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Trichoderma na pós-colheita elimina mofo-branco

Cristiane de Pieri
Bióloga, doutora em Ciência Florestal – UNESP e professora do Curso de Agronomia – FAEF, Garça (SP)
pieri_cris@yahoo.com.br

O mofo-branco, doença popularmente conhecida como podridão de esclerotínia, é causado pela espécie de fungo Sclerotinia sclerotiorum. Esse fitopatógeno tem uma ampla gama de hospedeiros. Estima-se que ele infecte mais de 400 espécies, dentre elas diversas espécies agrícolas de interesse econômico, como: girassol, alcachofra, alface, abóbora, feijão, algodão, chicória, amendoim, batata, melão, pepino, berinjela, tomate, soja, etc.
O mofo-branco é uma doença de grande importância no Brasil, principalmente para a cultura do feijão, da soja e do algodão.
Na década de 70, quando houve a primeira epidemia de S. sclerotiorum na soja, as perdas chegaram em 70%. No feijoeiro, anos mais tarde os prejuízos chegaram a 100% em áreas irrigadas por pivô central. Já na década de 90 foi a vez da cultura do algodoeiro sofrer com os danos com a doença.
Até os dias atuais, S. sclerotiorum causa perdas na produção, as quais podem chegar à ordem de 30 a 50%, dependendo da cultura atacada. Em períodos chuvosos e sem medidas preventivas de controle, as perdas podem chegar a 100%.

Pelo Brasil afora

Além de atacar uma variedade de espécies agrícolas de importância econômica, este fungo possui ampla distribuição geográfica, é encontrado em diferentes regiões produtoras, sejam temperadas, tropicais e subtropicais e, no Brasil está no Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
Isso faz com que a doença, em algumas regiões, ataque o ciclo todo de uma determinada cultura, ou seja, incidindo desde a fase de emergência, passando pela fase vegetativa até a fase reprodutiva. Temperaturas entre 15 a 25ºC e alta umidade relativa favorecem o desenvolvimento da doença no campo.
Para o feijoeiro, a doença tem ocorrência entre os meses de outono e inverno, onde há baixa na temperatura (15 à 25ºC), principalmente no Centro-Sul do País.

Sintomas

Esta doença pode atacar todos os órgãos da cultura hospedeira, desde hastes, ramos, flores, frutos, até raízes. Lesões com aspectos encharcados nos órgãos acometidos pelos fungos são tidos como sintomas iniciais da doença. A podridão na região do caule da planta é a principal sintomatologia causada pelo fungo em seus principais hospedeiros.
Como sintomas secundários observa-se o amarelecimento e murcha da parte aérea, seguido do secamento das folhas. É facilmente identificado nas culturas que infecta pelo micélio branco com aspecto contonoso que cresce nas superfícies dos tecidos lesionados.

Disseminação

O mofo-branco produz estruturas de resistência (sobrevivência), chamados de escleródios, que fazem com que o inóculo permaneça viável por longos períodos no solo (de meses há muitos anos (> 10 anos)).
Quando em condições edafoclimáticas favoráveis (elevada umidade e temperaturas iguais ou abaixo de 20ºC) e hospedeiro suscetível na área, essas estruturas germinam e dão continuidade ao ciclo de vida do fungo. As estruturas de resistência podem ficar abrigadas no interior ou sobre as sementes de plantas cultivas, sendo um dos meios da sua disseminação. Implementos agrícolas ou ainda a água de irrigação são outros meios.

