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quinta-feira, setembro 19, 2024
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Sabugueiro: arbusto europeu com grande potencial no Brasil

Felipe da Costa Brasil
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador visitante da PESAGRO-Rio e bolsista da FAPERJ – CapacitAgro
professorfelipebrasil@gmail.com
Instagram: @professorfelipebrasil
Amanda Teixeira Fonseca Brasil
Gastróloga, produtora de PANC e bolsista da FAPERJ-CapacitAgro
amandabrasil.panclandia@gmail.com
Instagram: @panclandia

O sabugueiro da espécie Sambucus nigra L. é um arbusto ou arvoreta dos climas temperado e subtropical, nativo da Europa, Ásia e África, e tem se destacado em todo o mundo por seus históricos benefícios medicinais, cosméticos, alimentação para a avifauna e com potencial melífero, sendo que alguns autores atribuem o primeiro registro desta planta como medicinal aos escritos de Hipócrates há 2.500 anos.

Além das flores para uso medicinal, as bagas do sabugueiro, que na verdade são frutos na forma de drupas, têm sido utilizadas para fins culinários, na produção de doces e bebidas, rica em vitamina C e flavonoides (com propriedades antioxidantes), sendo consideradas um excelente alimento.

Origem

Esta espécie de sabugueiro, pertencente ao gênero Sambucus e à “nova” família Adoxaceae, é uma das mais cultivadas na Europa, sobretudo em Portugal, com mais de 450 ha de área cultivada.

Tem grande impacto sobre a economia agrícola desta região, com rendimento médio anual de aproximadamente 4 milhões de euros, entre bagas frescas (drupas) e desidratadas, além de flores, que são em grande parte exportadas para os países do centro e norte da Europa, sobretudo para a Alemanha e Holanda.

Outro importante produtor em larga escala é a Espanha, onde já existem diversas empresas dedicadas à produção, colheita e processamento das flores e bagas do sabugueiro.

Produção nacional

No Brasil, em especial na região sul, esta espécie foi introduzida pelos colonizadores europeus, principalmente devido ao seu disseminado uso na medicina popular na forma de infusão, pelas propriedades diuréticas e depurativas associadas a enfermidades como febre, doenças renais e gripe, entre outras.

Atualmente, em nosso país existe grande interesse pelo sabugueiro, não só por todos os benefícios medicinais já apresentados, sendo inclusive seu uso e propriedades reconhecidos pela European Pharmacopoeia e pela ANVISA, mas também, por todo o seu potencial alimentício como Planta Alimentícia Não Convencional (PANC), além de diferentes usos como espécie complementar para cultivos agrícolas e agroflorestais, e também como quebra-ventos e cercas-vivas.

Plantio e manejo da cultura

Esta espécie é considerada de sol pleno e de clima ameno, e, portanto, tem sido muito bem cultivada com as melhores produtividades, nos estados do sul e sudeste, estando adaptada às regiões serranas, com invernos frios e verões moderados.

Em relação ao cultivo do sabugueiro no Brasil, a melhor época de plantio está entre os meses de setembro e novembro, e a colheita de flores ocorre no ano seguinte, de maio e agosto, e a frutificação entre agosto e setembro, com algumas variações em função da região e do clima.

Como em qualquer cultivo de espécie florestal, e não obstante a rusticidade desta espécie, deve-se levar em consideração a necessidade de análise do solo e as corretas recomendações de correção de acidez e adubação de plantio e manutenção, além da correta preparação das covas e/ou linhas de plantio.

Entretanto, muitas pessoas gostam de cultivar o sabugueiro em vaso e nos jardins, e desta forma, seguem as mesmas recomendações utilizadas para arbustos e arvoretas, em relação à qualidade do substrato rico em matéria orgânica, e as recomendações de adubação.

Em se tratando de uma espécie medicinal e alimentícia, é recomendado que sejam priorizadas e adotadas práticas agrícolas conservacionistas e agroecológicas em seu modo de produção.

