Trichoderma: doenças de solo sob controle

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Trichoderma: doenças de solo sob controle. O artigo apresenta o Trichoderma, com informações sobre manejo, suas funções, os desafios do uso e mais. Confira.

Christiane Ceriani Aparecido

Bióloga, doutora em Agronomia/Proteção de Plantas e pesquisadora Científica – Instituto Biológico – São Paulo

christiane.aparecido@sp.gov.br

Cristiane de Pieri

Bióloga e pós-doutoranda em Proteção de Plantas – UNESP

pieri_cris@yahoo.com.br

foto genérica de plantação
Foto: Shutterstock

Inúmeras são as doenças que podem causar impactos negativos para a cultura, sendo que os fungos de solo são altamente prejudiciais, uma vez que eles podem afetar de forma direta a germinação, a emergência, o desenvolvimento vegetativo e o ciclo da cultura, podendo, também, reduzir a produtividade e a qualidade dos tubérculos.

Os principais fungos de solo que causam prejuízos à cultura são: Rhizoctonia solani, Helminthosporium solani, Spongospora subterranea, Fusarium spp., Verticillium dahliae, Sclerotinia sclerotiorum, Streptomyces sp. e Cylindrocladium clavatum.

Manejo químico ou biológico?

Embora existam vários produtos químicos registrados com resultados positivos, observa-se um risco variando de médio a alto, no que se refere à resistência desenvolvida por parte dos patógenos frente a estes defensivos.

Além disso, o controle químico pode representar uma elevada parcela no que se refere aos custos, podendo, muitas vezes, se mal planejado, inviabilizar a produção. Assim, o controle biológico tem se mostrado uma estratégia mais adequada, por reduzir a severidade das doenças, além do menor risco que proporciona ao meio ambiente e ao consumidor.

Também, o uso destes organismos não patogênicos, além de impedir ou limitar o desenvolvimento do organismo alvo, promove o aumento da resistência e, em alguns casos, também a promoção de crescimento das plantas protegidas.

O Trichoderma

Dentre os biocontroladores utilizados, a aplicação de diferentes espécies pertencentes ao gênero Trichoderma tem sido realizada com considerável sucesso em inúmeras culturas, além da batata, como: soja, feijão, algodão, espécies florestais, como pinus, seringueira, eucalipto e também em frutíferas e ornamentais, entre outras.

Com relação aos mecanismos de ação, fungos deste gênero podem atuar por meio de competição (por nutrientes e espaço), micoparasitismo, indução de resistência e antibiose, sendo este último o principal modo de ação.

A produção de metabólitos secundários tóxicos aos patógenos (antibiose), sejam eles voláteis ou não, impede e/ou dificulta o crescimento, infecção e/ou produção de propágulos infectivos e/ou de estruturas de resistência.

Atuação

Conforme mencionado anteriormente, espécies do gênero Trichoderma podem ser responsáveis pela promoção do crescimento das plantas, nas quais é utilizado devido à produção, como metabólitos secundários, de hormônios (ácido indolacético, citocininas, giberelinas, ácido abscísico) que induzem as plantas ao crescimento.

Existem, ainda, outras substâncias que auxiliam na solubilização de nutrientes (fosfato, ferro, cobre, manganês e zinco), tornando-os disponíveis no solo de forma mais fácil, para que as plantas consigam absorvê-los e utilizá-los nos processos de crescimento e produção. Também, a presença de Trichoderma pode resultar em incrementos na eficiência do uso de nutrientes, como o nitrogênio.

Manejo

A aplicação das espécies de Trichoderma pode ser realizada por meio do tratamento de sementes, aplicação da massa de conídios via pulverização, no caso de aplicações foliares, incorporação ao substrato de cultivo ou, ainda, ao sulco de plantio.

Convém ressaltar que, no tratamento de sementes, o cultivo pode estar protegido desde a semeadura. Atualmente, existem diversos biodefensivos registrados. Existem formulações liquidas e sólidas, e o avanço no que se refere à utilização está atrelado ao avanço na legislação.

Pesquisas

Dados registrados em inúmeros estudos demonstram que os fungos do gênero Trichoderma possuem amplas possibilidades de aplicação, tanto no que se refere ao biocontrole de patógenos foliares quanto ao de patógenos radiculares.

Inúmeros estudos têm comprovado a eficácia dos bioprodutos, dentre os quais é possível citar o controle do mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) e de Fusarium com isolados de Trichoderma harzianum.

Em ambos os patossistemas houve expressivo controle, sendo que no caso do mofo-branco foi constatada redução de quase 100% da população de apotécios (estruturas nas quais se formam as unidades infectivas do fungo). Na interação Trichoderma x mofo-branco o biocontrole se dá por meio da antibiose, sendo este mecanismo identificado, também, em interações entre o biocontrolador e fungos-patógenos de plantas produtoras de aflatoxinas (substâncias altamente tóxicas aos seres humanos). Nestas interações foi observada diminuição da produção de aflatoxinas.

Também é possível inferir a rizocompetência de Trichoderma, que é caracterizada como a capacidade do biocontrolador em colonizar a rizosfera da planta, vencendo a competição com outros organismos. Como resultado da colonização das raízes, os mecanismos de defesa da planta são ativados também. Observa-se, portanto, que uma ação do biocontrolador protege diretamente e, também, devido à ativação de outros mecanismos, indiretamente a planta tratada.

Em alguns estudos conduzidos pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia foi constatada a efetividade antagônica de espécies de Trichoderma spp. in vitro em testes de pareamento direto, em testes que avaliam a efetividade do controle de fitopatógenos por meio da produção de metabólitos voláteis (teste de antibiose) e também in vivo.

Os resultados mostram que T. harzianum. T. asperellum, T. longibrachiatum e outras espécies do gênero Trichoderma como promissores agentes antagônicos no controle da sarna da batata ocasionada por bactérias do gênero Streptomyces sp. e também da doença mal-do-pé em batata-doce, causada pelo fungo Diaporthe destruens.

Desafios

É importante informar que, apesar dos resultados positivos na utilização, um problema bastante importante no uso de tais produtos refere-se ao controle de qualidade, principalmente devido à ausência de metodologias padronizadas para as avaliações, o que dificulta a comparação dos resultados e, consequentemente, torna o processo de registro de um produto mais demorado.

No Brasil, os principais desafios referem-se à manutenção dos biodefensivos, uma vez que o fungo necessita de condições especiais de temperatura e umidade, e à logística de produção e distribuição, uma vez que a extensão do País é imensa.

Em ambas as situações, o fungo precisa chegar em boas condições ao campo no momento da aplicação, para que o poder de atuação seja mantido, uma vez que fungo necessita colonizar o substrato para proteger a cultura, sendo as aplicações realizadas de forma preventiva.

Vamos à calculadora

O custo médio de uso dos produtos à base de Trichoderma disponíveis no mercado brasileiro têm variado, em média, de R$ 75,00 a R$ 320,00 (considerando os últimos 10 anos), sendo importante ressaltar que estes valores médios dependem da marca comercial, formulação, cultura e patógeno-alvo. Na cultura da soja, por exemplo, o custo de aplicação varia de uma saca a uma saca e meia por hectare, semelhante à aplicação de fungicidas químicos.

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