Autores
José Geraldo Mageste
jgmageste@ufu.br
Antônio Cola Zanúncio
ajvzanuncio@yahoo.com
Engenheiros florestais, Ph.D. e professores – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Emmerson Rodrigues de Morais
Professor – Instituto Federal Goiano (IFGoiano), Morrinhos (GO)
emmerson.moraes@ifgoiano.edu.br
Uma das primeiras “madeiras de lei” do Brasil, o guanandi possui características específicas que a tornam um ótimo empreendimento comercial, principalmente para o aproveitamento de áreas de aptidões agrícolas limitadas.
Com a mudança do código florestal, é possível o seu cultivo em áreas de APP (Áreas de Preservação Permanente), que apesar de muitas das vezes possuir limitações de deslocamentos, possui o ambiente ideal para o crescimento das árvores de guanandi, mandi, pau de mastro e peroba vermelha (como é chamado no Triângulo Mineiro).
Aos dois anos de idade, se manejado adequadamente, o guanandi já pode oferecer renda pela comercialização dos frutos para a indústria de cosméticos. Somado a isto, a espécie já tem linhas próprias de financiamento, proporcionando uma sustentabilidade econômica própria, dando segurança para quem quer aprender e ser um silvicultor de verdade.
Em destaque
Por incrível que pareça, os Estados da Bahia e Rio de Janeiro são os maiores produtores brasileiros de madeira desta espécie. O segundo, com algumas poucas áreas de plantio, principalmente do século passado, para recuperação de nascentes. Em Minas Gerais, o Triângulo Mineiro, principalmente a região de Uberaba, vem se destacando.
Existe, ainda, grande concentração de plantio de guanandi em Goiás e Norte de São Paulo, onde os povoamentos chegam a mais de 70 mil hectares, com idades variáveis.
O tamanho dos povoamentos também varia muito, de 10 a 50 hectares, em média. Somente nestes três Estados estão mais de 50% da área plantada no Brasil. Mas, existe potencial para aumento considerável na Bahia e Sul de São Paulo. Trata-se de uma madeira com muito boa aceitação.
Produção anual
O volume de produção anual varia muito, tendo em vista as finalidades de demandas. Estima-se que a demanda para regiões moveleiras esteja em torno de 40 a 50 mil metros cúbicos anuais.
O Incremento médio anual desta espécie está em torno de 55 m3/ha/ano. As previsões otimistas dão conta de 400 a 450 m3/ha. Ainda se sabe pouco sobre as técnicas silviculturais mais adequadas para esta espécie. Grande quantidade de esforço científico é dedicado a espécies como pinus, eucalipto, seringueira e mogno.
Demanda x oferta
Espera-se um grande aumento de demanda pelo mercado interno, principalmente para a indústria naval de luxo (barcos e iates de luxo). A demanda para uso nobre está sendo descoberta agora. A cada dia o guanandi está se tornando uma madeira presente em artesanatos de luxo, como lustres, etc.
O mercado externo ainda está aprendendo a trabalhar com esta espécie, principalmente o asiático e Europa ocidental. Os portugueses são grande demandantes dela. Então, o aumento da demanda dependerá muito da saúde financeira dos países compradores do Brasil.
Atualmente, quase toda a nossa exportação é direcionada para o Leste asiático, que chega a consumir até 5 mil m3 ano-1.
Investimento inicial
O investimento variará muito em função das características pedoclimáticas locais. Solos mais férteis reduzirão muito os investimentos em fertilizantes. Locais com boa distribuição de chuvas, mesmo no verão, facilitam o “arranque” inicial de crescimento das mudas.
Muitos investidores querem procurar o pior solo da propriedade para plantar árvores. É preciso assumir que também nestes locais a produtividade é menor – não é diferente para qualquer espécie.
Considerando o transporte de mudas a pelo menos 100 km de distância do local de plantio, não se justifica a aquisição de pequenas quantidades que não possam pelo menos encher um caminhão (mínimo de 8.000 mudas).
O custo médio de implantação de 1,0 hectare nos Estados de MG, SP e Goiás está em torno de R$ 22.000,00, isto considerando o pacote mínimo ideal de técnicas silviculturais para esta espécie, com subsolagem, adubação na cova e manutenção da vegetação concorrente até 1,5 anos de idade.