Plantio

O plantio é feito facilmente e prioritariamente pela propagação vegetativa por estaquia, com estacas semilenhosas de diâmetro variável (0,8 cm a 1,0 cm) e no mínimo de 8,0 cm de comprimento, tanto diretamente na cova ou em linha de plantio, como também por transplantio de mudas previamente cultivadas.

O espaçamento recomendado para plantio em linha é de 2 m x 2m (2.500 plantas por ha) para plantio em área total como monocultura. Esta forma de plantio por estaca é muito viável, uma vez que esta espécie é muito adaptada a poda, inclusive podas drásticas produzindo grande quantidade de material de propagação.

De outra forma, embora menos utilizado, o plantio também pode ser feito por sementes. Neste caso, deve-se ficar atento a necessidade de superação da dormência, que segundo a recomendação da Embrapa, a técnica mais adequada para o tratamento é a estratificação em areia à temperatura de 5ºC, por 90 dias.

Tratos culturais e colheita

Esta planta apresenta boa resistência à seca, entretanto, tem sido observado por alguns produtores que durante os períodos de crescimento e florescimento, a irrigação tem bons resultados no aumento da floração e produção de Bagas, tanto no Brasil como em Portugal.

Geralmente, a colheita das flores e das bagas no Brasil ainda é realizada manualmente, porém, na Europa são comuns os modelos de colheita de bagas na forma mecanizada, com redução do custo da mão de obra em cerca de 60%.

Para a obtenção das bagas desidratadas, podem ser utilizados diversos modelos de desidratadores, inclusive solares e elétricos. A desidratação tem sido uma das maiores responsáveis pelo sucesso da exportação.

Viabilidade econômica

Em relação ao potencial agroflorestal no Brasil, deve ser considerado que o sabugueiro está amplamente adaptado e difundido, e que existe uma grande área cultivável disponível em nosso país, tanto para cultivo em monocultura como em sistemas mistos de produção.

Com isso, é fundamental intensificar a pesquisa e difusão de tecnologias agronômicas, para que possamos nos tornar um grande produtor de flores e bagas, não só para atendimento à alimentação e a medicina popular, pela produção familiar e de subsistência, mas também ao atendimento comercial do mercado interno e das inúmeras possibilidades de exportação.

Custos x retorno

Em relação aos custos de produção, deve-se utilizar como parâmetro os mesmos de implantação de uma monocultura silvícola, como exemplo o eucalipto em plantio de área total.

Outro exemplo comparativo é o dos custos relativos à implantação de um reflorestamento ou sistema agroflorestal. É importante lembrar que o que pode encarecer ou não é a forma de aquisição de material de propagação, que pode ser adquirido de material proveniente de podas, ou da aquisição de mudas comerciais.

Outra importante informação é que o mercado internacional do sabugueiro é notoriamente deficitário, e a procura por flores e bagas tem crescido muito em todo o mundo, com destaque para a Europa do Leste, Estados Unidos, Canadá e o Chile na América do Sul, o que se traduz em uma necessidade de aumento da área de cultivo desta planta e um grande potencial para o Brasil.

A título de curiosidade sobre o comércio internacional desta cultura, só para se ter uma ideia, segundo dados de abril de 2024, o quilo de baga fresca e desidratada está na ordem de 0,50 e 3 euros, respectivamente, e o quilo da flor entre 5,0 e 6,0 euros, pagos em Portugal.

Produção em larga escala

Não obstante este potencial nacional e internacional, existem ainda poucos estudos para a produção em larga escala que avaliem o melhoramento vegetal das melhores variedades e seus potenciais medicinais e nutricionais. Também ainda não existe muita informação sobre possíveis pragas e doenças desta cultura.

Desta forma, torna-se fundamental o incentivo a novas pesquisas, sobretudo experimentos de campo, para que possam ser gerados resultados confiáveis relacionados aos tratos culturais, melhoramento vegetal e o aumento de produção e produtividade desta importante cultura, considerando as possibilidades de mercado interno e externo no presente, e seu futuro promissor.

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