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Uvas de mesa: a importância do cálcio na qualidade das frutas

A suplementação de cálcio é particularmente crítica em duas etapas do ciclo da videira - formação inicial das bagas e fase de pré-colheita.

Crédito: Embrapa Uva e Vinho

Marília Hortência Batista Silva Rodrigues
Pós-doutoranda em Horticultura Tropical – Campus Campina Grande (UFCG)
mariliahortencia8@gmail.com
Franciscleudo Bezerra da Costa
PhD em Fisiologia Vegetal e professor – UFCG
franciscleudo@gmail.com.br

O cálcio é um macronutriente importante para as videiras, desempenhando funções essenciais que impactam diretamente a qualidade das uvas de mesa. O elemento possui a capacidade de estabilizar a parede celular, ao se ligar às pectinas, formando pectatos de cálcio que garantem a integridade estrutural das células.

Essa estabilização é vital para a firmeza dos frutos, prevenindo lesões e danos durante o cultivo e a colheita. Além disso, o cálcio contribui para a manutenção da integridade das membranas celulares, que são compostas principalmente por lipídios e proteínas.

Quando ocorre a deficiência do cálcio, essas membranas tornam-se mais frágeis, o que resulta em perda de água e íons, comprometendo a qualidade das uvas.

Mensageiro celular

Outro aspecto importante do cálcio é sua função como mensageiro celular, regulando a atividade de enzimas e hormônios envolvidos na divisão celular e no desenvolvimento dos frutos.

Essa regulação resulta em bagas mais uniformes e bem formadas, contribuindo para cachos de alta qualidade. Ao garantir essas funções, o cálcio ajuda a evitar desordens fisiológicas nas videiras, assegurando que as uvas de mesa apresentem a textura, resistência física e a qualidade desejadas pelos consumidores.

Assim, a atenção à nutrição de cálcio é fundamental para produtores que buscam maximizar a qualidade de suas colheitas.

Como detectar a deficiência de cálcio

A deficiência de cálcio nas videiras se manifesta por meio de sinais visuais específicos que comprometem a qualidade das uvas de mesa. Um dos principais indicadores é a necrose apical das bagas, caracterizada por manchas escuras na extremidade apical, que ocorre devido à incapacidade do cálcio de se redistribuir uniformemente nas plantas.

Essa falta de cálcio afeta a integridade celular, resultando em células apicais mais suscetíveis à morte, o que prejudica não apenas a aparência dos frutos, mas também seu valor comercial.

Essa deficiência também provoca o amolecimento das uvas, levando à perda de turgidez. Bagas de baixa turgidez tornam-se mais vulneráveis a danos durante a colheita e transporte, proporcionando, assim, menor vida útil e qualidade pós-colheita.

Outro sinal visível da deficiência de cálcio é o desenvolvimento irregular dos cachos, que podem apresentar bagas de tamanhos diferentes ou deformadas. O cálcio atua na divisão celular e consequente crescimento uniforme dos frutos, e sua falta afeta diretamente a uniformidade e a qualidade dos cachos.

Essas manifestações visuais não indicam apenas carência de cálcio, mas também alertam os produtores sobre a necessidade de instruções adequadas para melhorar a nutrição das videiras e garantir a qualidade das uvas de mesa.

Ambos os sinais podem ser observados visualmente, ou ainda por meio de análises foliares e de solo para detectar o conteúdo de cálcio nas plantas, permitindo o diagnóstico precoce da deficiência e intervenções, antes que os sintomas afetem a qualidade das uvas.

Influência do cálcio na firmeza das uvas

É claro que o cálcio atua fisiologicamente nas uvas de diversas maneiras, desde o fortalecimento da matriz de pectina e consequente formação de pectatos de cálcio que aumentam a coesão entre as células.

Isso se reflete em uma estrutura celular mais firme e resistente, até a regulação da atividade de enzimas associadas aos processos metabólicos, como divisão e expansão celular, garantindo o desenvolvimento uniforme e saudável das bagas. 

O cálcio também atua na modulação da passagem, seja de íons ou água por meio das membranas celulares, favorecendo o controle da perda de água e a taxa de transpiração, o que, por sua vez, prolonga consideravelmente a vida pós-colheita das uvas.

