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O crescimento da olivicultura no Brasil

Foto: Sandro Seevald

A olivicultura é considerada emergente no Brasil, e o investimento pode ser uma oportunidade promissora. Somos o segundo maior importador de azeitonas de mesa e um dos maiores consumidores per capita.

O Rio Grande do Sul e a região da Serra da Mantiqueira são os maiores produtores de azeite do país, sendo o primeiro responsável por 80% da produção nacional, aproximadamente 6.300 hectares plantados e uma produção de cerca de 600 mil litros de azeite no último ano, graças às condições favoráveis de clima e relevo. Já a Serra da Mantiqueira produz em torno de 2.000 hectares.

Na safra 2022/2023, o estado gaúcho registrou um aumento de 29% na produção de azeite extravirgem, atingindo a marca de 580 mil litros.

Renato Fernandes, olivicultor, presidente do Ibraoliva e sócio do azeite Vila dos Segredos, conta que a produção de azeite de oliva no país, que começou a se reestabelecer em 2004, tem experimentado uma transformação significativa. Ele destaca que o processo comercial inicial era rudimentar e artesanal, mas em 2024 entrou em um novo estágio, com a expansão da produção para cidades como Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Bagé e Pinheiro Machado, no Rio Grande do Sul.

Variedades

Renato ressalta que, no Brasil, as variedades predominantes de azeitona incluem a Arbosana, Koroneiki, Picual e Galega, com a primeira sendo a mais adaptável ao clima e solo locais.

A produtividade das oliveiras brasileiras é considerada adequada, com uma média de dois a três quilos de azeitona por árvore adulta.

Ele também explica que o azeite de oliva é classificado em quatro categorias, sendo o extra virgem o mais premium, com acidez indo de 01 a 05, exigindo em torno de 10 quilos de azeitonas para produzir um litro. O azeite extra virgem é chamado de Novelo na Itália, Temprano na Espanha ou mesmo Azeite Novo em Portugal.

Já o azeite virgem precisa de apenas cinco quilos, sendo produzido a partir de frutas bem mais maduras e com oxidação mais alta. Por último, vem o azeite tipo único lampante que tem, em sua composição, óleo de oliva refinado e o virgem para aromatizar o óleo refinado sem sabor. Ou seja, é um óleo alterado quimicamente e possui acidez que varia entre 0,8% a 1%.

Foto: Sandro Seevald

Renato critica a alta taxa de fraude em azeites importados, com mais de 80% dos 100 milhões de litros importados não atendendo às suas classificações declaradas. Essa situação sublinha a importância de valorizar e investir na produção nacional, que garante a autenticidade e a qualidade do azeite.

Aromas e sabores

O olivicultor ressalta que o azeite extra virgem, por suas propriedades, possui maior concentração de antioxidantes quando comparado ao azeite virgem, embora ambos ofereçam benefícios à saúde.

No entanto, ele alerta para a necessidade de o consumidor conhecer o produto e entender os aromas e sabores do azeite que consome. “Um azeite extra virgem deve ser fresco, com notas de picância e amargor, além de um aroma que remeta a ervas frescas e frutas verdes. Se houver defeitos, como avinagrado, ranço ou mofo, o azeite perde sua classificação de extra virgem e passa a ser considerado virgem”, esclarece.

Renato também destacou um problema recorrente no Brasil: a comercialização de azeites importados de baixa qualidade. Muitas vezes, esses produtos são rotulados incorretamente como extra virgem, embora apresentem características químicas e sensoriais inadequadas para essa classificação.

Foto: Sandro Seevald

Um exemplo é o azeite “tipo único”, que, embora vendido no país, passou por processos de refinamento para remover defeitos, resultando em um produto sem os benefícios e sabores do azeite premium. Além disso, o azeite lampante, não recomendado para consumo humano, é utilizado apenas na indústria.

Potencial

Apesar desses desafios, a produção de azeite no Brasil está em franco crescimento, especialmente na região sul. Renato explica que, por séculos, o Brasil ficou sem desenvolver seu potencial na olivicultura, principalmente devido a decretos históricos que impediam o plantio de oliveiras no país.

Hoje, no entanto, o clima da campanha gaúcha e outras regiões do Rio Grande do Sul são comparáveis ao clima mediterrâneo, o que favorece a produção de azeitonas de alta qualidade.

Essa retomada da olivicultura mostra que o Brasil tem uma forte vocação agrícola e que o azeite brasileiro, quando produzido com qualidade, pode competir com os melhores do mundo. “Temos um amplo campo para avançar”, afirma Renato Fernandes, destacando que o país está apenas começando a explorar seu potencial nesse mercado. A perspectiva é de crescimento contínuo, com mais produtores investindo em técnicas aprimoradas e garantindo azeites de excelência.

