Autores
Luís Paulo Benetti Mantoan
Doutor em Ciências Biológicas (Botânica)/Fisiologia Vegetal – UNESP
luismantoan@gmail.com
Carla Verônica Corrêa
Doutora em Agronomia/Fisiologia Vegetal – UNESP
cvcorrea1509@gmail.com
A mosca-branca é uma das pragas mais nocivas das lavouras brasileiras de soja, algodão, feijão e outras culturas. As ninfas contribuem para o desenvolvimento da fumagina, um fungo que cobre as folhas e diminui a fotossíntese, mas os maiores danos ainda vêm da transmissão de vírus capazes de matar a planta. Os prejuízos estimados são superiores a R$ 10 bilhões e há registros de perdas de até seis sacas por hectare devido a infestações.
A praga
A mosca-branca é considerada um vetor para muitos tipos de vírus em diversas culturas. O ciclo de vida deste inseto apresenta três fases que são: o ovo, a ninfa (subdividida em quatro estágios: 1º instar, 2º instar, 3º instar e pupa) e por último a fase adulta.
As fêmeas depositam os ovos com formato de pera na superfície de baixo das folhas de maneira irregular.
Controle
Na maioria das vezes o controle da mosca-branca é feito por meio de inseticidas que atuam na fase adulta do inseto. Dentre os princípios ativos disponíveis no mercado estão os pertencentes ao grupo químico dos neonicotinoides e clorpirifós, sendo que tais produtos são recomendados quando existe maior quantidade de adultos do que ninfas na lavoura.
Contudo, existem produtos no mercado que são capazes de atuar no controle da mosca-branca durante a fase imatura, os quais são recomendados quando existe alta incidência de ninfas. Como exemplo estão os inseticidas à base de buprofezim e piriproxifem. O primeiro atua como inibidor da síntese de quitina, um importante polissacarídeo sintetizado durante o desenvolvimento do inseto. O segundo atua como um hormônio juvenil sintético para a mosca-branca, sendo que ao ser aplicado causa um desequilíbrio no desenvolvimento normal da ninfa, levando-a à morte.
Além do uso de inseticidas, existem formas alternativas para o controle da mosca-branca, que são o controle cultural e o controle biológico. Tais métodos apresentam a vantagem de não agredir o meio ambiente. No controle cultural são utilizadas técnicas preventivas, como a rotação de culturas utilizando milho ou sorgo.
Em pequenas culturas realizadas em estufas, como a do tomate, o uso de armadilhas adesivas, a eliminação de plantas daninhas hospedeiras do inseto e a destruição de restos culturais são de grande ajuda para o controle populacional da mosca-branca.
Biológico
O controle biológico consiste no uso dos inimigos naturais da mosca-branca, sendo que ao todo foram identificadas 16 espécies de predadores, 37 espécies de parasitoides e existem relatos de diversos fungos que são entomopatógenos da mosca-branca. Porém, para que o controle biológico seja eficiente, é necessário que o produtor utilize inseticidas seletivos para evitar a mortalidade dos inimigos naturais da mosca-branca.
Culturas prejudicadas
Estima-se que cerca de 500 a 900 espécies de plantas sirvam de alimento para a mosca-branca. Entre estas espécies encontram-se culturas herbáceas, bianuais e perenes, seja em cultivo protegido ou em campo aberto. Além disso, espécies nativas também servem como hospedeiras para a mosca-branca. Na tabela 1 encontra-se um resumo das espécies hospedeiras da mosca-branca.
Tabela 1: Espécies cultivadas hospedeiras da mosca-branca
Cultura | Espécie |
Abóbora | Cucurbita moschata |
Abobrinha | Cucurbita pepo |
Alface | Lactuca sativa |
Algodoeiro | Gossypium hirsutum |
Berinjela | Solanum melongena |
Brócolis, couve, repolho e couve-flor | Brassica oleracea |
Chicória | Cichorium endivia |
Chuchu | Sechium edule |
Coqueiro | Cocos nucifera |
Crisântemo | Chrysanthemum spp. |
Ervilha | Pisum sativum |
Eucalipto | Eucalyptus camaldulensis |
Feijoeiro | Phaseolus vulgaris |
Gérbera | Gerbera hybrida |
Hibisco | Hibiscus esculentum |
Jiló | Solanum gilo |
Maracujá | Passiflora spp. |
Melancia | Citrullus lanatus |
Melão | Cucumis melo |
Pepino | Cucumis sativus |
Pimentão | Capsicum annuum |
Soja | Glycine max |
Tomateiro | Lycopersicon esculentum |
Prejuízos
A mosca-branca pode causar prejuízos à produção por meio de danos diretos e indiretos. Os danos diretos estão relacionados à intensidade de alimentação, tanto pelo adulto como pela forma imatura (ninfas).
Sob condições de alta infestação existe uma intensa retirada de seiva das folhas por parte das ninfas e adultos, o que, por sua vez, resulta na intensa retirada de nutrientes e produtos da fotossíntese que deixarão de nutrir as diversas partes da planta, como raízes, frutos e sementes, resultando até mesmo em queda das folhas por falta de fotoassimilados para nutri-la.
