Patrick Lopes Gualberto
doclopes7@gmail.com
Ana Luisa Rodrigues Silva
aninhamj97@gmail.com
Engenheiros agrônomos e doutorandos do Programa de Pós-graduação em Entomologia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
O tomate italiano é suscetível a várias doenças foliares que reduzem a área fotossintética e a produção de fotoassimilados, prejudicando o desenvolvimento da planta e o enchimento dos frutos.
Doenças causadas por fungos
Pinta-preta (Alternaria solani): lesões irregulares e escuras que ocorrem primeiro em folhas velhas, mas podem se expandir para hastes e frutos. Com o desenvolvimento da doença, são formados anéis semelhantes a um alvo de tiro.
Requeima (Phytophthora infestans): lesões foliares começam nas folhas jovens e são grandes, irregulares e com aparência de encharcamento. Com o tempo, as lesões crescem e adquirem aspecto seco, e pode haver a dobra dos pecíolos das folhas. A doença ocorre em temperaturas mais amenas.
Mancha-de-estenfílio (Stemphylium solani e S. lycopersici): lesões irregulares, pequenas e acinzentadas nas folhas jovens. No centro das lesões mais antigas podem ocorrer orifícios. As lesões podem se unir, deixando as folhas com aspecto de queima e suscetíveis à queda.
Septoriose (Septoria lycopersici): manchas arredondadas, com coloração marrom escura nas bordas e acinzentada no centro, iniciando em folhas velhas. O centro da lesão pode apresentar pequenas pontuações negras. Afeta ainda o caule, pedúnculo e cálice.
Doenças causadas por bactérias
Mancha-bacteriana (gênero Xanthomonas): manchas nas bordas das folhas, no caule, pecíolo e pedúnculo, sendo escuras, circulares e encharcadas. Nos frutos ocorrem lesões brancas que ficam amarronzadas com o desenvolvimento da doença.
Pinta-bacteriana (Pseudomonas syringae pv. tomato): lesões escuras circundadas por halo amarelado e com aparência gordurosa. Ocorrem nas folhas, caules, pecíolos, flores e frutos. A doença é favorecida por temperaturas mais amenas.
Cancro-bacteriano (Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis): folhas mais velhas murcham e secam e causa a queda de frutos. Os frutos apresentam lesões esbranquiçadas de centro escuro, chamadas de “olho de perdiz”.
Doenças causadas por vírus
Vira-cabeça-do-tomateiro (Tospovírus): folhas ficam arroxeadas e as plantas não crescem normalmente. O broto superior fica caído e com pontuações escurecidas. Frutos ficam deformados, com manchas marrons. Doença transmitida por tripes.
Mosaico dourado (Geminivírus): ocorre amarelecimento intenso das folhas jovens, que ficam deformadas em formato de colher. Doença transmitida pela mosca-branca.
Danos
O tomate apresenta grande importância econômica para o Brasil. Entretanto, além de sua lucratividade, ele também se destaca como uma das olerícolas mais suscetíveis a problemas fitossanitários, devido à extensa área foliar que proporciona microclima favorável para o desenvolvimento de doenças.
As doenças na cultura do tomate podem causar lesões ou queda das folhas, diminuindo sua área fotossintética ou ainda danos qualitativos e quantitativos aos frutos, afetando diretamente o produto comercial.
Podem causar, ainda, queda de flores e frutos e até mesmo a morte da planta. Sendo assim, o manejo de doenças foliares está ligado à lucratividade do produtor, qualidade dos frutos e à saúde das plantas, fazendo com que o manejo eficiente seja essencial para que se possa produzir tomates de qualidade.
Controle e prevenção de doenças foliares
O primeiro passo para adotar medidas de controle é a correta identificação do agente causador da doença. O controle químico é o mais adotado no Brasil, e deve ser realizado exclusivamente com produtos fitossanitários registrados para a cultura.
Entretanto, para evitar aplicações excessivas de agrotóxicos e consequentes contaminações ambientais, é importante adotar primeiro medidas preventivas.
Principais medidas de prevenção:
– Sempre utilizar variedades resistentes, quando disponíveis;
– Várias doenças podem ser transmitidas por sementes e mudas contaminadas, portanto deve-se adquirir apenas àquelas com qualidade sanitária certificada;
– Eliminar plantas daninhas e restos culturais, pois podem ser fonte de inóculo para doenças e abrigar insetos-vetores;
– Manejar adequadamente insetos-vetores;
– Realizar a rotação de culturas, evitando cultivar solanáceas sucessivamente;
– Cultivar em espaçamento adequado, evitando criar microclima úmido, que favorece doenças fúngicas e bacterianas, e permitindo a ventilação;
– Doenças bacterianas são dispersadas por gotículas de água, por isso é interessante priorizar a irrigação por sulco ou gotejamento;
– Evitar causar ferimentos nas plantas durante o manejo;
– Desinfectar maquinários e equipamentos, evitando disseminar doenças para novas áreas;
– Caldas naturais podem ser utilizadas como fungicidas preventivos ou curativos, sendo: calda sulfocálcica, calda bordalesa e calda viçosa.
Hora de escolher
A escolha do produto fitossanitário deve considerar diversos fatores, como: qual doença está afetando o tomateiro, o nível de infestação e quais os produtos registrados para o manejo.
