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Vespa-da-madeira já conta com solução biológica eficiente

Autores

Thais Berçot Pontes Teodoro
Bióloga e doutoranda em Produção Vegetal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
Thalles Cardoso Mattoso
Doutor em Produção Vegetal e professor Universidade Federal de Roraima (UFRR)
Richard Ian Samuels
Doutor em Entomologia e professor – UENF
richardiansamuels@gmail.com

A vespa-da-madeira, Sirex noctilio, é uma espécie exótica originária da Europa, Ásia e parte da África. No Brasil e em outros países do hemisfério sul, a ausência de inimigos naturais, fácil adaptação ao novo ambiente e abundância de recurso alimentar forneceram condições ideais para seu aumento populacional. Essa espécie é a principal praga das espécies de pinus cultivadas, sendo capaz de causar a morte da árvore.

Após a revoada, a fêmea deposita no tronco das árvores, além de seus ovos, o fungo simbionte Amylostereum aerolatum e um muco fitotóxico. As larvas da vespa constroem galerias no tronco da árvore, comprometendo a qualidade da madeira em sua estrutura e aparência. O muco tóxico altera a capacidade de defesa da planta, enquanto o fungo obstrui os vasos de condução de seiva, provoca a podridão branca, degrada a celulose e a lignina, causando prejuízos aos processos industriais subsequentes. Eventualmente, a ação do fungo e do muco ocasionam a morte da planta. 

Prejuízos

Para o setor madeireiro, isso causa prejuízos consideráveis, uma vez que as consequências dos danos diminuem tanto a produção quanto o valor final do produto. Estima-se que o potencial de dano deste inseto seja de aproximadamente US$ 50 milhões ao ano no Brasil.

Porém, utilizando-se corretamente o programa de manejo integrado de pragas (MIP) associado ao controle biológico, é possível reduzir as perdas em pelo menos 70% e manter a população das pragas em níveis aceitáveis. Em 2014, o Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira (PNCVM) evitou prejuízo estimado em R$ 209,5 milhões.

Sintomas

Devido ao período reprodutivo da vespa-da-madeira ocorrer de outubro a janeiro, a partir do mês de fevereiro já é possível visualizar as folhas da copa das árvores amarelando, até se tornarem marrom avermelhadas, resultado do efeito tóxico do fungo e do muco inoculados na planta no momento em que a fêmea deposita seus ovos. Isso provoca a queda das acículas, com consequente morte da árvore, que geralmente ocorre no mês de agosto do ano seguinte.

Podemos observar outros aspectos que indicam a presença da vespa no tronco da árvore, como respingos de resina no tronco. Isso ocorre devido às perfurações feitas pelas fêmeas para o depósito dos ovos. É possível observar galerias no interior do tronco, consequência da alimentação das larvas.

Em um corte transversal, podem haver manchas azuladas. Essas manchas são evidências da presença de um fungo oportunista do gênero Botryodiplodia. Por fim, podemos verificar orifícios que os insetos adultos fazem no tronco da árvore para a sua emergência.

Regiões mais afetadas

É possível encontrar larvas da vespa ao longo de todo o tronco, porém, é mais comum a presença das larvas nas partes inferiores e médias do tronco, não excluindo a parte superior. Apesar da parte das árvores mais afetada ser o tronco, sendo este o mais importante por motivos econômicos, a copa das árvores também sofre com a ocorrência da vespa-da-madeira, apresentando folhas amareladas. Essa evidência é o início da decadência e morte da planta.

Na América do Sul a espécie S. noctilio foi primeiramente detectada no Uruguai em 1980 infestando diversas espécies de pinus, sendo Pinus taeda a mais susceptível. Em 1985 ocorreu o primeiro relato de sua presença na província de Entre Rios, na Argentina, infestando P. taeda e Pinus elliottii. 