Os danos indiretos causados pelas ninfas e adultos da mosca-branca estão relacionados a secreções açucaradas resultantes do processo de alimentação, conhecidas como “mela”. Trata-se de um substrato para o desenvolvimento do fungo responsável pela fumagina, cujo desenvolvimento sobre a folha acaba reduzindo a área foliar útil para a fotossíntese.
Não confunda
Um ponto importante a ser destacado é que as ninfas não são transmissoras das viroses que causam doenças em plantas, o que normalmente ocorre com os adultos da mosca-branca. Isso ocorre porque o vírus presente na mosca adulta não é passado para os descendentes. Sendo assim, para que estes descendentes sejam portadores de algum tipo de vírus que causa alguma doença nas plantas, é necessário que a prole na fase adulta se alimente de plantas que sejam hospedeiras de um determinado vírus, como por exemplo, o do mosaico comum.
Portanto, apenas as moscas adultas são capazes de causar danos indiretos por transmissão de vírus patogênicos.
Sintomas
Os sintomas do ataque da mosca-branca são resultantes dos danos diretos e indiretos. No caso dos danos diretos, ocasionados tanto pelas ninfas como pelos adultos, os sintomas podem ser observados pelo amarelecimento das folhas, resultante da alta frequência de alimentação, enquanto que em plantas jovens as folhas podem secar, levando a planta à morte.
Outro sintoma capaz de evidenciar a presença das ninfas da mosca-branca é a ocorrência de uma camada branca e cerosa que as ninfas secretam na face abaxial da folha como forma de proteção.
Os sintomas ocasionados pelos danos indiretos estão relacionados ao aparecimento da fumagina, a qual surge devido à secreção de substâncias açucaradas (mela) por parte das ninfas. Tais substâncias levam ao estabelecimento do fungo Capnodium, causador da fumagina.
Outro sintoma indireto que evidencia o ataque da forma adulta da mosca-branca é a transmissão de vírus, como por exemplo, o mosaico comum (AbMV, Abutilon Mosaic Virus). A presença deste vírus em plantas faz com que as folhas apresentem manchas amareladas, a planta adquire nanismo e até mesmo a esterilidade parcial ou total, o que resulta em perda total da produção.
Ataque fatal
A região mais afetada pelo ataque da mosca-branca é a face abaxial das folhas, pois é neste local que os adultos preferencialmente se alimentam e realizam a postura dos ovos. É também na face abaxial das folhas onde as ninfas se estabelecem e alimentam-se, o que dificulta o controle desta praga.
Fique de olho
O aparecimento e desenvolvimento da mosca-branca é dependente do clima, sendo que a maior incidência ocorre em dias quentes e secos. Estudos demonstram que a população de moscas é maior próximo ao final da estação quente e chuvosa, e menor com o início dos dias frios.
Quando as condições são favoráveis à mosca-branca, chega a apresentar de 11 a 15 gerações por ano. Tal taxa de reprodução propicia o rápido aparecimento de gerações tolerantes a inseticidas comumente usados. Além do fator climático, a hora do dia também apresenta influência no comportamento do inseto, sendo que a maior atividade de voo ocorre entre 6:30h e 8:30h, e entre 15:30h e 17:30h.
Porém, são os ventos que propiciam o deslocamento dos adultos alados a longas distâncias.
Técnicas e produtos inovadores
A forma mais utilizada para o controle da mosca-branca é a aplicação de produtos químicos. Existem dois tipos de inseticidas que podem ser utilizados no combate a estes insetos.
O primeiro é pertencente ao grupo químico dos neonicotinoides, sendo este tipo de inseticida utilizado para o controle da fase adulta da mosca. Já o segundo grupo de inseticidas é constituído por hormônios de crescimento e tem como alvo as ninfas. Estes hormônios, quando em doses elevadas, acabam interferindo no desenvolvimento normal da ninfa, e como exemplo podemos citar as substâncias buprofezim e o piriproxifem.
Além do controle químico, existem muitas técnicas que podem ser adotadas em grandes ou pequenas culturas para o controle tanto dos adultos como das ninfas da mosca-branca. Dentre estas técnicas estão:
Ü A destruição dos restos da cultura após a colheita, evitando assim a manutenção de focos da mosca-branca.
Ü Evitar o escalonamento da cultura, evitando assim que plantas velhas sirvam de fonte tanto para moscas como de vírus para plantas novas.
Ü Eliminar plantas daninhas antes do plantio, pois a ausência de plantas hospedeiras diminui a incidência de moscas.
Ü Optar por espécies e cultivares tolerantes e resistentes.
Ü Fazer o monitoramento constante da cultura em busca de focos de mosca-branca, com especial atenção a locais próximos de matas e pastagens e no período do verão.
Ü Evitar o trânsito de plantas dentro da propriedade, pois plantas que são trazidas de fora podem ser fonte de vírus e ninfas de moscas.