Deve-se buscar por produtos com preço acessível e de confiança, devendo estar devidamente registrados para a cultura de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Os produtos registrados para uso na cultura podem ser facilmente acessados através do Portal Agrofit (https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons).
Entre os principais produtos fitossanitários utilizados, podemos citar os ingredientes ativos: azoxistrobina para controle da mancha-de-alternaria e septoriose; mancozebe para o controle de requeima, septoriose e alternaria; clorotalonil para controle de mancha-de-alternaria, requeima e mela; tiabendazol para o controle de fusariose; e, por fim, o sulfato de cobre, que pode controlar diversas doenças.
Sintomas
As doenças foliares mencionadas apresentam sintomas característicos, todavia, dependendo das condições ambientais, pode haver variações que dificultam a identificação. É interessante utilizar no campo um livro-guia de identificação com riqueza de imagens, permitindo comparar com os sintomas observados nas plantas.
Condições ambientais adversas, com alterações drásticas de temperatura ou umidade, podem causar danos as folhas e aos frutos que são frequentemente confundidos com doenças. Alguns dos sintomas foliares causados por estresses ambientais são:
- Edema: anomalia ocorre quando há níveis de umidade excessivos no solo ou no ar. Folhas inferiores apresentam lesões semelhantes a bolhas.
- Síndrome da folha pequena: folhas jovens amareladas e com tamanho muito reduzido. Esta anomalia está associada ao solo quente, com pouca aeração e alta umidade.
- Prateamento ou quimera: folhas com manchas prateadas, flores podem ficar totalmente estéreis. Sintomas ocorrem quando há choques térmicos e a temperatura cai rapidamente abaixo de 18ºC.
Reflexos
Nos frutos, estresses ambientais podem causar rachaduras, frutos ocos, queimas, deformações, descolorações e amadurecimento desigual. O manejo das condições ambientais para evitar estes sintomas é possível principalmente em cultivo protegido, onde é possível evitar choques térmicos, otimizar a umidade do solo e proporcionar ventilação adequada. Também pode-se optar por variedades mais tolerantes a estes estresses.
Sintomas foliares podem ocorrer ainda devido a adubações incorretas e aplicação incorreta de herbicidas. Deve-se realizar a adubação sempre levando em consideração análises foliares e de solo, pois as plantas podem ser afetadas tanto pela deficiência quanto pelo excesso de nutrientes.
Os sintomas observados nas folhas variam com o nutriente e se ele está em falta ou demasia. Já lesões causadas por herbicidas serão visíveis após o manejo de plantas daninhas, variando de maneira significativa com os produtos utilizados e seus princípios ativos.
Impacto econômico das doenças foliares
Aproximadamente 15% dos custos de produção são destinados ao controle de doenças foliares em cultivos de tomate. Apesar de não existir um valor que represente o dano econômico total causado por essas doenças, sabe-se que elas causam perdas significativas na produtividade e devem ser manejadas.
O impacto econômico causado pelas doenças pode variar de acordo com diversos fatores, como a região do cultivo, qual ou quais doenças estão afetando o tomateiro e qual tática de controle o produtor decide empregar.
Deste modo, o impacto econômico que o produtor enfrentará pode ser extremamente variável, desde perdas irrelevantes por uma doença facilmente controlada, até mesmo grandes perdas econômicas devido a um conjunto de doenças e/ou aplicação de manejo equivocado que não foi capaz de controlar a doença de forma eficiente.
Assim, se faz de grande importância a adoção de táticas de manejo integrado para prevenir a ocorrência e controlar doenças adequadamente.
Estratégias sustentáveis
O manejo sustentável na agricultura busca pelo bem-estar social dos agricultores e da comunidade, a viabilidade econômica, e pela conservação do meio ambiente. Assim, busca-se produzir tomates de qualidade, de forma rentável sem prejudicar o ecossistema, e existem táticas para o manejo de doenças que podem ser adotadas para aumentar a sustentabilidade de uma produção.
A maioria das táticas abordadas atuam de forma preventiva e o uso de produtos químicos deve ser considerado somente como última opção. Esperar que o tomateiro apresente sintomas de doenças para a aplicação de produtos químicos não representa o manejo sustentável, um correto manejo das doenças deve acatar todos as táticas preventivas para que não seja necessário a utilização do método químico.
Ao iniciar um cultivo de tomate, a primeira etapa é definir qual cultivar será plantada. Diferentes regiões ou mesmo áreas irão apresentar diferentes susceptibilidades a doenças. É importante conhecer o histórico da área e o clima da região, assim é possível saber qual as principais doenças daquele local e buscar cultivares resistentes a essas doenças.
Uma adubação adequada da produção é uma etapa vital tanto para obter uma boa produtividade quanto para evitar doenças. Uma planta com uma nutrição equilibrada, apresenta resistência a doenças.
O manejo cultural, como escolher o espaçamento adequado entre as plantas, evitando o adensamento, a poda no momento ideal, retirar folhas mortas e plantas daninhas deixando um chão limpo, apesar de parecer simples, é um grande aliado no combate a doenças de plantas.
Os demais métodos de prevenção já foram abordados anteriormente. Mas o principal intuito é repassar a mensagem de que, para realizar o manejo sustentável não são necessários equipamentos caros ou altas tecnologias, com o básico bem feito é possível reduzir a aplicação de produtos químicos, evitando contaminações ambientais e custos desnecessários com agroquímicos.