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Nutrição do tomateiro – Mais rentabilidade e sustentabilidade com os organominerais

Autores

Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
rmqlana@ufu.br
José Magno Queiroz Luz
Professor de Olericultura – UFU
Danyela Cristina Marques Pires
Mara Lúcia Martins Magela
Doutorandas em Agronomia – UFU

A cultura do tomate ocupa posição de grande importância socioeconômica e participação expressiva no agronegócio brasileiro devido à alta demanda de consumo e volume de produção, que contribuem para a geração de empregos diretos e indiretos e renda de milhares de trabalhadores (Brito Júnior, 2012).

O tomate pode ser consumido in natura ou processado, nas formas de suco, purê, polpa, extrato, catchup, molho, tomate seco e, inclusive, em tomate em pó (França, 2007). Possui altos teores de vitaminas A e C, além de ser rico em licopeno, substância que ajuda na prevenção de cânceres, principalmente os relacionados ao aparelho digestivo. Devido a sua versatilidade culinária e seu valor nutricional, é uma das hortaliças mais consumidas e produzidas no mundo (Carvalho; Pagliuca, 2007).

Os consumidores estão cada vez mais exigentes e apresentam preferências por tomates de tipos diversificados, com ótima aparência, tamanho homogêneo, maior conteúdo nutricional e livres de contaminantes químicos e biológicos. Parâmetros de diferenciação como estes têm o poder de agregar valor aos frutos e incrementar o mercado (Vilela et al., 2018).

Como a exploração do tomateiro é considerada atividade de alto risco, principalmente devido à alta suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças, oscilações nos preços de mercado e exigências de insumos e serviços (Fernandes et al., 2007) torna-se necessário que o produtor tenha alto conhecimento na cultura e esteja disposto a investir em novas tecnologias para obter sucesso.

Nutrição

O tomateiro é uma das hortaliças que mais exige em adubação. Segundo Pereira (2018), a estimativa de uso de fertilizantes em lavouras de tomate é de 1.875 kg ha-1, ficando atrás apenas da cultura da batata (2.826 kg ha-1).

 Essa exigência se deve às características de solo e planta, pois muitas vezes a quantidade de nutrientes extraída pela planta é relativamente baixa em razão da baixa eficiência da adubação. Por exemplo, para fertilizantes fosfatados a taxa de absorção é de aproximadamente 10%, e o restante fica no solo, na forma de resíduo, podendo ser absorvido por outras plantas, transportado pela água ou retido por partículas do solo (Embrapa, 2006).

Dessa maneira, o que mais contribui para altas produtividades é conhecer as exigências nutricionais, os sintomas de deficiências e o modo de corrigi-las, fazendo o manejo adequado da adubação e fertilidade do solo. Na tabela 1 está descrita a quantidade de nutrientes extraídos em uma tonelada de frutos de tomate (Embrapa, 2006).

Tabela 1. Quantidade de nutrientes extraídos por tonelada de frutos de tomate.
Macronutrientes (kg) K N Ca S P Mg
5,0 3,0 0,8 0,7 0,5 0,2
Micronutrientes (g) Mn Fe Zn Cu B  
25 25 25 10 5  
Fonte: Embrapa (2006).

Disponibilização

Devido a diversos fatores, como indisponibilidade de recursos naturais, concentração de mercado e questões tributárias, mais de 70% dos fertilizantes utilizados no Brasil são importados, sendo 95% do cloreto de potássio, 83% do nitrogênio e 60% do fosfato (Richetti, 2018). Dessa maneira, o Brasil possui uma forte dependência de fertilizantes provenientes do mercado externo.

Assim, se por um lado importam-se fertilizantes minerais para a produção vegetal, por outro, têm-se resíduos orgânicos que são pouco aproveitados na agricultura, os quais contêm nutrientes essenciais que, além de melhorar as características físicas e biológicas do solo, melhoram a fertilidade e eficiência de absorção de nutrientes pela planta.

A utilização desses resíduos no setor agropecuário como fonte alternativa de nutrientes é de extrema importância, pois permite a destinação correta desse produto, o que reduz os impactos ambientais (Almeida, 2017).

Sustentabilidade

A possibilidade de reduzir a utilização de fertilizantes minerais na agricultura, aliado à necessidade de disposição sustentável de resíduos orgânicos no ambiente, torna esses resíduos atrativos no ponto de vista econômico, agrícola e ambiental (Higashikawa et al., 2010).

Uma das alternativas para mitigar esse passivo ambiental é a produção de fertilizantes organominerais utilizando esses resíduos como fonte de matéria orgânica. O mercado de fertilizantes organominerais cresceu de forma progressiva nos últimos anos no Brasil (Abisolo, 2010).

Estima-se que em 2009 foram produzidas e comercializadas cerca de 3,5 milhões de toneladas de fertilizantes organominerais, a partir de matérias-primas como estercos, turfa, resíduos da indústria sucroalcooleira, farinhas de ossos e sangue, tortas diversas e resíduos agroindustriais (Benites, 2011).

Esses fertilizantes organominerais precisam atender as exigências e garantias mínimas determinadas pela legislação (MAPA, 2009) e seu uso geralmente é mais eficiente que a aplicação exclusiva de material orgânico ou mineral (Filgueira, 2008).