O primeiro surto da vespa-da-madeira no Brasil foi documentado em fevereiro de 1988 em P. taeda nos municípios de Gramado, Canela e São Francisco de Paula no Estado do Rio Grande do sul. No mesmo ano, a praga foi encontrada em árvores armadilhas em plantações de P. taeda no município de Lages (SC). No Paraná foram encontrados indícios da praga em 1993 e 1994, contudo, somente em 1996 a praga foi estabelecida atacando plantações de P. taeda em diversas regiões do Estado.

No Sudeste, o primeiro relato da vespa ocorreu em 2005 nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Hoje, estima-se que a vespa-da-madeira se encontra presente em 1 milhão de ha de plantações de pinus da região sul e sudeste e é controlada e mantida sob medidas quarentenárias para evitar que a praga se instale em regiões onde a mesma é ausente, por meio do PNCVM instituído em 1989 pelo MAPA.

Causas

A presença do muco fitotóxico altera a fisiologia da planta, deixando-a mais suscetível a doenças. O fungo simbionte depositado junto à oviposição dos ovos é fonte de alimento para as larvas no início de seu desenvolvimento, mas também promove a obstrução dos vasos que transportam fotoassimilados, água e nutrientes por toda a planta. Esses fatores, aliado à presença das larvas que criam galerias no tronco das árvores, provocam perda de qualidade da madeira e levam à morte da planta.

Erros

Em função dos danos provocados pelo inseto, é necessário um monitoramento efetivo e constante. A falta de rigor nas práticas de manejo para prevenção da ocorrência da vespa-da-madeira abre caminhos para novas incidências, gerando danos e prejuízos ao produtor. Alguns fatores que favorecem a ação da vespa devem ser evitados.

Por exemplo, a falta de funcionários devidamente treinados e capacitados para manter a vigilância de rotina, identificação da praga e os sintomas do ataque propiciam a disseminação da infestação, tornando o controle mais difícil.

O transporte de madeira de áreas atacadas para aquelas onde ainda não tenha sido detectada a presença da vespa pode promover o avanço da praga. Isso porque as fêmeas da vespa conseguem voar longas distâncias, podendo chegar a 30 km em um único voo. O transporte inapropriado e o armazenamento prolongado da madeira também podem favorecer a dispersão da vespa.

Árvores estressadas são mais propensas ao ataque da vespa-da-madeira. A falta de cuidados com a irrigação na área plantada, especialmente períodos de estiagem prolongados, deficiência nutricional, doenças e a alta densidade dos povoamentos são características que influenciam o estresse das árvores.

A irrigação deficiente provoca estresse hídrico na planta, que desencadeia uma série de consequências negativas para a planta e as deixam mais suscetíveis. A alta densidade de árvores nos povoamentos, maior do que o recomendado, pode estressar a planta devido à competição por água, luz e nutrientes, deixando-as fisiologicamente debilitadas.

Podas e desbastes realizados durante o período de voo da vespa também podem influenciar no estresse das plantas, já que podem causar danos mecânicos nas árvores, tornando-as também susceptíveis a doenças.

Prevenção

Como medida preventiva, é preciso o treinamento e capacitação de funcionários para que os mesmos consigam identificar a presença da vespa e os sintomas do ataque. Também devem ser realizados desbastes para evitar o estresse das plantas, eliminar restos de poda e desbastes, que podem conter a vespa. É importante estar atento à época correta dos desbastes. O ideal é evitar a prática durante o período de revoada, que vai de outubro a janeiro.

Outras medidas que devem ser tomadas é monitorar os plantios com idade superior a sete anos, por meio do uso de árvores-armadilhas, que são propositalmente estressadas com herbicida, tornando-as atrativas para as fêmeas no momento da oviposição.

As árvores-armadilhas servem tanto para evitar a escolha da fêmea pelas árvores do povoamento, quanto para serem instrumento de quantificação da presença da praga. A época adequada para instalação das árvores armadilhas no campo de cultivo é nos meses de agosto e setembro. As árvores armadilhas deverão ser de fácil acesso, ao longo de toda a área do cultivo.

É necessário, também, evitar o estresse das plantas, pois as fêmeas da vespa apresentam forte tendência a ovipositar em árvores estressadas. O estresse facilita a oviposição e o estabelecimento do fungo simbionte.