Controle

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Como manejo para o mofo-branco, além do cuidado para não introduzir sementes contaminadas em áreas livres do patógeno, é adotado o controle cultural com a rotação de culturas tomando-se o devido cuidado para não fazer uso de espécies suscetíveis ao fitopatógeno, uma vez que este fungo possui muitos hospedeiros, e ainda ficar atento a algumas daninhas que podem servir de hospedeiros alternativos ao fungo, como a corda de viola e o picão preto.
Recomenda-se, também, aumentar o espaçamento entrelinhas, utilizar menor densidade de plantas para promover maior aeração e entrada de luz, desfavorecendo o microclima propício para o desenvolvimento da doença; controle da água de irrigação e ainda cultivares mais eretas.
O controle genético é feito com genótipos parcialmente resistentes ou tolerantes. O controle físico, como a solarização do solo (uso de polietileno transparente por no mínimo 70 dias sob o solo, reduz consideravelmente os escleródios viáveis no solo).
O controle químico é feito com o uso de fungicidas específicos (com ingredientes ativos fluazinam, carbendazim, tiofanato metílico, etc.) registrados para a cultura acometida. Mesmo sendo um dos métodos mais utilizados, os resultados do controle químico dependem do ingrediente ativo utilizado, têm um custo alto e não é efetivo para as estruturas de sobrevivência do fungo que permanecem no solo.
Os escleródios, germinando, podem infectar novas plantas. Deste modo, o manejo integrado de doenças (MID) é uma das alternativas para redução da fonte de inóculo nas lavouras aliado ao controle biológico com o uso de microrganismos antagônicos, como a bactéria Bacillus subtilis e do fungo Trichoderma spp. que parasita e degrada os escleródios, reduzindo a densidade do inóculo do patógeno nas áreas infestadas e diminuindo a sua efetividade.

Novas estratégias biológicas

O controle biológico utilizando o antagonista do gênero Trichoderma é uma estratégia para o controle de S. sclerotiorum em diferentes culturas. Existem, hoje, vários produtos comerciais com o gênero Trichoderma. Segundo a base de dados do Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit, 2021), há mais de 30 registros de produtos biológicos, sendo um à base do fungo T. koningiopsis, um à base de T. stromaticum, dez à base de T. asperellum e vinte e dois à base de T. harzianum.
Produtos comerciais à base de Trichoderma podem ser aplicados em sementes, em substratos (na produção de mudas), na parte aérea das plantas, diretamente no solo, sobre a palhada, etc.
A melhor época para a aplicação do antagonista é na fase de sobrevivência do fungo, ou seja, quando as estruturas de resistência (escleródios) se encontram no solo na sua fase de dormência ou ainda de pré-germinação, onde o fitopatógeno encontra-se vulnerável e com pouca mobilidade no campo.
Com isso, a melhor fase para se utilizar o fungo antagonista é na pós-colheita. Nesta fase, os escleródios em dormência são parasitados pelo Trichoderma sp..

Ação

Espécies do gênero Trichoderma agem como fungos antagônicos por diferentes processos: hiperparasitismo e micoparasitismo (antagonista se alimenta do fitopatógeno), antibiose (pela liberação de metabólitos voláteis e não voláteis), indução de resistência ou competição (por espaço, por nutriente, por luz, por oxigênio, etc.).
Estima-se que as ações antagônicas do Trichoderma ocorram na faixa de 20 a 30ºC, sendo diminuídas ou inibidas em temperaturas abaixo de 15ºC e acima de 37ºC. Vários trabalhos apontam a eficiência do potencial antagônico de espécies de Trichoderma contra S. sclerotiorum in vitro e no campo.
Testes in vitro com Trichoderma spp. advindos de diferentes agroecossitemas mostram-se eficientes contra a viabilidade dos escleródios do mofo-branco em diferentes culturas, como soja, feijão, alface, etc. Além da capacidade antagônica, há espécies que inibem os efeitos maléficos na germinação de sementes e ainda proporcionam aumento na massa de matéria seca das plantas, ou seja, podem promover o crescimento da parte aérea nas culturas.
A utilização do trichoderma em qualquer fase do ciclo da cultura e até mesmo a utilização na pós-colheita com controle eficiente dos propágulos reprodutivos que ficam no solo, aumentam a flora benéfica do solo e têm menor impacto sobre a biodiversidade dos agroecossistemas.

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