Oportunidade em meio à crise global

Nos últimos dois anos, uma forte seca atingiu a Espanha e outras regiões da Europa, causando um impacto severo na produção de azeite de oliva. O reflexo disso tem sido a alta acentuada no preço dos azeites importados, gerando uma oportunidade para o Brasil fortalecer sua produção e atender parte do mercado interno e externo com azeites de qualidade.

Renato destaca que “se nos prepararmos e conseguirmos manter uma produção que atenda, no mínimo, parte do mercado, podemos garantir a segurança de um produto tão importante para a economia mundial, que também pode se tornar essencial para a economia brasileira”, afirma.

Reconhecimento internacional

Nos últimos anos, o Brasil conquistou importantes prêmios internacionais de azeite, refletindo o compromisso dos produtores com a excelência. Renato atribui essas conquistas a uma decisão estratégica dos olivicultores brasileiros de focarem na qualidade, e não na quantidade.

“Todos os produtores que entraram nesse setor, o fizeram com o objetivo de trazer um azeite de excelência. Não estamos preocupados com uma produção em massa, e isso tem nos rendido prêmios de ouro e prata em concursos mundiais”, comenta.

Segundo Renato, enquanto outros países produtores têm azeites de diferentes categorias, o Brasil se destaca por produzir exclusivamente azeite extra virgem de alta qualidade. “Nós não temos, até agora, azeite de segunda categoria. Todos os nossos produtores estão comprometidos em entregar um produto de excelência, e isso facilita o reconhecimento em competições internacionais”, explica.

Desafios climáticos e adaptação regional

As regiões produtoras de azeite no Brasil, como o Rio Grande do Sul e as terras altas de Minas Gerais e São Paulo, possuem características climáticas que influenciam diretamente a produção de azeites de alta qualidade.

Renato menciona que a oliveira, assim como a videira, exige uma combinação de frio e calor em momentos específicos do ciclo produtivo. “Precisamos de mais de 400 horas abaixo de 10 graus e calor na época de maturação. Apesar de alguns desafios, como as chuvas que impedem a polinização, essas regiões têm mostrado que a oliveira pode se adaptar e produzir muito bem aqui”, ressalta.

O desafio da educação do consumidor

Foto: Sandro Seevald

Entre os principais desafios enfrentados pelos olivicultores brasileiros, Renato destaca a importância de educar o consumidor sobre as diferenças entre os azeites de primeira e segunda categoria. “Não somos contra o azeite de segunda linha, mas o consumidor precisa entender que existe uma diferença de qualidade e preço. O azeite extra virgem, apesar de ser considerado caro por alguns, é um investimento na saúde”, afirma.

Ele enfatiza que, embora o azeite extra virgem não seja barato, seus benefícios para a saúde compensam o valor. “Se você dividir o custo por 30 dias, ele se torna um investimento acessível em comparação aos gastos com medicamentos. Pesquisas em universidades de todo o mundo comprovam os benefícios do azeite extra virgem para a saúde”, destaca.

Expansão de mercado

Nos últimos anos, o Brasil tem mostrado potencial para se consolidar como um importante produtor de azeites premium, especialmente em um cenário global onde a demanda por produtos de alta qualidade cresce exponencialmente.

Com um mercado que promete se expandir, o país não só tem buscado aumentar sua produção, mas também conquistar o reconhecimento internacional. Para Renato, o Brasil tem todas as condições de se tornar um player relevante no mercado mundial de azeites, especialmente no segmento de azeites premium.

“Acreditamos que esse mercado vai se expandir e se consolidar. O Brasil pode ser reconhecido não apenas como grande consumidor, mas sobretudo como produtor de azeites premium, capazes de atender tanto o público brasileiro quanto o mercado internacional”, afirma o olivicultor.

Ele enfatiza que a produção nacional está focada em oferecer azeites de alta qualidade, que valorizam o sabor e a saúde dos consumidores. “Queremos que o brasileiro experimente o azeite extra virgem brasileiro, conheça os produtores e as regiões de produção, e perceba a diferença de sabor e qualidade que o azeite nacional pode agregar às refeições do dia a dia”, acrescenta.

Dicas para quem quer começar na olivicultura

Com o mercado de azeite de oliva em expansão no Brasil, muitos produtores têm manifestado interesse em entrar no setor da olivicultura. Renato Fernandes, experiente olivicultor, diz que o primeiro e mais importante passo é fazer um estudo da zona climática onde se deseja plantar.

