A gestão organizacional no agronegócio possibilita utilizar ferramentas que auxiliam na administração profissional de acordo com as boas práticas de gestão de negócios, envolvendo desde a indústria, os canais de distribuição (revendas) até o produtor rural, já que são codependentes.Ela consiste em aplicar corretamente metodologias e conceitos como: planejamento, gestão de custos, gestão financeira,gestão de processos de produção e comercialização de produtos.É a diferença entre fazer a coisa certa e dar um tiro no escuro
Roberto Rodrigues
Diretor executivo e consultor da R. R. Life Consulting & Business, professor da FGV e palestrante
roberto@rrlifeconsultoria.com.br
O agronegócio pode ser considerado, hoje, o setor mais importante para a retomada da economia nacional. Atualmente, o segmento representa mais 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do País e é responsável por metade das exportações, tendo papel ativo no saldo positivo da balança comercial brasileira.
Às escuras
No campo, observa-se falta de preparação quando o assunto é planejamento do agronegócio. Isso porque a maioria é composta por engenheiros agrônomos que geralmente atuaram junto a grandes empresas multinacionais.
Assim, quando saem dessas empresas e originam seus próprios negócios (pequenas indústrias, revendas e até mesmo como produtores), eles geralmente sentem a falta do conhecimento prático e teórico (talvez) quanto aos importantes e necessários quesitos:
ÃœGestão financeira;
ÃœGestão comportamental;
ÃœGestão de processos;
ÃœGestão de passivos (financeiro, bancário, tributário, etc.);
ÃœGestão patrimonial;
ÃœGestão de compras x vendas x estoque x interesses comerciais dos parceiros;
ÃœNegociações adequadas com parceiros (fornecedores de matéria-prima e insumos) e bancos (fornecedores de recursosfinanceiros), etc.
A gestão organizacional do agronegócio
A gestão organizacional do agronegócio consiste no equilíbrio – ou trabalhar muito próximo disso, quanto a equalizar todos os quesitos acima, de forma sinérgica e que possa, assim, “gerar riqueza“ no negócio do qual faz parte.Em resumo, é melhorar o que não está bom, e preservar, manter ou potencializar o que já estásatisfatório.Essa metodologia de gestão consiste em organizar e equilibrar tudo isso, antecipando que não é uma tarefa tão simples.
Segundo os órgãos CEPEA/ESALQ são mais de 20 milhões de empregos gerados no setor do agronegócio, fora os trabalhos informais e os próprios produtores e empresários, que não contemplam essa lista. Assim, acredita-se em cerca de 30 a 40 milhões de pessoas estão envolvidas em toda a cadeia do agronegócio brasileiro. Porém, apenas cerca de 10% dos empresários rurais adotam atualmente as boas práticas de gestão.
Ao optarem e por fazer a adoção da gestão organizacional no agronegócio os benefícios são inúmeros, podendo listar alguns como:
ðMelhoria da liquidez financeira;
ðMelhor forma de utilização de recursos financeiros;
- Capital próprio;
- Capital de terceiros;
ðMelhoria da gestão de risco e mitigação de problemas;
ðMelhor utilização dos recursos tecnológicos (software de gestão ” ERP);
ðMelhor tomada de decisão;
ðMelhor controle de resultados;
ðMelhor mensuração e estabelecimento de metas e objetivos de curto, médio e longo prazos;
ðGeração de riqueza, ao invés de apenas lucro;
ðRedução do custo financeiro;
ðMelhoria na gestão de compras e controle de estoque;
ðAmpliação da imagem no mercado e respeitabilidade junto aos parceiros (bancos e fornecedores);
ðMelhoria na gestão de venda dos produtos (hora da verdade).
Nas revendas, a gestão organizacional do agronegócio pode ser implantada nas áreas: financeira, compras e estoque, comercial, crédito e cobrança, tributário e contábil, gestão das estratégias, controladoria, central de serviços, relacionamento com parceiros e governança corporativa.
Nas indústrias de produtos agrícolas, também pode ser implantada a gestão organizacional do agronegócio com as mesmas fundamentações apresentadas, porém,diferindo apenas a parte operacional(PCP), no que diz respeito à indústria.
Como funciona
Nos segmentos primário e secundário, que estão dentro da produção, a gestão envolve desde saber comprar os insumos, fazer uma boa parceria para adquiri-los de maneira adequada a um custo apropriado, com prazo compatível e de boa qualidade, o que vai fazer toda a diferença no final.
Depois, é preciso uma ótima gestão quanto à aplicabilidade dos insumos, ou seja, considerando a assessoria disponível, que são os consultores do agronegócio – aqueles que fazem o receituário agronômico (os agrônomos) e recomendam como, quando e de que maneira plantar. Mas, antes dessa etapa é preciso adquirir recursos financeiros para viabilizar a atividade, contratar pessoas, e ao mesmo tempo gerenciar ou fazer a gestão de todo esse processo produtivo.
Gestão primária
Dentro da linha chamada primária, que seria a produção, a gestão tem entre três a quatro níveis: o primeiro, a aquisição dos insumos ” a qual necessita de planejamento e recursos financeiros ou de crédito, depois a operacional – o plantio, acompanhamento da lavoura nos estágios vegetativo, desenvolvimento e colheita, que é fundamental, e, por fim, a questão que talvez seja o maior desafio do produtor”negociar o que colheu.
Pode acontecer de o produtor ser muito bom tecnicamente, mas infelizmente ele fica à mercê do acaso, como o clima da época que está plantando, liberação de crédito dos bancos, taxas de juros da economia, indústrias e trades, além da interferência bolsa de Chicago, que muitas vezes ditam as regras. Assim, nota-se pouca preparação para se ter uma boa gestão financeira voltada à questão da venda.