e a transpiração dos frutos devido à baixa temperatura, bem como limitar o desenvolvimento de microrganismos.

Uma tecnologia adicional que pode ser utilizada é o uso de atmosfera controlada durante o armazenamento. A concentração dos gases no interior da câmara pode ser controlada de forma a aumentar os teores de dióxido de carbono, auxiliando na redução da taxa respiratória.

A atmosfera controlada, aliada a tecnologias avançadas de refrigeração, pode fazer os frutos chegarem à mesa do consumidor com uma qualidade superior, mas é uma tecnologia que exige um investimento consideravelmente superior ao de uma câmara de refrigeração convencional.

O 1-metilciclopropeno (1-MCP), patenteado no Brasil sob o nome comercial de SmartFreshTM, pela AgroFresh, é outra tecnologia que vem sendo bastante utilizada no mercado de frutas frescas e surge como um aliado no transporte e armazenamento refrigerado.

O 1-MCP é um regulador de crescimento que age como inibidor da síntese de etileno, principal hormônio responsável pela indução do amadurecimento e senescência em frutos. Trata-se de um retardador do amadurecimento, prolongando a vida de prateleira do produto.

O SmartFreshTM é disponibilizado na forma de pó-solúvel, tabletes ou sachês, sendo de fácil aplicação em ambientes necessariamente herméticos, onde os frutos devem ser expostos ao produto. O produto pode ser aplicado na própria câmara de armazenamento e tem recomendação para o limão.

Sustentabilidade

Outra inovação no mercado de pós-colheita atual é a utilização de tratamentos sustentáveis, por meio de métodos de biocontrole e produtos de origem natural. Os impactos ambientais são reduzidos e a utilização de produtos químicos pode ser menor.

A AgroFresh, além do 1-MCP, também tem produtos na linha sustentável em seu catálogo. Um exemplo é Hortoxy® 150 e o Sanifood Super®, desinfetantes alimentícios formulados livres de perclorato, que não deixam resíduos no meio ambiente e que podem, inclusive, ser utilizados pela agricultura orgânica.

O FreshStart Clean é uma linha de detergentes para frutas biodegradáveis. O Clean Plus é outra linha de detergentes biodegradáveis, mas que vem ainda com efeito cicatrizante.

Através de técnicas de manejo e colheita adequadas, e adoção das tecnologias certas após a colheita é possível a apresentação de um produto de qualidade. O mercado tem lançado inovações que buscam cada vez mais atender aos produtores, consumidores e distribuidores e de modo a causar cada vez menos impactos ao meio ambiente.

A adoção de tais técnicas não só melhora a produtividade, como também impulsiona a competitividade nesse mercado tão importante no país.

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