Foto: Sandro Seevald

A oliveira, árvore que dá origem às azeitonas, é exigente em termos de clima e solo. “Ela não gosta de umidade, precisa de frio e de áreas bem drenadas”, explica. Ele recomenda que os novos produtores busquem informações com órgãos locais de agricultura, como a Embrapa, Emater (no Rio Grande do Sul) e a EPAMIG (em Minas Gerais), que já possuem estudos detalhados sobre as melhores regiões para o cultivo no Brasil, como a Serra da Mantiqueira e o sul do país.

Escolha cuidadosa das mudas

Depois de garantir que a região é adequada para o cultivo, o próximo passo é a escolha das mudas. Renato alerta para a importância de buscar fornecedores idôneos, que ofereçam mudas certificadas e saudáveis. “A sanidade das mudas é fundamental para garantir uma boa produção no futuro”, afirma.

Além disso, ele ressalta a necessidade de paciência, já que o cultivo de oliveiras pode demorar de três a cinco anos para começar a dar frutos.

Uma cultura promissora

Quando questionado sobre a viabilidade econômica do cultivo de azeitonas no Brasil, Renato é otimista. Ele destaca que o consumo de azeite de oliva no Brasil é enorme, com um mercado que gira em torno de 100 milhões de litros por ano, enquanto o país produz apenas 500 mil litros, ou seja, menos de 1% do total consumido.

“Se já temos um mercado comprovado e crescente, por que não investir? É uma oportunidade promissora”, afirma. Ele acredita que com o apoio de estratégias de governo e iniciativas empresariais, o Brasil pode expandir sua produção e conquistar uma fatia maior do mercado.

Além de se preocupar com o clima e as mudas, Renato aconselha os novos olivicultores a procurarem associações e redes de apoio. “O site do Ibraoliva (www.ibraoliva.com.br) é um ótimo ponto de partida para quem quer conhecer as marcas e produtores associados. Lá, o produtor pode encontrar informações seguras sobre o cultivo e o mercado de azeites no Brasil.”

Ele também incentiva os interessados a conhecerem os empreendimentos de oleoturismo, uma atividade crescente no Brasil que combina turismo com visitas a propriedades produtoras de azeite. “O oleoturismo movimenta a cadeia do turismo e da agricultura no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. É uma excelente oportunidade para os produtores mostrarem seu trabalho e para o público conhecer de perto o processo de produção de azeites de alta qualidade”, conclui.

Oportunidade de crescimento e integração

Renato acredita que o futuro da olivicultura no Brasil depende da integração entre produtores e de um planejamento estratégico. “Nosso mercado está aguardando por mais produção, e precisamos avançar juntos. Já conquistamos muito, e a cada ano o azeite brasileiro ganha mais destaque. Se dermos as mãos, podemos consolidar essa cultura como uma das mais importantes do país”, afirma.

O cultivo de oliveiras no Brasil, além de ser uma oportunidade econômica, também pode contribuir para a diversificação da agricultura nacional e o desenvolvimento de novos polos turísticos, gerando emprego e renda em várias regiões do país.

Custo de produção e políticas de incentivo

Produzir azeite no Brasil, embora promissor, traz desafios significativos, especialmente no que diz respeito aos custos de produção. Renato explica que o cultivo da oliveira é um investimento de médio a longo prazo, com custos que podem variar entre R$ 20 mil e R$ 40 mil por hectare por ano, além do custo da terra.

“A oliveira é uma cultura que pode durar centenas de anos, o que representa uma oportunidade única, mas também exige subsídios e incentivos para pequenos produtores durante os primeiros anos, até que a produção comece a gerar receita”, observa.

Nesse sentido, o Ibraoliva tem trabalhado em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Agrário para implementar políticas públicas que apoiem os pequenos produtores e fomentem o crescimento da olivicultura no Brasil. “Estamos discutindo a criação de incentivos que possam sustentar os produtores nesse período inicial, permitindo que, no futuro, o azeite brasileiro possa competir nas prateleiras dos supermercados”, comenta.

O futuro do azeite brasileiro

Apesar dos desafios, Renato é otimista quanto ao futuro do azeite brasileiro. Ele acredita que, com o tempo, o consumidor nacional entenderá o valor de investir em um produto de alta qualidade, que além de sabor, proporciona benefícios à saúde. “O azeite extra virgem não é apenas um produto para chefs renomados. Ele pode fazer parte da rotina alimentar de qualquer família, agregando saúde e sabor ao dia a dia”, finaliza. Com um mercado em crescimento e o apoio de políticas públicas, o Brasil caminha para se tornar um produtor de destaque no cenário mundial de azeites premium, conquistando não apenas os consumidores brasileiros, mas também mercados internacionais em busca de qualidade e inovação.

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