Autores
Renato Passos Brandão
Gerente Especialista em Nutrição Vegetal
Rafael Bianco Roxo Rodrigues
Gerente Técnico de São Paulo e Sul de Minas Gerais
A colheita da cana no Centro-Sul do Brasil terá início em meados de abril, quando terá início uma nova etapa. As usinas e os fornecedores de cana realizarão práticas culturais com o intuito de preparar a cana para a colheita da próxima safra. Destaca-se, neste momento, a aplicação de inseticidas no corte de soqueira.
Pragas
A cana-de-açúcar é afetada por diversas pragas, dentre as quais o Sphenophorus levis, considerada uma das principais pragas da cultura, com potencial de perdas anuais que podem atingir de 20 a 30 t/ha. Em canaviais com alta infestação, o ataque desta praga é tão intenso que, em muitas situações, é recomendada a antecipação da reforma do canavial.
As larvas de Sphenophoris levis são as responsáveis pelos danos desta praga na cana. Ao se alimentarem, as larvas escavam galerias, danificando os tecidos no interior dos rizomas.
Com a adoção do sistema de colheita da cana crua, ocorreu um aumento significativo na população desta praga. No sistema de colheita da cana queimada, o fogo reduz significativamente a população das pragas e a palha da cana também serve de abrigo para as pragas.
Além da aplicação dos inseticidas, os biofertilizantes e micronutrientes também podem ser aplicados no corte da soqueira.
Biofertilizantes
Os biofertilizantes no corte da soqueira podem ser uma alternativa para a minimização dos estresses abióticos e bióticos em cana. Os biofertilizantes são qualquer substância ou microrganismo aplicado às plantas com o objetivo de melhorar a sua eficiência nutricional, a tolerância a estresses abióticos e/ou a qualidade dos cultivos, independente do seu conteúdo nutricional.
A aplicação dos biofertilizantes no corte da soqueira proporciona uma série de benefícios à cana, dentre os quais:
9 Maior desenvolvimento do sistema radicular da cana: maior absorção de água, nutrientes e síntese de citocinina;
9 Maior absorção de água = maior tolerância da cana aos estresses bióticos – veranicos – e abióticos – por exemplo, uma dose excessiva de herbicida;
9 Maior eficiência da cana na absorção de nutrientes, destacando-se os nutrientes absorvidos por difusão – fósforo, zinco, cobre, manganês e potássio – que possuem baixa mobilidade no solo.
Além da maior absorção de água e nutrientes ocasionada pelo maior desenvolvimento do sistema radicular da cana, ocorre também maior síntese de citocinina. Os benefícios dos biofertilizantes mencionados anteriormente melhoram a produtividade e a qualidade da cana – aumento no ATR.
As citocininas são hormônios vegetais, definidas como compostos que possuem atividades biológicas semelhantes àquelas da trans-zeatina. Estas atividades incluem: indução da divisão celular em calos na presença de uma auxina; promoção da formação de gemas ou raízes a partir de calos na cultura, quando em razões molares adequadas para auxina e retardo da senescência foliar.
Soluções
A Biosoja possui dois biofertilizantes que podem ser utilizados no corte de soqueira: Bioenergy® e NHT Humic®.
Bioenergy® é um fertilizante fluido organomineral, classe A, contendo extratos de algas marrons (Ascophyllum nodosum) e aditivos, melhorando a performance do produto na cana-de-açúcar. Possui 5% de K2O, 6% de carbono orgânico total (COT) e densidade de 1,31 g/mL. O pH do Bioenergy® varia de 7,0 a 8,0.
Durand et al. (2003) verificaram que o extrato de Ascophyllum nodosum aumentou a atividade do nitrato redutase, uma enzima-chave no metabolismo do nitrogênio, estimulando o crescimento das plantas em condições nutricionais adversas, principalmente em plantas com deficiência de nitrogênio.