Ressalta-se que as mudas são responsáveis por algo em torno de 3,5% do investimento inicial de implantação. É muito pouco, considerando as possibilidades de retorno.
Rentabilidade
A rentabilidade se inicia após o 2º ano com a comercialização de sementes. O preço é de U$ 8,00/kg. Mas, atualmente, muita semente comercializada vem de povoamentos nativos.
Para os povoamentos de cultivo é preciso considerar a necessidade de deixar parte das sementes para alimentação dos pássaros, mesmo porque elas amadurecem em diferentes ocasiões.
Mas, depois existem produções anuais até a época de colheita da madeira. Elas também ajudam a “espantar” as formigas cortadeiras que por acaso possam vir a desfolhar as árvores. A produção de madeira com 15 a 17 anos de idade (mais de 30 metros de altura e DAP (Diâmetro a Altura do Peito) é maior que 60 cm.
O preço da madeira no mercado nacional está em torno de R$ 2.000,00/m3 (madeira sem costaneiras, comprimento mínimo de 2,2 metros). Depois, há de ser considerado que “se tem guanandi por perto, alguma água estará na superfície”. Este ganho ambiental de revitalização de nascentes é incalculável.
Manejo
O preparo de solo preconizado para silvicultura, de maneira geral, com uma boa ripagem (que alguns chamam de subsolagem) é de 40 a 50 cm de profundidade. Boa adubação fosfatada no fundo do sulco e adubações de cobertura com nitrogênio e potássio são recomendadas.
A matocompetição deve ser evitada até final do segundo ano, principalmente por gramíneas como a brachiária, que possui grande habilidade de “roubar” nutrientes das árvores.
Adubação
Conforme dito, o guanandi não tolera solos ácidos. Então, a correção do pH ajuda na melhoria de absorção de nutrientes, além do fornecimento de cálcio e magnésio. A quantidade deverá ser em função dos resultados das análises de solo, realizados pelo menos até 50 cm de profundidade.
Lembrando que o ideal é consultar sempre um engenheiro florestal. Além do mais, não existe uma “receita de bolo” que possa ser usada para diferentes sites. As demandas variam de acordo com a qualidade do mesmo.
Plantio
O plantio deve ser feito preferencialmente no período chuvoso, tomando-se o cuidado de não “enterrar” o coleto das mudas. Este está sendo um erro frequente e induzindo seriamente a replantio até seis meses de idade (apesar do baixo custo das mudas).
É necessário a adoção das técnicas silviculturais de podas e desbastes. Estas variam de acordo com o IMA e ICA (Incrementos médio e corrente anuais). A qualidade final da madeira é função direta do uso destas técnicas. O mercado de hoje exige madeira sem nós, para painéis.
A espécie guanandi já fornece madeira de boa qualidade em termos de resistência mecânica, densidade, facilidade de absorção e conservação de vernizes, grã fina, etc.
Nós temos que aplicar noções de melhoramento genético para as qualidades desejáveis. É uma madeira nobre mas que precisa ser valorizada nas suas qualidades específicas.
Fitossanidade
Qualquer povoamento, para ser bem-sucedido, precisa estar livre de competições. Ervas daninhas ou plantas competidoras são totalmente indesejáveis. Por isso, a ideia é a instalação de povoamentos em SAF´s ou de maior adensamento (1.666 plantas/hectare) para promoção de desbastes, retirando os indivíduos dominados e de forma indesejável.
Esta tecnologia também promove sombreamento das gramíneas, exímias competidoras por nutrientes como fósforo e potássio. Não se tem observado a ocorrência de pragas específicas que venham causar danos ao povoamento de maneira sistemática.
A praga mais comum é a formiga cortadeira, mas os engenheiros florestais sabem combater ou controlar esta praga de maneira eficiente. Também não se tem registro de doenças, como o mal das folhas da seringueira. As doenças fúngicas parecem não conseguir se instalar de forma epidêmica, principalmente dada a resina que começa a ser produzida depois do segundo ano.
Rentabilidade múltipla
O guanandi permite que seja aproveitada a madeira e os frutos. Às vezes as pessoas desejam que a madeira produzida do desbaste possa ser queimada. É um absurdo queimar esta madeira.
