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terça-feira, abril 16, 2024
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Tratamento de sementes: Qual a importância no contexto agrícola?

Autores

Amanda Carvalho Penido
Engenheira agrônoma e mestra em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
apenidoufla@gmail.com
Venicius Urbano Vilela Reis
Técnico agrícola e graduando em Agronomia – UFLA
veniciusreis@gmail.com
Fotos: Luize Hess

As sementes são a principal forma de dispersão na maioria das espécies e dita por muitos como o principal insumo da agricultura. No entanto, a importância das sementes no contexto agrícola é ainda superior, pois é nela que está todo o veículo de tecnologia obtido por meio de pesquisas e melhoramento genético.

É a semente que leva ao agricultor as características de cada cultivar para uma determinada região, clima, solo, além da tolerância ou resistência a diferentes doenças e pragas, o que permite o sucesso na produção.

Qualidade

A utilização de sementes de elevada qualidade é extremamente importante, pois garante ao agricultor uma implantação correta e bem-sucedida da lavoura. Essa qualidade é composta por um complexo de atributos determinantes no desenvolvimento da semente quando colocada no solo, que são pautados na qualidade física, fisiológica, genética e sanitária.

Dentre os atributos de qualidade da semente, o aspecto sanitário é um dos mais importantes. A proliferação de fungos de solo e de armazenamento são importantes causadores de perda da qualidade, pois as sementes contaminadas podem provocar danos imediatos à germinação e vigor, com consequência prática no estabelecimento da cultura em campo. Além disso, as sementes são importantes fontes de inóculo infectivo nas áreas, seja a curta e/ou a longas distâncias.

Tratamento de sementes

Nesse contexto, o tratamento de sementes se faz necessário, o qual tem por objetivo assegurar a qualidade sanitária das sementes, por meio da aplicação de produtos químicos ou biológicos que sejam eficientes para controlar fitopatógenos, principalmente fungos associados às sementes ou aqueles presentes no solo, além de atuar contra o ataque inicial de pragas específicas do solo, sendo umas da primeiras práticas realizadas no manejo integrado de pragas (MIP).

Sem a utilização do tratamento de sementes não há como proteger este insumo tão importante para alcançar altas produtividades e, além disso, se torna difícil chegar ao máximo potencial produtivo da lavoura sem o mesmo. Por isso, nos dias atuais, são raros os casos de plantações que não utilizam sementes tratadas.

Evolução da técnica

O tratamento de sementes (TS) é uma técnica considerada antiga na agricultura. A técnica era realizada sem nenhuma segurança do operador e na própria fazenda, de maneira precária. Logo depois, os agricultores começaram a importar máquinas, o que representou um importante avanço na qualidade das aplicações.

No entanto, com a grande utilização da prática nas fazendas, surgiu a necessidade de assegurar uma maior qualidade nas aplicações de fungicidas e inseticidas, com o tratamento de sementes feito na indústria chamado de Tratamento de Sementes Industrial (TSI).

O crescimento tecnológico nesse segmento impulsionou o surgimento de centros de tratamento de sementes, com máquinas de alta tecnologia e nível de automação no processo. Diversas empresas que possuem portfólio de produtos para tratamento de sementes têm investido em treinamento e avaliação de processos como liberação de pó, recobrimento, fluidez, dosagem por semente e qualidade final da semente para entregar um pacote completo ao agricultor com maior garantia da qualidade.

O tratamento de sementes tem um avanço em dimensão global, e, segundo Nunes (2016), a adoção do TS multiplicou em seis anos, com um valor de mercado de 870 milhões no ano de 2015. A cultura em que mais se utiliza o tratamento de sementes no Brasil é a soja, com um valor próximo de US$ 520 milhões anuais, e em segundo a cultura do milho, com valor de US$ 230 milhões anuais.

Atualmente, vários são os produtos levados através da semente, como inseticidas, fungicidas, nematicidas, inoculantes e micronutrientes, havendo assim a necessidade de segurar estes materiais nas sementes sem que prejudique a qualidade final da semente comercializada.

Além disso, a tecnologia de aplicação do produto deve ser realizada de forma correta e exige conhecimento técnico. Por exemplo, o tamanho da semente pode influenciar a regulagem da máquina de tratamento, e por isso o cálculo da dose correta deve ser feito por quilo de semente a ser tratada no caso da soja e algodão, e por unidade, no caso de sementes de milho.

Benefícios

O tratamento de sementes é uma técnica essencial, pois representa uma segurança no campo do agricultor durante os primeiros dias de desenvolvimento da lavoura. Para as culturas do milho e da soja, por exemplo, essa tecnologia promove um bom controle da lagarta-elasmo, lagartas do complexo Spodoptera, percevejos e cigarrinha do milho.

Além disso, a proteção da semente permite uma maior força de enraizamento durante a emergência da plântula. Esta característica garante maior vigor no momento do arranque da plântula, ponto crucial para a garantia do desenvolvimento das culturas.

Outro ponto positivo é que em épocas de estresse hídrico esse tratamento garante a proteção de todo o potencial genético e produtivo presente na semente, além de evitar que seus elementos percam a eficiência.

