Tomateiro: controle da murcha de fusário

0
328
Créditos Hélcio Costa

Carlos Antônio dos Santos

Engenheiro agrônomo, doutor em Fitotecnia e pesquisador – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

carlosantoniods@ufrrj.br

Margarida Goréte Ferreira do Carmo

Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UFRRJ

Juliane Ferreira Pinto

Graduanda em Agronomia – UFRRJ

O tomateiro é suscetível a diversos agentes fitopatogênicos que podem prejudicar substancialmente o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, afetar a sua produção.

As doenças causadas por patógenos habitantes do solo requerem atenção especial na tomaticultura por resultarem em perdas na produção e na inviabilização de áreas para o seu cultivo. Estes patógenos comumente apresentam estruturas de resistência, além de atividade saprofítica que lhes permitem sobreviver por vários anos no solo, mesmo sem a presença do tomateiro, o que dificulta ou impossibilita o plantio da cultura em determinadas áreas. Este problema se agrava quanto o cultivo é feito em ambiente protegido.

A murcha de fusário

A murcha de fusário é uma importante doença do tomateiro causada por Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (Fol), fungo habitante do solo e com especialização à cultura do tomateiro. Este fitopatógeno apresenta atividade saprofítica, o que garante a sua sobrevivência pela colonização da matéria orgânica presente no solo e produz esporos de resistência, conhecidos como clamidósporos, que lhes permitem sobreviver no solo por períodos superiores a 10 anos. 

O patógeno, quando presente no solo, é estimulado pelos exsudados liberados pelas raízes do tomateiro, se desenvolve até a adesão às raízes, através das quais penetra nos tecidos da planta até atingir e colonizar os vasos do xilema. 

A presença de ferimentos diversos, como os decorrentes de danos mecânicos em capinas e ataques de nematoides, dentre outros, facilita o processo de penetração do patógeno. O cultivo em solos ácidos e adubações desequilibradas, incluindo a adubação com fontes amoniacais de nitrogênio, contribui para uma maior severidade da doença.

Sintomas

À medida que o patógeno vai colonizando os feixes vasculares da planta, vai bloqueando o livre transporte de água e nutrientes, levando ao desenvolvimento de sintomas típicos, como murchas, deficiência nutricional, amarelecimento de folhas, subdesenvolvimento da planta, queda de flores e frutinhos, e até mesmo a morte das plantas.

A identificação da doença pode ser feita pela observação dos sintomas citados, mais a observação de escurecimento nos vasos. Para tanto, deve-se fazer um corte transversal do caule e observar os vasos visando identificar a presença de necroses, que podem ser em áreas mais ou menos extensas, dependendo da severidade da doença.

A confirmação deste diagnóstico pode ser feita por meio de isolamento do patógeno em meios de cultura e observação em microscópio óptico. A doença pode se manifestar em qualquer estágio de desenvolvimento da planta, sendo mais comum em plantas na fase adulta, no estágio de florescimento e frutificação.

Raças fisiológicas

O patógeno F. oxysporum f. sp. lycopersici apresenta especialização a nível de variedade ou cultivar do tomateiro, classificadas como raças fisiológicas. Até então já foram identificadas três raças de F. oxysporum f. sp. lycopersici: raças 1 e 2, que são amplamente disseminadas no Brasil e no mundo; e raça 3, identificada mais recentemente, mas que também já se encontra disseminada em áreas de cultivo de tomateiro no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Ceará e São Paulo.

A maioria das cultivares de tomateiro comercializadas pelas empresas de sementes são resistentes às raças 1 e 2 de Fol, e outras são resistentes às três raças do patógeno.

Regiões mais afetadas

Dentre as causas que contribuem para o aumento de perdas de produtividade pela murcha de fusário estão o cultivo sequenciado de tomateiro em áreas com histórico de ocorrência da doença, a dispersão recente da raça 3 em novas áreas e a menor oferta, até então, de cultivares resistentes a esta raça.

Além destes aspectos, existem ainda outros que contribuem para o aumento das perdas pela doença, como manejo inadequado da fertilidade do solo, a exemplo da não correção da acidez, adubação desequilibrada ou inadequada e práticas de manejo de solo que favorecem a dispersão dos esporos do patógeno dentro da própria área e entre as áreas de cultivo.

O uso de sementes e mudas infectadas e o tráfego de máquinas estão entre as práticas que mais contribuem para disseminação do patógeno entre as diferentes regiões. 

Formas de controle

A principal estratégia para manejo de doenças causadas por patógenos de solo é a prevenção. Com isso, o produtor deverá usar sementes e mudas de boa qualidade, água de irrigação de boa qualidade, evitar movimentação excessiva do solo e realizar limpeza de máquinas e implementos utilizados nas lavouras. 

Nas áreas onde a doença já é recorrente, as opções disponíveis envolvem a rotação de culturas (preferencialmente com gramíneas), correção da acidez do solo, adubação equilibrada, limpeza de máquinas e implementos, destruição dos restos culturais e, principalmente, uso de cultivares resistentes à(s) raça(s) presentes na região.

Atualmente, também têm sido disponibilizados porta-enxertos resistentes à doença. Mas, é importante verificar se este possui resistência às três raças de Fol, ou à(s) raça(s) predominante(s) na região produtora, e o custo adicional.

O controle químico não está entre medidas prescritas para murcha de fusário, pela baixa eficiência e complexidade do ambiente solo. O controle biológico tem sido promissor em alguns estudos, principalmente com a utilização de algumas estirpes de Trichoderma spp. e Bacillus spp.

Fique atento

O uso de cultivares resistentes consiste na medida mais econômica, limpa e segura para o controle da murcha de fusário do tomateiro. No entanto, para que funcione é necessário que a cultivar escolhida possua genes de resistência à(s) raças(s) presentes na área de cultivo e que se conheça previamente estas raças predominantes na região. 

Como dificuldades, temos: muitas vezes há o desconhecimento sobre a(s) raça(s) predominante(s) na região; a oferta de cultivares resistentes às raças 1, 2 e 3 ainda é reduzida, comparado às demandas do mercado; as informações nos portfólios das empresas nem sempre são claras o suficiente para garantir uma escolha segura pelo produtor.

Este cenário tem resultado em preocupação por parte dos produtores das áreas onde a doença é frequente e irá requerer ações alinhadas das empresas públicas e privadas para o aumento da disponibilidade de cultivares resistentes às três raças.

O uso de mudas enxertadas em porta-enxertos resistentes às três raças pode ampliar as possibilidades do produtor na escolha da planta copa. No entanto, isto representa um aumento significativo nos custos de produção e comercialização das mudas.

Pesquisas

Estudos realizados por instituições brasileiras de pesquisa indicam aumento das áreas contaminadas com a raça 3 de Fol, provavelmente, pelo cultivo frequente de cultivares resistentes às raças 1 e 2.

O uso de cultivares resistentes, associado a boas práticas de prevenção e manejo adequado do solo, são importantes para assegurar a redução das perdas causadas pela murcha de fusário em lavouras de tomate.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!