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Vida microbiana do solo

Cuidado pode gerar economia

Fábio Olivieri de Nobile Professor titular do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB) fabio.nobile@unifeb.edu.br

Maria Gabriela Anunciação Engenheira agrônoma – UNIFEB

Solo – Fotos: Shutterstock

O uso de microrganismos na agricultura tem sido extensamente estudado, uma vez que a indústria de insumos, em função da demanda do mercado, vem trazendo cada vez mais novidades para o produtor, de modo a integrar a agricultura sustentável e a rentabilidade.

O caso mais comum no Brasil, possivelmente, é o uso de inoculantes para a cultura da soja, visto que a economia com o gasto de fertilizantes nitrogenados gira em torno de R$ 14 bilhões e, neste exemplo, estamos falando apenas das bactérias do gênero Bradyrhizobium e extrapolando para as bactérias do gênero Azospirillum, responsáveis por fixar nitrogênio e estimular a produção de fitohormônios nas plantas.

No entanto, é preciso levar em consideração que o solo é um ambiente dinâmico e que os organismos que ali estão presentes são extremamente numerosos e amplamente diversos. Além disso, os microrganismos possuem a capacidade de exercer diferentes atividades no ambiente.

Sendo assim, no contexto atual da produção agrícola, conhecer a vida microbiana do solo e realizar a manutenção dela pode ser um ponto-chave para o aumento de produtividade, especialmente quando consideramos o crescimento populacional e o aumento da demanda da produção de alimentos.

Diversidade microbiana

Existe uma série de fatores intimamente ligados à diversidade microbiana do solo, mas quando falamos em economia, podemos citar dois pontos muito importante: nutrição de plantas e sanidade.

Sabemos, por exemplo, que durante a pandemia a alta dos insumos foi um fator de muita preocupação. Fertilizantes fosfatados, potássicos e agroquímicos tiveram altas de mais de 100% em seu valor de comercialização, alguns insumos tiveram seu valor triplicado, de tal maneira que o custo de produção foi grandemente elevado em diversos países.

Na safra de soja, por exemplo, diversas regiões do Brasil tiveram preocupações além do preço, por conta da falta de insumos. Como o conhecimento e manejo da vida microbiana podem auxiliar nestes momentos críticos?

A resposta

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Os microrganismos se relacionam com a ciclagem de nutrientes, com a decomposição da matéria orgânica e com os fatores químicos e físicos do solo. Temos o exemplo já citado da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) para a cultura da soja, mas os microrganismos estão presentes em outras etapas do ciclo do nitrogênio, do carbono, do enxofre.

Atualmente, tem sido estudada a capacidade que alguns organismos possuem de solubilizar o fósforo que está na fração inorgânica do solo pela diminuição do pH e, dessa forma, torná-lo disponível para as plantas.

O fósforo é um nutriente limitante para a produção agrícola e, quando o disponibilizamos no solo por meio de fertilizantes solúveis, rapidamente grande parte do que foi aplicado fica retido no solo e indisponível para as plantas.

Estudos com microrganismos na solubilização do fósforo são de extrema importância, especialmente se considerarmos que as fontes de fósforo para produção de fertilizantes são finitas.

Os microrganismos ainda possuem a capacidade de auxiliar na estrutura física do solo, por conta da capacidade de “cimentar” os agregados por meio da excreção de substâncias e com a formação de hifas, diminuindo, por exemplo, processos erosivos que causam degradação do solo.

Sanidade vegetal

Um outro fator que correlaciona a vida microbiana com economia é a sanidade das plantas e, em consequência disso, a incidência de doenças e uso de agroquímicos. É claro que falar de doenças de plantas é um tema complexo que envolve uma série de fatores.

Uma situação prática a ser citada é a incidência de mofo-branco (Sclerotinia sclerotium) que, após a retirada do algodão, consegue manter estruturas de resistência no solo chamadas escleródios, muitas das vezes dentro do fruto morto do algodoeiro e, uma vez que a o ambiente se torna propício, os escleródios germinam, formando apotécios e acometendo culturas como a soja e o feijão.

