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Soja: inoculação pode economizar fertilizantes

As bactérias Bradyrhizobium, quando utilizadas de forma eficaz para a inoculação, podem fixar aproximadamente 150 a 300 kg/ha de nitrogênio

Crédito USP
 

Vander Rocha Lacerda
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Agronomia/Horticultura – University of Florida – IFAS Tropical Research and Education Center (TREC), USA
rochalacerdav@ufl.edu
Xiaoying Li
Bacharel em Proteção de Plantas, mestre em Fitopatologia e doutora em Ciência de Plantas – University of Florida – IFAS Tropical Research and Education Center (TREC), USA
xiaoying.li@ufl.edu

A inoculação envolve a aplicação de bactérias do gênero Bradyrhizobium (como B. japonicum ou B. elkanii) nas sementes de soja, promovendo a formação de nódulos nas raízes que convertem o nitrogênio atmosférico em amônia, uma forma utilizável pela planta.

Essa fixação natural de nitrogênio pode reduzir ou até eliminar a necessidade de fertilizantes sintéticos, resultando em economia significativa para os produtores. A inoculação pode aumentar os rendimentos em até 15% e melhorar a saúde das plantas, já que o nitrogênio é essencial para a síntese de proteínas e o crescimento geral.

Adversidades climáticas

A inoculação é crucial em períodos de semeadura a seco, quando a umidade do solo é baixa e a atividade biológica diminui. A redução das chuvas limita a solubilidade dos nutrientes e os processos microbianos no solo, levando a possíveis deficiências nutricionais.

A fixação de nitrogênio pela soja inoculada garante um fornecimento constante desse nutriente, ajudando as plantas a manter o crescimento e desenvolvimento, mesmo em condições desafiadoras.

Essa técnica pode proteger os níveis de rendimento, compensando a menor absorção de nutrientes, prevenindo o crescimento atrofiado e promovendo o desenvolvimento radicular, que aumenta a resiliência à seca.

Inoculação x coinoculação em soja

A inoculação envolve apenas o uso de bactérias Bradyrhizobium, enquanto a coinoculação combina Bradyrhizobium com bactérias promotoras de crescimento, como Azospirillum brasilense, Bacillus subtilis e Pseudomonas fluorescens.

A coinoculação melhora o desenvolvimento radicular e a absorção de nutrientes, promovendo melhores rendimentos e saúde das plantas, especialmente em condições sub-ótimas.

A inoculação regular é ideal para as necessidades básicas de nitrogênio, enquanto a coinoculação é recomendada quando é necessário crescimento radicular adicional ou resiliência à seca, particularmente em solos de baixa fertilidade ou ambientes estressados.

Economia em fertilizantes nitrogenados

As lavouras de soja têm uma demanda significativa de nitrogênio, necessitando de aproximadamente de 70 a 80 kg de nitrogênio por tonelada de grão produzido. Para uma produtividade típica de 3,0 toneladas/ha, isso representa uma demanda total de nitrogênio de cerca de 210 a 240 kg/ha.

As bactérias Bradyrhizobium, quando utilizadas de forma eficaz para a inoculação, podem fixar aproximadamente 150 a 300 kg/ha de nitrogênio, dependendo das condições do solo, da resposta das cultivares e das práticas de inoculação.

Com práticas adequadas de inoculação, os agricultores podem economizar até 100% nos custos com fertilizantes nitrogenados, o que equivale a R$ 700 a R$ 1.400/ha, dependendo dos preços locais de fertilizantes.

Essa redução de custos diminui significativamente os gastos com insumos, mantendo ou até aumentando os níveis de produtividade. Essas economias, combinadas com os benefícios ambientais de menor aproveitamento de nitrogênio, tornam a inoculação uma prática sustentável e econômica no cultivo de soja.

Mais que benefícios

Mesmo em campos ricos em nitrogênio, inocular a soja com bactérias Bradyrhizobium é benéfico e economicamente viável, pois não é um processo oneroso. A inoculação ajuda a manter a saúde do solo, ao apoiar a diversidade microbiana e melhorar sua estrutura, o que pode beneficiar as culturas futuras.

Além disso, confiar exclusivamente no nitrogênio do solo pode aumentar o risco de escoamento e contaminação ambiental, enquanto a inoculação promove um suprimento de nitrogênio mais equilibrado.

Ao permitir a fixação biológica de nitrogênio mais tarde na safra, a inoculação pode reduzir a necessidade de fertilizantes adicionais ao longo do tempo, tornando-se uma prática econômica e sustentável.