Manejo para absorção de cálcio

Para garantir uma absorção eficiente de cálcio pelas videiras, é preciso adotar algumas técnicas específicas em campo. Dentre elas, tem-se o ajuste nutricional para manter um equilíbrio adequado entre os macronutrientes (cálcio, magnésio e potássio) no solo, pois ambos são catiônicos e competem entre si, dificultando a absorção pelas raízes.

A correção do solo também é importante, visto que o cálcio está mais disponível em condições ligeiramente ácidas a neutras, ou seja, pH entre 6,0 e 6,5. Logo, quando o solo é caracterizado como ácido, a correção é necessária para melhor absorção do cálcio.

Por fim, a irrigação adequada também é uma técnica que deve ser considerada, pois a disponibilidade de água é necessária para o transporte de cálcio através do xilema. Assim, o manejo integrado das videiras garante que as plantas recebam uma quantidade constante de cálcio ao longo do seu ciclo, evitando deficiências que podem comprometer a qualidade final dos frutos.

Crédito: Jailson Lira

Suplementação de cálcio

A suplementação de cálcio é particularmente crítica em duas etapas do ciclo da videira – formação inicial das bagas e fase de pré-colheita. Na fase inicial do desenvolvimento das bagas, o cálcio atua na diferenciação celular, bem como no fortalecimento da estrutura, garantindo firmeza e integridade as bagas.

Já na pré-colheita atua não apenas na resistência mecânica, mas na maturação dos frutos. O cálcio contribui significativamente com o amadurecimento uniforme e regulação da acidez das uvas, pois facilita a estabilização de ácidos orgânicos, tartárico e málico.

E, para manter o sabor agradável e característico das uvas, é necessário que estes ácidos estejam em equilíbrio e que ocorra uma melhor distribuição de açúcares e ácidos graxos. Assim, uma suplementação adequada de cálcio garante uvas de melhor textura, sabor e valor comercial.

Eficácia do cálcio nas videiras

A aplicação de cálcio varia em função das necessidades da cultura e dos estádios de desenvolvimento, porém, de forma geral, pode ser aplicado via foliar, incorporado no solo e por fertirrigação.

A aplicação foliar é caracterizada por ser um método de rápida correção, pois permite a entrega direta do cálcio, seja nas folhas ou frutos, porém, deve ser realizada com cautela, afim de evitar a fitotoxicidade.

Já a incorporação no solo permite uma absorção gradual pelas raízes ao longo do ciclo da cultura, e a fertirrigação combina a irrigação com a aplicação de cálcio para distribuir de forma econômica o nutriente.

É importante ressaltar que, embora a aplicação foliar de cálcio seja eficiente, ela apresenta limitações em casos de deficiências sistêmicas, sendo, portanto, necessário a adoção da adubação via solo ou fertirrigação.

Manejo do cálcio em diferentes tipos de solos

A disponibilidade de cálcio varia em função do tipo de solo. Nos arenosos, tem-se uma alta lixiviação, o que reduz a disponibilidade do nutriente, tornando-se necessário realizar aplicações frequentes ou adotar a fertirrigação, para que a planta receba a quantidade de cálcio adequada.

Quando se trata de solos ácidos, onde o pH do solo é baixo, a absorção de cálcio também é prejudicada, e para elevar esse pH é necessário realizar a calagem para facilitar a disponibilidade desse nutriente.

Crédito: Jailson Lira

Já em solos salinos, caracterizados pela presença excessiva de sais, a absorção de cálcio também é deficiente, devido à competição iônica. Para reduzir esse problema, a lixiviação do solo, com água de baixa CE, pode reduzir a salinidade e facilitar a absorção do cálcio.

Diante disto, pode-se concluir que o cálcio é importante para a qualidade das uvas de mesa, pois fortalece a estrutura dos frutos, aumenta sua durabilidade e prolonga a vida útil, por contribuir com bagas mais firmes e resistentes a danos e patógenos.

No entanto, o manejo do solo e da cultura, bem como a identificação precoce da deficiência, é essencial para melhorar a absorção de cálcio. E, assim, os produtores podem garantir uma colheita de alta qualidade organoléptica, que atenda às exigências do mercado e às expectativas dos consumidores.

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