Este pode ser o melhor ano para o produtor brasileiro de trigo. Atualmente, a tonelada do cereal é negociada em algumas regiões do Brasil por até R$ 1.650. E a demanda está aquecida: o País deve importar entre 6,5 e 7,0 milhões de toneladas.
Lucas Alexandre Batista – Engenheiro agrônomo e mestrando em Ciência de Plantas – North Dakota State University – lucaslabatista@gmail.com
O mercado do trigo tem sido impulsionado devido à redução da produção em meio ao tempo seco nos principais países exportadores, em particular os EUA, a Rússia e a Ucrânia, enquanto a demanda permanece forte, especialmente da China.
Também vale ressaltar uma demanda mais forte por comodities dos EUA depois que a Rússia anunciou um imposto de 25 euros por tonelada sobre suas exportações no ano de 2020 para estabilizar os preços dos alimentos domésticos, aumentando a pressão. Isso influencia diretamente no mercado brasileiro, uma vez que o Brasil importa cerca de 50 a 60% de todo o trigo que consome.
Os bons preços impulsionam os agricultores a plantar mais trigo no Brasil durante o inverno, o que favorece a economia nacional. A previsão é que o preço do trigo vai continuar aumentando durante 2021, sendo a saca de 60 kg prevista comercialização a US$ 14,50 no mercado internacional, podendo chegar a mais de R$ 80 no Brasil.
Entenda o processo
Esse coeficiente não é visto desde maio de 2014 e está alinhado com as previsões de soja e milho. É importante entender o estoque mundial, pois ele influencia no preço do trigo comercializado no Brasil e no mundo.
Em anos onde a produção mundial é alta, superando a demanda, o preço de comercialização tende a cair, e o contrário acontece quando a produção cai (Trading Economics – 2021).
O Brasil é um país continental e conta com uma vasta área potencial para o cultivo do trigo, cultura de inverno que se mostra uma excelente opção para os agricultores na estação fria do ano.
As iniciativas pública e privada têm levado novos recursos aos produtores no País. Os esforços dos programas de melhoramento genético na cultura, estudos de manejo e adubação, incrementam produtividade e segurança aos agricultores.
A ligação entre os elos da cadeia produtiva é outro ponto importante no incremento da produção, uma vez que empresas de pesquisa, agricultores, moinhos e consumidores hoje participam juntos na tomada de decisões quanto ao posicionamento dos materiais a serem plantados, o que gera um escoamento mais eficaz.
No Brasil e no mundo
O valor gerado mundialmente pela safra de trigo 2020 foi de aproximadamente US$ 190 trilhões por uma produção de 765 milhões de toneladas a US$ 249,66 por tonelada comercializada.
No Brasil, a produção é avaliada em aproximadamente em US$ 1,6 trilhão e há a necessidade de compra no mercado externo de aproximadamente outros US$ 1,6 trilhão. Ao considerar toda a cadeia produtiva, desde a comercialização do grão até a mesa do consumidor, esses números podem aumentar significativamente, ao agregar valor aos produtos finais.
Também o mercado nacional e internacional emprega milhares de pessoas durante os processos e os elos da cadeia produtiva de trigo (Abares 2020, Agricultural commodities: dezembro de 2020).
Por aqui
No Brasil, a área semeada de trigo é de mais de 2 milhões de hectares. A região sul – principalmente Paraná e Rio Grande do Sul – concentra a maior área semeada, ultrapassando 1,8 milhão de hectares.
Nos últimos anos, a região do Cerrado brasileiro vem cultivado o cereal e obtendo ótimos resultados. Para a safra 2021 espera-se maior aumento nas áreas semeadas em todo o país devido ao preço atrativo, e também no Cerrado, onde há maior potencial para expansão de áreas.
Produção anual
A produção mundial de trigo é influenciada por uma série de fatores, sendo eles de ordem ambiental e mercadológica. No ano de comercialização 2019/20, o volume global de produção de trigo somou mais de 765 milhões de toneladas, um aumento de mais de 30 milhões de toneladas em relação ao ano anterior (Statista – 2021).
No Brasil, a demanda interna é de aproximadamente 12 milhões de toneladas, e a produção média supre cerca de 50 a 60% da necessidade.
Produtividade média
A produtividade média brasileira de trigo é de 2.526 kg por hectare. Em áreas onde o uso de tecnologias é empregado o cenário é diferente, podendo alcançar produtividades superiores a 6.000 kg por hectare (Conab, 2019). É a combinação entre os fatores genética de alta performance, clima, adubação, controle de pragas e doenças, maquinário e mão de obra qualificada que tendem a retornar aos produtores uma lucratividade ainda maior.
Mercado interno x externo
Os preços do trigo para os principais países consumidores e exportadores subiram em relação ao ano passado. Apesar de a produção global ser recorde, houve uma diminuição dos estoques mundiais devido à alta demanda.