Recomendações

Em campos previamente cultivados com outras leguminosas, a inoculação das sementes de soja ainda é recomendada. Embora algumas bactérias Bradyrhizobium possam estar presentes, a inoculação fornece a cepa específica necessária para uma fixação ideal de nitrogênio na soja.

Nódulos da FBN nas raízes da soja
Crédito Vander Rocha Lacerda

Além disso, aumenta a população de rizóbios, promovendo uma melhor nodulação e um fornecimento consistente de nitrogênio. Ao realizar a inoculação, os produtores podem garantir uma fixação de nitrogênio mais confiável e maior potencial de produtividade, reduzindo a dependência das condições variáveis do solo.

Saúde do solo

A inoculação enriquece a saúde do solo, ao aumentar a diversidade microbiana e promover o ciclo natural do nitrogênio. O tipo e as condições do solo influenciam significativamente o processo de nodulação e fixação de nitrogênio na soja.

Solos mal drenados ou compactados restringem o crescimento das raízes e limitam a disponibilidade de oxigênio, essencial para a atividade das rizóbios. Solos ácidos (pH abaixo de 5,5) também podem prejudicar a nodulação, pois o pH baixo afeta a sobrevivência e a eficiência das rizóbios.

Em tais solos, a aplicação de calcário pode melhorar o sucesso da inoculação.

Essencialidade

Micronutrientes essenciais, como cobalto (Co) e molibdênio (Mo), são cruciais para o processo de fixação biológica de nitrogênio promovido pelas bactérias Bradyrhizobium. O molibdênio é um componente-chave da enzima nitrogenase, que participa diretamente na conversão do nitrogênio atmosférico em uma forma utilizável pela planta, enquanto o cobalto auxilia na síntese de vitamina B12, essencial para a saúde das rizóbios.

Por isso, recomenda-se a aplicação foliar de Mo a 40 – 80 g/ha e Co a 4,0 – 8,0 g/ha para fixação eficiente.

Eficácia do processo

Para garantir uma inoculação eficaz, devem ser utilizados produtos registrados pelo Ministério da Agricultura, dentro do prazo de validade e de alta qualidade. Evite a exposição a temperaturas extremas e à luz solar direta, pois essas condições podem reduzir a viabilidade das bactérias.

Para melhor vigor bacteriano, a semeadura deve ser realizada imediatamente após a inoculação, no máximo em até 24 horas após o processo. Para melhorar a adesão das bactérias às sementes, é importante usar uma pulverização com uma solução de açúcar (sacarose) diluída em água a 10%.

Pequenas gotas da solução açucarada não resultam em doenças nem reduzem o vigor das sementes. Siga cuidadosamente as instruções do fabricante e garanta que a cobertura das sementes seja completa para máxima eficácia.

Se estiver utilizando inoculantes líquidos, aplicá-los em uma área sombreada ajuda a manter a atividade bacteriana até o plantio. Fatores ambientais adversos podem reduzir a eficácia da inoculação.

Chuvas intensas podem lavar as bactérias das sementes ou do solo, portanto, o uso de revestimentos poliméricos pode melhorar a aderência. Altas temperaturas (acima de 30°C) podem prejudicar as bactérias, por isso, é recomendável armazenar os inoculantes em condições frescas e secas e plantar durante as partes mais frescas do dia para manter a viabilidade e eficácia.

 A produtividade é reflexo de um manejo bem feito
Crédito Ana Maria Diniz

Respostas à inoculação

Cultivares específicas de soja, como BRS 7280, BRS 595 RR e BRS 267 (soja vegetal/edamame), são conhecidas por suas boas respostas à inoculação devido às suas características genéticas e alta demanda por nitrogênio.

Essas cultivares apresentam crescimento e rendimento aprimorados quando inoculadas com Bradyrhizobium, especialmente em condições de baixa fertilidade do solo. Os produtores podem identificar as melhores opções revisando os resultados de ensaios agronômicos conduzidos em suas regiões ou buscando informações junto aos serviços de extensão locais.

Cultivares adaptadas às condições regionais geralmente apresentam maior eficiência de nodulação e fixação de nitrogênio, maximizando o potencial de rendimento e sustentabilidade. A colaboração com instituições de pesquisa e extensão garante acesso a informações atualizadas sobre o desempenho das cultivares e compatibilidade com práticas de inoculação.

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