Tecnologia de aplicação: proteção dos polinizadores

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Crédito: Koppert

Fernando Kassis Carvalho

fernando@agroefetiva.com.br

Alisson A. B. Mota

alisson@agroefetiva.com.br

Rodolfo Glauber Chechetto

rodolfo@agroefetiva.com.br

Engenheiros agrônomos e pesquisadores – AgroEfetiva

Ulisses Rocha Antuniassi

ulisses.antuniassi@unesp.br

Doutor e professor titular do Dep. de Engenharia Rural, FCA/UNESP

Márcio L. M. Santos

márcio.luiz253@gmail.com

Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia – FCA/UNESP

Os polinizadores são responsáveis pela transferência de pólen que resulta na fecundação e frutificação de muitas espécies vegetais. Diversas culturas agrícolas dependem ou são beneficiadas pelo serviço de polinização. Há milhares de animais capazes de realizar a polinização, mas as abelhas têm papel de destaque quando se pensa em culturas comerciais, principalmente as abelhas Apis mellifera.

Os inseticidas

Uma vez que as colônias geralmente estão próximas aos campos de produção ou pomares, onde o uso de inseticidas para o controle de pragas é feito, havia um questionamento sobre como se daria a coexistência entre apicultura e agricultura.

Essa preocupação ocorria pelo fato de muitos inseticidas também possuírem ação sobre as abelhas e pela ocorrência de incidentes, tanto no Brasil quando em outros países, onde o problema era maior devido a outros fatores, com escassez de alimento, ocorrência de invernos rigorosos, etc.

Nesse cenário, durante a última década houve um grande esforço de agências governamentais, universidades, empresas de pesquisas e organizações ligadas ao setor privado para o entendimento da relação entre a agricultura e a apicultura.

Uma das iniciativas de destaque no Brasil foi o movimento Colmeia Viva®, liderado pelo SINDIVEG (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal). Este mapeou causas, buscou soluções e criou materiais visando uma relação sustentável entre agricultura e a apicultura.

Equilíbrio do ecossistema

Entre 2019 e 2021, uma abrangente pesquisa exploratória, realizada pela AgroEfetiva® e a HP AgroConsultoria® para o Movimento Colmeia Viva® estudou diversas culturas agrícolas e propriedades rurais, e identificou práticas que garantem a coexistência e complementaridade entre a agricultura e a apicultura.

Primeiramente, deve-se entender onde estão e em quais fases das culturas as abelhas visitam as áreas agrícolas. Isto pode ocorrer antes da semeadura, quando há plantas daninhas em florescimento, ou durante o ciclo da cultura, principalmente quando esta estiver em florescimento.

Com base nisso, várias estratégias podem ser adotadas, como a dessecação antes do florescimento das plantas daninhas (dessecação antecipada), horário de aplicação, uso do controle biológico, já que esses organismos possuem alvos específicos, e não prejudicam as abelhas

A utilização de inseticidas seletivos às abelhas também é fundamental, pois em geral não são prejudiciais a elas. Outra prática importante é o tratamento de sementes, no qual inseticidas são aderidos na superfície das sementes que serão depositadas no solo e cobertas por esse, reduzindo o número de pulverizações nos estágios iniciais de desenvolvimento das culturas.

Além disso, cultivares transgênicas (como plantas Bt) são bastante utilizadas, as quais possuem genes específicos que exercem efeito apenas sobre pragas que se alimentarem delas, reduzindo a necessidade de aplicações de inseticidas.

Além das práticas discutidas, evitar pulverizar no horário de visitação das abelhas, avaliar se a direção do vento não está na direção de apiários, comunicar o apicultor sobre as pulverizações, para que ele possa tomar medidas adequadas, usar técnicas de redução de deriva (TRD), como pontas de pulverização adequadas, que não geram gotas muito finas, sujeitas às perdas por deriva, são fundamentais.

Boas práticas

A Tabela 1 traz uma lista de ações de boas práticas que dão sustentabilidade à relação agricultura-apicultura. Como visto, a comunicação entre os agricultores e apicultores, informando uns aos outros sobre locais dos apiários e data das aplicações, possibilitando tomadas de ações como o fechamento de colônias, aplicações quando a direção do vento estiver em sentido oposto à localização dos apiários, ou em horários nos quais as abelhas não estão no campo, o uso de cerca vivas, que servem como barreira para evitar que a deriva das aplicações atinja os apiários, são algumas das técnicas listadas.

Tabela 1. Ações de boas práticas e tecnologia de aplicação visando a coexistência e complementaridade entre a agricultura e a apicultura.

Boas práticas e tecnologia de aplicação para a proteção de polinizadores
Informar as coordenadas geográficas dos apiários aos aplicadores;
Observar o período de floração de plantas daninhas e das culturas antes das aplicações;
Fechamento das colônias antes das aplicações;
Uso de inseticidas seletivos e controle biológico durante a floração;
Comunicação entre os envolvidos (apicultores, agricultores e aplicadores);
Avaliação da direção vento;
Adoção de faixas de segurança e cercas vivas;
Observar o horário de aplicação com relação ao período de visitação das abelhas; Uso de técnicas de redução de deriva (TRD);
Suplementação alimentar, fornecimento de água e controle de pragas das colônias;
Boas práticas apícolas.

Fonte: AgroEfetiva.

Manejo dos apiários

O manejo correto dos apiários também é uma das ações mais importantes para que não haja perda de colônias, principalmente em períodos de maior escassez de alimentos ou períodos mais frios, por exemplo.

Isso não está relacionado apenas ao fornecimento suplementar de água e alimento, mas também a questões ligadas à localização, controle de temperatura, áreas de recuperação de colônias, controle de pragas e prevenção quanto ao ataque de predadores naturais.

Com relação à deriva das aplicações, que é o deslocamento das gotas pulverizadas para fora da área alvo pelo vento, muitas pesquisas também têm sido feitas para calcular as distâncias seguras entre a áreas aplicadas e áreas que devem ser protegidas (por exemplo, um apiário).

Os resultados dessas pesquisas têm sido usados por agências governamentais na elaboração de bulas dos defensivos, as quais têm trazido informações mais detalhadas sobre as técnicas que devem ser usadas (como classes de gotas) e a distância da faixa de segurança necessária proteção de áreas sensíveis.

Por fim, o que se vê é que a complementaridade e a coexistência entre a agricultura e a apicultura representam a realidade do campo. Em muitas situações, a busca dos apicultores por áreas com plantas cultivadas (como citros, maçã) para instalação dos apiários, bem como a busca dos agricultores por serviços de polinização, é mútua. Casos em que essa relação ainda não esteja bem estabelecida devem evoluir, sendo que já há conhecimento e técnicas para isso.

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