O muco depositado pela fêmea age reforçando o estresse, gerando um ciclo contínuo de fatores estressantes tornando as árvores mais propensas aos ataques de outras fêmeas.

Manejo biológico

Boas práticas de manejo a fim de se evitar a presença da vespa-da-madeira são imprescindíveis. Porém, caso o povoamento já esteja infestado pela praga, o controle biológico, dentro do MIP, é o método mais eficiente como medida curativa. Contudo, erros na conduta dos procedimentos podem torná-lo ineficiente, causando perdas financeiras e de tempo de trabalho.

O nematoide Deladenis siricidicola é o mais importante inimigo natural da vespa-da-madeira. Mas a falta de cuidados durante o armazenamento das doses, do preparo do inóculo, transporte e das condições de aplicação podem reduzir a eficiência do método.

As doses contendo o nematoide devem ser mantidas entre 5 e 8°C por no máximo 10 dias, inclusive durante o transporte até o local de aplicação. Durante o dia da aplicação não pode estar chovendo e a temperatura ambiente deve estar entre 7 e 20°C.

Altas temperaturas podem causar a morte do nematoide. É fundamental o monitoramento da eficiência do inimigo natural após a inoculação em campo. O monitoramento é importante para verificar se há necessidade de novas inoculações consecutivas.

O controle químico é ineficiente e não deve ser utilizado, devido à impossibilidade de os inseticidas alcançarem as larvas ou adultos e também em função do bom desempenho do controle biológico.

Eficiência comprovada

O nematoide D. siricidicola é o mais eficiente agente de controle biológico da vespa-da-madeira. A eficácia deste inimigo natural está relacionada à capacidade de esterilização das fêmeas da vespa, tornando-as inférteis.

A infertilidade das fêmeas interrompe o ciclo da praga, pois impede que novas gerações de vespas sejam liberadas no ambiente. Fêmeas da vespa-da-madeira infectadas pelo nematoide depositam seus ovos nas árvores, mas estes não contêm embriões, e sim nematoides na fase juvenil.

O nematoide mede 1,0 mm e apresenta dois ciclos de vida. Em seu ciclo de vida livre, alimenta-se do mesmo fungo que a vespa se alimenta (A. areolatum), o que diminui o efeito deletério deste fungo. O nematoide pode se manter em vida livre, se alimentando do fungo simbionte da vespa por várias gerações. Em seu ciclo parasitário, o gás carbônico da respiração da vespa provoca uma mudança fisiológica no nematoide, que se torna parasita e se estabelece dentro das larvas, pupas e adultos da praga.

Produção em laboratório

O fato do nematoide possuir um ciclo de vida livre também facilita a sua produção massal em laboratório. No Brasil, a criação é realizada pela Embrapa Florestas. Depois de seis anos de pesquisa, análise, registro de marca e identidade junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), atualmente o nome comercial deste nematoide é “Nematec”.

O registro do produto permite que o produtor tenha segurança e confiança em utilizá-lo, pois contém rótulo e bula com indicação de uso. Além dessas características, o produto foi aprovado para a agricultura orgânica, por não provocar malefícios para o meio ambiente e saúde humana.

Em campo

O uso desse nematoide no campo tem ocorrido desde a década de 70, inicialmente na Austrália, mas posteriormente seu uso se intensificou em outros países do hemisfério sul, onde a vespa-da-madeira é exótica.

Quando o manejo preventivo e a aplicação do agente de controle biológico são realizados corretamente, as chances de sucesso no controle da vespa-da-madeira são de 70 a 100%. Esses altos índices de controle são frutos de anos de trabalho realizados em centros de pesquisa no Brasil e em outros países onde a vespa-da-madeira tem o status de praga.

Manejo

Cada dose de 20 mL de nematoide contém aproximadamente um milhão de indivíduos e é suficiente para a aplicação de 10 árvores. O inóculo pode ser preparado tanto em gelatina quanto em hidrogel.