Bioenergy possui também compostos denominados de betaínas, com propriedades semelhantes às citocininas, aumentando a retenção da clorofila nas folhas das plantas. As betaínas estão envolvidas na maior resistência das plantas à geada e à seca (Stadnik & Paulert, 2008).
A dose do Bioenergy® no corte da soqueira varia de 0,5 a 1 L/ha, sendo que a maior dose deve ser direcionada aos ambientes de produção com maiores limitações à cana.
Já NHT® Humic é um fertilizante fluido organomineral, classe A, contendo altos teores de substâncias húmicas – ácidos fúlvicos e ácidos húmicos. NHT® Humic possui 1% de N, 9% de K2O, 14% de carbono orgânico total (COT) e densidade de 1,28 g/mL. Seu pH varia de 7,0 a 8,0.
As substâncias húmicas são uma mistura complexa de compostos orgânicos com natureza coloidal (partículas extremamente pequenas), apresentando propriedades ligeiramente ácidas e com grande interação com as frações minerais do solo.
As substâncias húmicas do NHT® Humic proporcionam uma série de benefícios às plantas e aos solos. Nos solos tropicais, nos quais as condições de cultivo são extremas, o manejo das substâncias húmicas é de fundamental importância para a sua sustentabilidade agrícola a longo prazo.
Benefícios para a cana:
* Aumenta o enraizamento dos toletes;
* Estimula o desenvolvimento do sistema radicular da cana, proporcionando maior absorção de água e nutrientes. As substâncias húmicas estimulam a ATPase, enzima responsável pela absorção dos nutrientes da rizosfera;
* Maior tolerância da cana aos estresses ambientais, tais como veranicos e variações bruscas na temperatura;
* Maior estímulo ao desenvolvimento vegetativo da cana;
* Maior produtividade da cana, com aumento na rentabilidade da atividade canavieira.
Benefícios para o solo:
* Conferem aos solos um maior equilíbrio químico, físico, físico-químico e biológico, aumentando seu potencial produtivo;
* Ocorre aumento na capacidade de retenção de cátions – CTC –, reduzindo as perdas dos nutrientes catiônicos por lixiviação;
* Aumenta a disponibilidade de P à cana, reduzindo a fixação deste nutriente pela complexação dos óxidos de ferro e de alumínio dos solos. Além disso, o maior desenvolvimento do sistema radicular da cana facilita a difusão do P às raízes da cana – maior proximidade do nutriente;
* Estimula a atividade dos microrganismos benéficos à cana, fornecendo carbono orgânico e outros compostos que servem de fonte de energia e de nutrientes;
* Neutralização de elementos químicos tóxicos nos solos, tais como alumínio e metais pesados, formando complexos orgânicos com alta estabilidade química.
Micronutrientes
Os micronutrientes são os nutrientes requeridos em pequena quantidade pela cana (Tabela 1). Basicamente, atuam como catalisadores ou ativadores das reações enzimáticas.
Tabela 1. Extração e exportação de micronutrientes para a produção de 100 t de colmos de cana (Orlando Filho, 1983)
Partes da planta | B | Cu | Fe | Mn | Zn |
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – g – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – | |||||
Colmos | 149 | 234 | 1.393 | 1.052 | 369 |
Folhas | 86 | 105 | 5.525 | 1.420 | 223 |
Total | 235 | 339 | 6.918 | 2.472 | 592 |
% exportada | 63,4 | 69,0 | 20,1 | 42,6 | 62,3 |
De maneira geral, os micronutrientes mais deficientes nos canaviais do Centro-Sul são o boro e o zinco. Nos solos sob vegetação de Cerrado, a deficiência de manganês é generalizada, notadamente nos solos de textura média a arenosa.
Nos Tabuleiros Costeiros do Nordeste e Espírito Santo, as deficiências de micronutrientes são generalizadas. Em sistemas de cana-crua há uma tendência de aumento no teor de matéria orgânica podendo induzir deficiência de Cu, mesmo em solos com teores adequados derivados de rochas basálticas.