É por isso que o manejo sanitário deve ter início antes de os sintomas serem identificados, pois a doença se inicia muito antes do podermos vê-la, de fato, nas plantas.

Solução

Atualmente, em termos de manejo biológico, utilizam-se produtos com fungos do gênero Trichoderma contra mofo-branco. Hoje, também, com as novas tecnologias de mapeamento genético do solo, podemos ter visões muito práticas da importância de conhecer a vida microbiana dos ambientes agrícolas.

Existem startups e laboratórios que fazem análises do solo e trazem informações da quantidade e dos gêneros de microrganismos presentes no solo. Dessa forma, é possível identificar se gêneros fitopatogênicos, como Fusarium, Sclerotinia e Rhizoctonia se apresentam de forma desequilibrada e prevenir-se quanto ao manejo.

Essa técnica também permite identificar a funcionalidade do manejo biológico, observando as populações patogênicas antes e depois do uso contínuo de produtos biológicos. Outra análise comparativa que mostra os benefícios da aplicação de produtos biológicos, com a intenção de manejar a vida microbiana, é a de população de nematoides, pois bactérias do gênero Bacillus e fungos do gênero Trichoderma apresentam eficiência comprovada no manejo dos principais nematoides que acometem as culturas agrícolas.

Benefícios

A vida microbiana é uma surpresa que, por meio de estudos, pode e vai trazer muitos benefícios para a agricultura. A rizosfera, área de contato das raízes das plantas com o solo, é um ambiente muito complexo, pois a tríade de relação entre solo, planta e microrganismos e como estes fatores se afetam ainda pode trazer muitas surpresas.

Um exemplo recente é o caso da bactéria Bacillus aryabhatai, que foi encontrada na região rizosférica do mandacaru, um cacto da região da caatinga e que, após parcerias da Embrapa e da indústria privada, hoje auxilia lavouras de milho a suportar a seca.

Existem diversas pesquisas que relatam que a genética das plantas é uma ferramenta de alteração da microbiota. Isso nos mostra que ainda há muito o que ser pesquisado nessa vertente e também demonstra que o manejo adequado das plantas de cobertura e rotação de culturas influenciam diretamente na diversidade microbiana do solo e, portanto, é um fator que deve ser levado em consideração.

As principais técnicas para manejar a vida microbiana no ambiente agrícola estão relacionadas com técnicas conservacionistas do solo e pela intervenção com o uso de inoculantes, o que tem ganhado muito espaço na agricultura brasileira.

Qualidade da técnica

Hoje é muito comum que as sementes já venham tratadas com mais de um microrganismo e que múltiplos microrganismos sejam aplicados no sulco de semeadura por meio do jato dirigido durante o plantio.

A questão é que, independente da forma utilizada, sulco de semeadura ou jato dirigido, é importante se atentar à qualidade dos produtos aplicados. Hoje, o produtor brasileiro tem diversas opções de produtos no mercado e, atualmente, o produtor rural tem até mesmo a chance de produzir seu próprio bioinsumo na fazenda.

O que manda no sucesso é a qualidade do manejo adotado e, apesar de ser um investimento sustentável, os produtos apresentam custos diferenciados. Vale lembrar que temos empresas nacionais e internacionais no mercado e que existem produtos certificados e não certificados.

Custo envolvido

A faixa de preço dos produtos biológicos pode variar entre R$ 90,00 e R$ 350,00 por litro, dependendo do microrganismo que compõe o produto, alvo e formulação. As doses podem variar de 150 a 300 mL.ha-1, em função da concentração de microrganismos, do nível de infestação do alvo e do histórico da área.

Outro manejo interessante que melhora a diversidade microbiana é a utilização de mix de coberturas, utilizando, por exemplo, nabo forrageiro, trigo mourisco e crotalária. A diversidade de plantas também infere na diversidade biológica do solo.

O pilar biológico do solo é tão importante quanto o pilar físico e químico. Altos investimentos em calagem e adubação precisam estar integrados com uma fração biológica ativa. O resultado de uma safra de sucesso depende, além de toneladas de insumos, de seres microscópicos que auxiliam no desenvolvimento das culturas agrícolas.

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