Os preços encontraram suporte, em parte, de importações e consumo globais recordes em 2020/21. Além disso, a forte demanda de importação na China e no Paquistão ajudou a reforçar o comércio global para um recorde devido à demanda sem precedentes de ambos os países e outros grandes importadores, impulsionando os estoques nos países exportadores para baixo e fortalecendo os preços globais.
Estes também foram puxados para cima nos últimos meses em força nos preços globais da demanda dos grãos de alimentação (USDA Report. 12/2020). O Brasil, por sua vez, aumentou a área plantada e, consequentemente, a produção no ano de 2020. Devido à alta demanda interna e a alta na moeda americana, os produtores foram bem remunerados pela tonelada produzida no País.
O mercado de trigo brasileiro teve um aumento significativo, e para o ano de 2021 apresenta boas perspectivas para o incremento de áreas plantadas e produtividade. Mas, devido à dificuldade logística de escoamento para as regiões nordeste, norte e central, somado à insuficiência da produção, o País ainda precisará importar cerca de 40 a 50% para o consumo interno.
Investimento inicial
O investimento inicial na cultura do trigo depende do histórico de produção do agricultor. O custo de produção do trigo vai variar de acordo com o nível tecnológico investido. Existem no mercado diversos níveis tecnológicos acessíveis aos diferentes bolsos.
O valor da produção também difere entre os Estados produtores, mas, em média, são investidos cerca de R$ 2 mil por hectare, somando-se custos de mão de obra, insumos agrícolas, sementes, horas/máquinas de trabalho, depreciação de patrimônio, entre outros fatores.
Mais que lucrativo
A rentabilidade do trigo não deve ser calculada apenas sobre o valor da quantidade produzida e subtraída do valor da quantidade investida. Além da produtividade, o trigo entrega outros benefícios, sendo eles: conservação do solo durante o período de inverno; proteger a área de plantas daninhas e ajudar a diminuir o número de aplicações para o controle.
A palhada do trigo disponibiliza nutrientes para a cultura subsequente, reduzindo o gasto com insumos. As raízes podem ajudar na permeabilidade de água no perfil e nutrientes em profundidade e na descompactação do solo; com redução de nematoides em uma determinada área infestada.
Portanto, além do lucro esperado da produção, a cultura do trigo traz outras vantagens e benefícios ao agricultor. No modelo atual da agricultura, onde analisamos as propriedades rurais como um sistema de produção, o trigo entra como uma excelente alternativa aos agricultores no inverno, pois sua contribuição positiva no sistema é notada a cada ano em que é utilizado.
Pensando na sucessão com soja, o trigo é indiretamente responsável por incremento na rentabilidade da oleaginosa, quando aplicado na rotação de culturas. Sendo assim, o retorno do investimento na cultura do trigo é observado na venda do produto final e nos benefícios que propicia à área onde é plantado.
Demanda
No geral, a demanda por trigo no Brasil é maior que a produção nacional. A maior demanda do cereal no País ocorre nas regiões sudeste, centro-oeste e nordeste, onde há necessidade de importação de outros países ou compra de trigos da região sul.
O frete é uma das variáveis que mais encarece o preço final da farinha. Por isso, devido aos altos custos de importação, cria-se uma demanda em que é mais vantajosa a produção nacional do produto, com a exploração da produção no Cerrado.
Fique de olho
A importância de manter o olho nos mercados interno e externo pode ser o ponto de partida na lucratividade para a cadeia produtiva de trigo brasileira. Sem dúvidas, a boa remuneração aos agricultores brasileiros estimula outros produtores a plantar trigo e, consequentemente, ajudar o mercado interno a superar o déficit que há na demanda interna.
O emprego de tecnologias e informação pelos produtores também é um ponto-chave no crescimento nacional da produção de trigo, uma vez que há potencialidade da produção brasileira.
2021 será o ano do triticultor?
Odair José Marques – Engenheiro agrônomo, fitotecnista, doutor e professor – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) – campus Monte Carmelo – ojmarques@ufu.br
A pandemia da Covid-19 pode servir de alento para os triticultores, há tanto tempo massacrados pela falta de subsídio governamental, pelos altos custos de produção e pelos baixos preços pagos pelo trigo no mercado interno.
Na safra de 2020, o Brasil produziu 6,2 milhões de toneladas de grãos de trigo, segundo as estimativas da CONAB (Acompanhamento da Safra Brasileira – Grãos Safra 2020/21 – 3º levantamento, v. 8, n. 3, Dezembro, 2020).
Considerando um consumo interno de 11,8 milhões de toneladas, há um déficit de 5,6 milhões de toneladas. E é nessa fatia que os triticultores devem apostar, pois com a moeda norte-americana bem acima de R$ 5,00, as importações devem ser menores no ano de 2021.
No Estado do Paraná a cotação do trigo estava em R$ 876,97 por tonelada em janeiro de 2020 e no início da primeira dezena de janeiro de 2021 o indicador CEPEA/ESALQ estava cotado em R$ 1.367,45 por tonelada (US$ 252,48), ou seja, quase 56% de elevação.