Ela é de fácil manuseio na indústria de móveis e de grande valor econômico. Além do mais, trata-se de uma espécie muito facilmente adaptada a variações de solo. Locais onde ocorre inundação temporária proporcionam crescimento rápido e excelente cobertura, mesmo em condições sob cerrado, onde os solos costumam ser pobres em fertilidade natural.
Ela se mostra uma alternativa interessante de renda e sustentabilidade ao mesmo tempo, já que seus retornos podem se iniciar após o segundo ano, com a comercialização dos frutos, muito fáceis de serem colhidos e destinados à produção de óleo para composição de cosméticos. A espécie produz uma resina muito agradável.
Linhas de financiamento
Os bancos oficiais destinaram enorme quantidade de recurso para financiamento de plantio desta espécie em muitos Estados brasileiros onde não ocorre geada. A taxa de juros é de 2% ao ano, com 16 anos para quitação.
Alguns silvicultores experientes estão afirmando que é possível pagar todo o financiamento antes desta idade do povoamento. De fato, em Minas Gerais, por exemplo, é possível obter retornos precoces que confirmam esta previsão.
A limitação de plantio está na aquisição de mudas de boa qualidade. Atualmente, o mercado de produção de mudas está sendo muito concorrido, dada a destinação de parte dessas para produção de cosméticos. Por outro lado, a produção de mudas por meio de clonagem ainda não está totalmente dominada.
O guanandi no Brasil e no mundo
O movimento total de recursos movimentados pelo guanandi no Brasil é variável devido a dois fatores principais: distância de produção de madeira em relação aos processadores e indústria moveleira. Uma pesquisa neste sentido precisa ser publicada levando em consideração este fator.
Transportar madeira bruta é caro e dispendioso. Quando a madeira é usada para a produção de barcos (um dos principais usos desta), ela é de baixo custo. Nunca ultrapassa 25 km de transporte. Neste caso, o ganho por hectare passa de R$ 400 mil.
Geralmente, as sementes não são usadas para produção de cosméticos. Além do mais, as costaneiras são muito utilizadas para artesanatos. Este tipo de uso é comum nos Estados do Espírito Santo e Bahia.
Pontos essenciais a serem levantados antes de instalar um povoamento de guanandi:
þ Faça uma pesquisa de mercado. Levante a aceitação da madeira pelo mercado moveleiro. Observe a distância até os portos. Troque informações com aqueles que já estão no mercado.
þ Qual o tamanho da área para se iniciar? Não comece grande demais nem pequeno demais. Aprenda tecnologias de silvicultura. Estude a possibilidade de produção escalonada.
þ Qual a possibilidade de ocorrências de veranicos prolongados na sua região? Estude as variações climáticas regionais. Observe o comportamento climático dos últimos anos. Veja as variações de profundidade de solo ou a possiblidade de fragipans e claypans. Solos rasos não prestam para a silvicultura.
þ Veja as demandas de qualidade de mão de obra. Tratos silviculturais mais feitos são aliados do prejuízo. O preço da madeira é de R$ 2.000,00/m3. Perdas pequenas de volumes significam duplicar o custo. Ganhos pequenos podem pagar toda mão de obra.
þ Onde buscar mais informações? Muitos equívocos e gastos desnecessários têm sido observados pelos novatos. Procure informações junto aos centros de Pesquisa. Tire dúvidas. Profissionais da área possuem muita experiência. Dê um passo certo e seguro. Hoje em dia é fácil conversar até com seus possíveis clientes, compradores de sementes, resina, madeira, etc. Estude suas condições locais para conhecer suas limitações.
– O custo médio de implantação de um hectare está em torno de R$ 22.000,00
– A rentabilidade se inicia após o 2º ano com a comercialização de sementes. O preço é de U$ 8,00/kg
– O preço da madeira no mercado nacional está em torno de R$ 2.000,00/m3
– Estima-se que a demanda para regiões moveleiras esteja em torno de 40 a 50 mil metros cúbicos anuais.
– O Incremento médio anual desta espécie está em torno de 55 m3/ha/ano. As previsões otimistas dão conta de 400 a 450 m3/ha.