A tomaticultura está em alerta. O ToBRFV (Tomato Brown Rugose Fruit Virus) inicialmente detectado em Israel, teve, desde então, sua presença rapidamente registrada em outros países da Europa, Ásia, África e Américas.
O vírus ToBRFV pertence ao mesmo gênero dos causadores do mosaico do fumo (TMV – Tobacco mosaic virus) e do mosaico do tomateiro (ToMV – Tomato mosaic virus), os quais estão amplamente disseminados no Brasil.
De olho nele
Alice Kazuko Inoue Nagata, engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e pesquisadora da Embrapa Hortaliças, relata que os sintomas da doença podem ser observados nas folhas e nos frutos.
Nas folhas, a infecção pelo ToBRFV causa manchas irregulares, clorose (o verde perde intensidade e fica amarelada) e mosaico. As folhas podem ficar deformadas e mais finas. A intensidade de sintomas varia, explica ela, podendo ser vistos desde sintomas leves a severos.
Nos frutos, manchas podem aparecer, de cor amarelada a marrom e com rugosidade. “Em geral, os frutos são menores. Lesões necróticas (amarronzadas) podem aparecer no caule e demais partes da planta. Esses sintomas podem ser confundidos com infecção por outros vírus, principalmente o tomato mosaic virus (ToMV). A diferença está na capacidade de ToBRFV infectar plantas com resistência a ToMV e os sintomas de deformação e necrose em frutos”, esclarece a especialista.
E ela alerta: “os sinais do vírus não podem ser vistos sem um microscópio eletrônico”.
Transmissão e disseminação
O vírus é transmitido eficientemente por manipulação das plantas. Isso significa que mãos e ferramentas que tocaram as plantas infectadas, incluindo frutos, ficam contaminadas e podem levar o vírus para plantas sadias.
Alice Nagata confirma que a transmissão por sementes também é observada, mas em uma baixa taxa. “Entretanto, essa forma de transmissão, junto com a transmissão mecânica facilita a sua dispersão, que pode ocorrer de forma rápida e ampla. O inseto conhecido como mamangava foi relatado como transmissor do vírus. A vespa é usada como polinizadora em cultivo de tomateiro, principalmente em cultivo protegido”, alerta.
Medidas preventivas
A principal medida é a preventiva, ou seja, evitar que o vírus entre no país, pelas sementes e também pelos frutos. O Brasil é um grande importador de sementes de tomateiro e, como dito, o vírus já foi detectado na América do Norte e Central, Europa e Ásia.
Com o rápido alastramento do vírus mundialmente, é essencial que as sementes sejam produzidas em regiões sem a presença do ToBRFV e análises sejam realizadas para redução do risco de introdução de sementes contaminadas.
A parceria com as companhias de sementes é essencial para que os esforços sejam feitos em conjunto, governo e iniciativa privada. “Considerando que o vírus foi detectado na Argentina, país vizinho ao Brasil, é importante que não haja transporte de frutos de lá. Caso sintomas suspeitos sejam observados em lavouras, é importante que as autoridades sejam informadas para que testes sejam realizados”, orienta Alice.
O que fazer
Entre os principais desafios no controle e manejo do ToBRFV, além de impedir a entrada do vírus, Alice Nagata destaca a criação de um sistema de monitoramento e teste rápido da presença do vírus.
“Dependendo da forma de entrada, se for única, será possível erradicar com medidas de isolamento e desinfecção. Para isso, é necessário que haja ações coordenadas do governo federal, estadual, empresas, instituições de pesquisa, associações e produtores. Pode ser uma boa oportunidade de organizar um sistema para prevenção da entrada dos patógenos quarentenários”, diz.
Ainda segundo ela, vários trabalhos de desenvolvimento de cultivares com resistência estão em andamento no mundo. “Já existem cultivares comerciais de tomateiro, inclusive alguns estarão disponíveis no Brasil em breve”, revela.
A pesquisadora lembra que a adoção de práticas de manejo integrado de pragas e doenças pode ser eficaz na redução do risco de infecção pelo ToBRFV, além de ser a base para qualquer cultivo.
As etapas envolvem desde a escolha da área e época de cultivo, a seleção de sementes, produção de mudas sadias e vigorosas, não escalonar cultivos, realizar rotação de culturas, usar materiais com resistência, higienizar mãos, roupas e equipamentos e estar atento aos sintomas.
Ações da Embrapa
A Embrapa está acompanhando as lavouras em visitas de campo, coletando amostras e realizando testes de diagnose de viroses. “Estamos utilizando uma técnica denominada sequenciamento de alto desempenho, que permite a identificação dos vírus nas amostras sem o prévio conhecimento de qual vírus está presente. No nosso último levantamento, realizado em quatro estados e DF, coletados entre dezembro de 2022 a março de 2023, não encontramos o ToBRFV. Recebemos amostras e analisamos também”, informa Alice.
Ela volta a enfatizar os cuidados com as sementes. “Nunca se deve usar sementes provenientes de outros países trazidos de forma irregular. Higienizar o local, as ferramentas, roupas e mãos são procedimentos que devem ser rotineiros. Importante notificar o Ministério da Agricultura em caso de qualquer suspeita”, alerta, lembrando que ainda não há tratamento curativo ou preventivo disponível comercialmente.
Impacto nas lavouras lá fora
O vírus ToBRFV foi detectado em países da América do Norte e Central, Ásia e Europa. O impacto foi muito alto, principalmente nos locais onde predomina o cultivo protegido.
O vírus é extremamente estável e abundante na planta infectada. Isso faz com que rapidamente todo o ambiente fique com alta carga viral e isso facilita a infecção de plantas. Alguns países conseguiram erradicar o vírus.
SINTOMAS
Nas folhas: manchas irregulares, clorose e mosaico.
Nos frutos: manchas de cor amarelada a marrom e rugosidade.
TRANSMISSÃO
Manipulação das plantas, ou seja, as mãos e ferramentas que tocarem as plantas infectadas.
PREVENÇÃO
– Sementes produzidas em regiões sem a presença do ToBRFV;
– Análises para redução do risco de introdução de sementes contaminadas.
SOLUÇÃO
Já existem cultivares comerciais de tomateiro, inclusive alguns estarão disponíveis no Brasil em breve.