Em solos com médios e baixos teores de micronutrientes (Tabela 2), realizar a aplicação dos fertilizantes abaixo na corte da soqueira.
Ü Fertilis® Boro: 2,0 L/ha;
Ü Fertilis® Mol: 1,0 a 2,0 L/ha;
Ü NHT® Zinco: 0,5 a 1 L/ha.
Recomendações
A forma mais eficiente para o fornecimento de manganês à cana é via foliar. O Mn2+, forma química disponível às plantas, é oxidada a Mn3+ e Mn4+, formas químicas não disponíveis à cana. Em solos com baixo teor de Mn, realizar de duas a três adubações foliares com 0,3 a 0,5 L/ha do NHT® Manganês+, com intervalos médios de 30 dias.
De forma similar ao manganês, a forma mais eficiente para o fornecimento de cobre à cana é via foliar. Atualmente, há uma tendência de utilização de produtos fornecedores de cobre com baixa solubilidade em água.
O NHT® Cobre Super é um fertilizante fluido, em suspensão, com alta concentração de cobre. Cada litro do NHT® Cobre Super contém 385 g de Cu. O NHT® Cobre Super é produzido a partir de carbonato de cobre. Realizar de duas a três aplicações com 0,15 a 0,25 L/ha do NHT® Cobre Super com intervalos médios de 30 dias.
Tabela 2. Interpretação dos teores de micronutrientes nos solos cultivados com cana (Raij et., 1998)
Teores no solo | Boro | Cobre | Ferro | Manganês | Zinco |
Água quente | – – – – – – – – – – – – – – – – – – – DTPA – – – – – – – – – – – – – – – – – – – | ||||
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – mg/dm3 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – | |||||
Baixo | <0,20 | <0,20 | <5 | <1,3 | <0,6 |
Médio | 0,21-0,60 | 0,30-0,80 | 5-12 | 1,3-5,0 | 0,6-1,2 |
Alto | >0,60 | >0,80 | >12 | >5,0 | >1,2 |
O Fertilis® Boro é um fertilizante fluido, fonte de boro à cultura da cana, com uma formulação diferenciada. O boro é estabilizado com hidroxaminas, permitindo uma formulação com alta concentração de boro e maior aproveitamento deste nutriente pela cana. Cada litro do Fertilis® Boro contém 135 g de B. O pH do Fertilis® Boro varia de 7,5 a 8,5.
O Fertilis® Mol é um fertilizante fluido, fonte de molibdênio à cana. Cada litro do Fertilis® Mol contém 132 g de Mo. Além deste micronutriente, o Fertilis® Mol também possui 7% de P2O5 (92,4 g/L). O pH do Fertilis Mol situa-se na faixa ligeiramente ácida, permitindo misturas com a maioria dos fertilizantes foliares.
O NHT® Zinco é um fertilizante fluido, em suspensão, com alta concentração de zinco. Cada litro do NHT® Zinco contém 1.015 g de Zn, sendo produzido a partir de óxido de zinco, permitindo misturas e proporcionando uma liberação gradativa do Zn à cana. NHT® Zinco possui 1% de N, 50% de Zn total e densidade de 2,03 g/mL. O pH do NHT® Zinco varia de 08 a 10.
Considerações finais
O corte de soqueira é uma prática cultural utilizada em larga escala em canaviais com alta incidência de pragas de solo, dentre os quais Sphenophorus levis. Uma das práticas culturais mais eficientes para o controle desta praga é a aplicação de inseticidas no corte de soqueira. Além da aplicação dos inseticidas, os biofertilizantes e micronutrientes também podem ser aplicados no corte da soqueira.
O NHT® Humic e o Bioenergy® são os biofertilizantes da Biosoja que podem ser utilizados no corte da soqueira. Dentre os micronutrientes, aqueles que proporcionam bons resultados no corte da soqueira são o boro (Fertilis® Boro), molibdênio (Fertilis® Mol) e o zinco (NHT® Zinco). As formas mais eficientes para o fornecimento de Cu e Mn são as pulverizações foliares.
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