A prática do tratamento de sementes é comum pelos agricultores, porém, a maioria ainda o faz na própria fazenda. No entanto, alguns problemas podem ser encontrados no campo quando o agricultor faz o tratamento de sementes na fazenda (on farm), como por exemplo: o uso de produtos não indicados para a cultura; desconhecimento da interação entre produtos e ocorrência de fitotoxidades; doses inadequadas do produto, que podem causar superdosagem e prejudicar a qualidade  da semente e/ou subdose, não apresentando o efeito protetor; máquinas não adequadas ou desreguladas que podem causar danos mecânicos na semente.

Todos esses fatores podem causar problemas durante a emergência da plântula e prejudicar o desenvolvimento inicial. Por isso, o TSI veio para auxiliar o agricultor e tornar essa prática ainda mais eficiente e rentável.

Os benefícios do TSI são inúmeros, como: precisão de dosagem, redução acentuada de pó, economia de tempo, diminuição de risco para saúde humana e ambiental, recobrimento uniforme das sementes, fluidez das sementes (plantabilidade), entre outros.

No entanto, mesmo com todos os benefícios do tratamento industrial de sementes, muitos agricultores não compram as sementes tratadas na indústria devido à necessidade de aplicação do inoculante ou de outros produtos antes da semeadura na fazenda.

Além disso, existe ainda uma desconfiança se realmente o produto que foi aplicado na semente é o indicado e possui o efeito desejado. Porém, ao fazerem a escolha de tratar a semente na fazenda, podem enfrentar problemas com a aplicação incorreta dos produtos, pois as máquinas utilizadas não apresentam boa assertividade, possuem baixa precisão na colocação da dose do produto e da desuniformidade de cobertura da semente, o que não ocorre quando se faz o tratamento na indústria. 

As máquinas de TSI possuem tecnologia de última geração e possibilitam a aplicação de forma uniforme, na dose correta e em elevado nível de automação, minimizando assim o erro de dose e entregando ao agricultor uma semente com maior qualidade.

Essa qualidade de aplicação se dá pela eficiente aplicação primária dos produtos, garantindo maior recobrimento na aplicação do produto, uniformidade na aplicação secundária e eficiência no contato de semente-semente, para maior recobrimento e redução de danos mecânicos.

Inovações

Uma tecnologia que chegou para auxiliar a tecnologia de aplicação do produto é a utilização do polímero, um composto inerte que adere todos produtos aplicados nas sementes, como fungicidas e inseticidas. Durante o tratamento das sementes ocorre o desprendimento de pó, que nada mais é que a perda dos produtos aplicados da semente (Goulart, 2005).

Quanto maior este desprendimento, maior a presença de sementes com subdoses, acarretando em maior ineficiência do tratamento. Além disso, o uso dessa tecnologia permite outras vantagens, como por exemplo, a proteção da semente no campo, pois após uma chuva intensa ele impede que o produto aderido na semente seja lixiviado, garantindo que a planta que nascerá realmente protegida e, ainda, melhora a plantabilidade, visto que a presença do polímero favorece o deslizamento das sementes no disco de semeadura e evita a quebra das sementes, o que reflete diretamente no estande em campo.

Outro grande avanço nesse setor, já disponível para os agricultores na safra 2019/20, é o tratamento de sementes tecnológico (TST), em que a empresa leva para dentro da fazenda máquinas de alto nível tecnológico (por meio de um caminhão) para a evolução do tratamento on farm, de forma que seus resultados se igualem ao TSI.

Custo-benefício

Embora a utilização de sementes tratadas industrialmente ofereça ao agricultor todos estes benefícios, o custo inicial desse tipo de tratamento é maior. No entanto, vale ressaltar que o sucesso da lavoura é definido no momento da semeadura.

Portanto, é preciso proteger o insumo semente, pois a semeadura corresponde, em média, a 70% dos investimentos de uma lavoura, e fazer um replantio devido aos erros cometidos com o tratamento na fazenda podem custar ao agricultor um preço muito superior ao que se investisse em um tratamento industrial, que lhe garante maior segurança e retorno financeiro.

Segundo estudos, um lote de sementes tratado de forma homogênea e individualizada pode resultar em aumento de três a oito sacas de soja, quando comparado àquela tratada na fazenda, e até 13 sacas comparada à não tratada (Decarli, 2019).

O custo do tratamento de sementes fica em torno de 3% do custo total da lavoura, e a diferença entre o tratamento na fazenda (on farm) e na indústria (TSI) é de apenas uma saca de soja, ou seja, o custo é muito baixo para o agricultor correr o risco de perder uma semente de qualidade ou ter que fazer o replantio.

Portanto, o agricultor que faz um tratamento de sementes correto assegura o desenvolvimento mais sadio, vigoroso e mais rápido das plantas, tornando-as mais propícias a expressar seu potencial produtivo. Além disso, permite a segurança do estande de plantas, assegurando maiores níveis de produtividade, maior eficiência dos insumos utilizados, uso racional de defensivos agrícolas e maior rentabilidade.

Por fim, a decisão de não realizar o tratamento de sementes é um grande risco, pois é uma tecnologia barata, comparada aos prejuízos que a falta da sua utilização pode trazer.

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