No preparo do inóculo com gelatina é necessário ferver 100 mL de água, dissolver 30 g de gelatina em pó sem sabor, esfriar por 10 minutos, adicionar 200 mL de água gelada, bater a mistura em batedeira, adicionar a dose de nematoide e continuar batendo em velocidade baixa, despejar a mistura dentro de um saco plástico e armazenar em caixa de isopor com gelo.

É importante isolar o gelo com papel para evitar contato direto com o nematoide. Este procedimento leva em torno de 30 minutos para ser finalizado.

Já no preparo do nematoide com o hidrogel, basta colocar em um saco plástico 400 mL de água, adicionar a dose de nematoides, homogeneizar, adicionar 4,0 g de hidrogel e homogeneizar novamente por dois minutos. Armazenar em caixa de isopor com gelo até a aplicação em campo. Também é importante isolar o gelo com papel para evitar contato direto com o nematoide. Utilizando o hidrogel, o tempo de preparo do inoculo é em torno de 10 minutos, 20 minutos a menos que o preparo com a gelatina.

A inoculação do nematoide nas árvores deve ser realizada entre os meses de março a agosto, ou assim que a praga for detectada no campo. Para tal, é necessário identificar a árvore afetada, que apresente a copa amarelada, que tenha presença de resina no tronco e ausência do orifício de emergência do inseto adulto.

É preciso derrubar a árvore e desgalhar para facilitar o processo. Com o martelo de aplicação, fazer delicadamente orifícios de 10mm de profundidade ao longo do tronco de modo que o martelo retorne livremente. A distância entre os orifícios deve ser de 30 cm cada, de forma que em árvores com o diâmetro de até 15 cm é recomendado fazer uma única fileira de orifícios. Caso o diâmetro do tronco seja maior que 15 cm, é recomendado fazer duas fileiras paralelas e equidistantes.

Para aplicar o hidrogel, utiliza-se uma bisnaga. Basta inserir a bisnaga no saco plástico e preenche-la com o hidrogel ou gelatina e injetar todo conteúdo da bisnaga no orifício feito com o martelo no tronco da árvore.

O número de árvores a serem inoculadas vai depender da quantidade de plantas afetadas. Em áreas com uma até cinco árvores afetadas por hectare, fazer o procedimento em todas as árvores comprometidas. Quando a quantidade de árvores afetadas for de seis a 25 por hectare, proceder com a inoculação de no mínimo cinco árvores por hectare.

Em situações onde a infestação envolve mais de 25 árvores por hectare, proceder com a inoculação em no mínimo 20% destas. Em todos os casos, é importante estabelecer árvores-armadilhas distribuídas em malhas de 500 metros para monitoramento da presença e densidade da vespa.

Produtividade

De acordo com estudos da Embrapa, o programa de MIP associado ao uso do nematoide D. siricidicola estabelecido pelo Embrapa Florestas e FUNCEMA reduziu a incidência de árvores atacadas, evitando a perda média de 5,0 árvores/ha, resultando no ganho de produtividade média estimada em 6,0 m3/ha.

De acordo com os valores de ganhos unitários anuais, o programa de controle da praga resultou no retorno de 100 vezes o custo de sua implementação, demonstrando que os benefícios econômicos são altamente significativos ao setor florestal.

Custo

O Nematec é produzido pela Embrapa Florestas somente de março a agosto, período mais propenso a ocorrências de infestação da praga, e repassado aos produtores pelo FUNCEMA (Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais).

O custo da dose de 20 mL, suficiente para aplicação em 10 árvores, é de R$ 100,00. Para produtores associados ao FUNCEMA não há custos. A quantidade de doses necessárias varia de acordo com o tamanho da infestação no campo.

Cabe ressaltar também que para o estabelecimento do custo do controle desta praga deve-se levar em consideração o custo total do manejo dentro do programa de MIP.

A taxa de sucesso no controle biológico associado a um manejo integrado da praga varia de 70 a 100%. Dessa forma, é possível evitar prejuízos de aproximadamente U$ 25 milhões anualmente sem utilizar nenhum produto químico tóxico prejudicial ao meio ambiente ou à saúde humana.

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