Esse efeito está relacionado ao fato da matéria orgânica, presente no fertilizante organomineral, possuir liberação lenta; potencializar o efeito dos nutrientes ao facilitar a absorção destes; auxiliar no transporte de fotoassimilados elaborados pela própria planta; e funcionar como condicionadora imediata dos sais minerais que entram em decomposição, evitando incompatibilidade física e química entre os adubos que compõem a formulação (Kiehl, 2008, 2010).

Outras vantagens associadas à matéria orgânica é o estímulo da flora microbiana em volta do sistema radicular, causando maior proliferação e biodiversidade de microrganismos; aumento da retenção de água; da aeração; da retenção de nutrientes; do estado de agregação do solo e da formação de quelatos naturais, influenciando diretamente na nutrição da planta (Souza; Resende, 2003).

Pesquisas

Almeida (2017) verificou que o desempenho de plantas de tomateiro industrial submetidas à ação de um fertilizante organomineral à base de cama de frango foi superior a fonte exclusivamente mineral com incrementos de 3,3% para altura de planta, 2,4% para diâmetro de caule, 1,6% para diâmetro longitudinal do fruto e 15,2% para número de frutos por planta.

Caixeta (2015), ao testar diferentes doses de organomineral, além de obter incremento na produção do tomateiro, refletindo em suas características morfológicas e fisiológicas, constatou também um efeito positivo nos teores de substâncias húmicas do solo, acarretando em aumento de carbono das frações, bem como de nutrientes.

Mueller et al. (2013) avaliaram a influência de doses de adubação orgânica com cama de aviário, associado ou não à adubação mineral, na produtividade de tomateiro, cv. Alambra, no município de Caçador (SC), na safra 2007/08 e em sistema de plantio direto. Os autores verificaram que a aplicação exclusiva do adubo orgânico não foi suficiente para conseguir altas produtividades do tomateiro, sendo estas obtidas com a aplicação exclusiva do fertilizante mineral e também do organomineral, independentemente da quantidade de resíduo orgânico na sua composição (Tabela 2).

Tabela 2. Produtividade de tomateiro, cv. Alambra, conduzido no município de Caçador (SC), em sistema de plantio direto, na safra 2007/08, em função de doses de cama de aviário e de complementação mineral.
Cama de aviário (t ha-1) Complementação com adubos minerais
Sem Com Sem Com
Extra 2A (t ha-1) Total comercial (t ha-1)
0 21,8b 63,4a 60,7b 105,5a
6 36,8b 62,9a 76,3b 104,1a
12 54,0b 67,5a 96,0b 107,5a
18 55,0b 69,9a 91,7b 110,8a
Fonte: Adaptado de Mueller et al, 2013.

De acordo com Luz et al. (2010), o uso de fertilizantes organominerais em lavoura de tomate híbrido Débora Pto, no município de Uberlândia, de julho a novembro de 2007 e população de 12.500 plantas por hectare, resultou na produtividade de 93,9 t ha-1 de tomate tipo extra 2A e produtividade total de 105,4 t ha-1, enquanto que na ausência de fertilizantes os valores foram de 75,0 e 85,9 t ha-1, respectivamente (Tabela 3).

Os autores também avaliaram o custo e o lucro obtido nas lavouras e verificaram que o investimento na aplicação do fertilizante organomineral em um hectare foi de R$ 517,88 e a receita líquida obtida foi de R$ 14.007,13, enquanto que na ausência do fertilizante a receita líquida foi de apenas R$ 4.446,88, ou seja, o lucro do produtor foi 215% maior com o uso do organomineral (Tabela 3).

Tabela 3. Produtividade e análise econômica de tomateiro híbrido Débora Pto conduzido no município de Uberlândia (MG_, de julho a novembro de 2007, em função da ausência e presença de organomineral.
  Sem organomineral Com organomineral
Produtividade t ha-1
Extra 2A 75,0b 93,9a
Total comercial 85,9b 105,4a
Análise econômica Valores por hectare (12.500 plantas)
Receita bruta R$ 41.946,88 R$ 52.025,00
Custo da lavoura R$ 37.500,00 R$ 37.500,00
Custo do organomineral R$ 517,88
Receita líquida R$ 4.446,88 R$ 14.007,13
Fonte: Adaptado de Luz et al (2010).

Viabilidade

Nesse contexto, o uso de fertilizantes organominerais é importante no ponto de vista agrícola e ambiental, pois contribui para um sistema de produção mais sustentável, ao permitir a redução do uso de fontes não renováveis de fertilizantes e a destinação correta de resíduos orgânicos, que melhoram as características do solo, contribuindo para um sistema mais equilibrado e saudável.

Os fertilizantes organominerais são importantes também no ponto vista econômico, pois apesar do valor do fertilizante mineral ser similar ao valor do organomineral, a avaliação do custo-benefício indica que, quando o produtor faz opção pelo organomineral, o lucro tende a ser maior, devido ao aumento da produção e qualidade do produto, favorecendo um sistema de alta produtividade e rentabilidade.

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