Algumas empresas analistas do mercado estimam que os preços podem bater a casa de R$ 1.600,00 por tonelada até o mês de julho de 2021, que é quando começa a colheita do trigo no Cerrado. Vários são os fatores que favorecem o agricultor do Cerrado brasileiro a apostar no trigo em 2021, entre eles:
1) Com a cotação da soja em alta desde o ano passado e o atraso do início das chuvas 2020, muitas das áreas que estão sendo cultivadas com a oleaginosa foram semeadas tardiamente ou tiveram que ser replantadas, devido à estiagem. Essas áreas só serão colhidas entre o início de março até o início de abril, o que impossibilitará o cultivo do milho safrinha em muitas regiões. Portanto, alguns agricultores poderão optar pelo cultivo do trigo, que tolera muito mais frio do que o milho e é razoavelmente tolerante à seca.
2) O estoque interno de grãos de trigo no Brasil raramente é superior a 1,0 milhão de toneladas e a produção total tem variado pouco ao longo da última década, mesmo com a expansão da cultura no Cerrado. Portanto, ou o País importa o que falta a preços internacionais elevados, para suprir o déficit, ou incentiva os agricultores brasileiros a aumentarem a área de cultivo do cereal, aproveitando o cenário favorável.
3) O consumo das famílias aumentou em 2021 com o isolamento provocado pela situação pandêmica da Covid-19. E isso ainda deve perdurar pelo menos até o final do primeiro semestre, num cenário mais otimista em que parte da população seja vacinada contra o novo coronavírus.
4) Nosso principal fornecedor externo de trigo, a Argentina, pode focar mais no mercado asiático e nos deixar na mão, justamente devido ao melhor preço no mercado internacional. Portanto, o Brasil deve comprar menos no Mercosul.
5) O dólar dá sinais tímidos de recuo, mas ainda insiste em permanecer acima de R$ 5,00. E, com a economia brasileira em “colapso”, devido às consequências do enfrentamento desastroso do Governo Federal frente à pandemia, as cotações da moeda norte-americana devem demorar para voltar aos patamares de 2015/16.
6) O Cerrado brasileiro tem se mostrado muito promissor para o cultivo do trigo, tanto no sequeiro quanto irrigado, sobretudo nos Estados de Minas Gerais, Goiás e no Distrito Federal. E, o fator 1 apresentado acima, é particularmente importante para a região do Cerrado, que apresenta sérios problemas de restrição hídrica, não sendo possível o cultivo do milho safrinha em 2021 se, de fato, a colheita da soja atrasar, como se prevê.
7) Outra vantagem é que o trigo irrigado no Cerrado apresenta maior produtividade média, na casa de 6.000 kg/ha, o dobro das médias paranaense e gaúcha, além da excelente qualidade do produto, com pH superior a 78.
8) E, por fim, e não menos importante, os triticultores do Cerrado podem se beneficiar duplamente com o cultivo do trigo: primeiro colocando o produto no mercado mais cedo, pois a colheita aqui ocorre antes do que na região sul, considerando a semeadura do trigo de sequeiro entre os meses de fevereiro e março e do trigo irrigado entre abril e maio; segundo que na pior das hipóteses, o trigo fornece uma excelente palhada para plantio direto da safra subsequente, com muitos benefícios associados, como melhoria da retenção de água no solo, redução da emergência de plantas daninhas, aumento da matéria orgânica no solo, aumento da CTC, redução do uso de herbicidas entre outros.
Cabe ressaltar que, independente da cultura escolhida pelo agricultor, ele deve sempre observar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático – ZARC, estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/riscos-seguro/programa-nacional-de-zoneamento-agricola-de-risco-climatico/portarias/portarias e ficar atento à escolha de cultivares recomendadas para a sua região, disponíveis no Sistema de Zoneamento Agrícola de Risco Climático – SISZARC: http://sistemasweb.agricultura.gov.br/siszarc/gerarRelatorioRelacaoCultivares.action?sgJAASAplicacaoPrincipal=siszarc.
Lucro além do esperado
Ricardo de Aguiar Wolter é produtor de trigo na Fazenda Água Branca, em Carambeí (PR). A área produzida é de 300 ha, com produtividade de 4.200 kg/ha. “Meu faturamento foi de R$ 5.000 por hectare, com um custo variável de aproximadamente R$ 3.000, valores sem arrendamento ou custo da terra. Tenho que ressaltar que o faturamento foi excepcional”, considera.
As variedades produzidas são: Tbio Toruk, CD 1303 e Tbio Ponteiro. Na região de Ricardo, ele conta que a área de trigo se manteve, até porque, na região, por questões climáticas (frio), não há condições de fazer safrinha. Sendo assim, o trigo é uma das poucas opções.
O cultivo
O produtor explica que o trigo é uma cultura mais técnica do que a soja. “Além de exigente nutricionalmente, o trigo exige cuidado com épocas de plantio para tentar evitar geadas (ver zoneamento), necessita de redutores de crescimento, período seco na época da colheita, pois a umidade prejudica muito a qualidade, além dos controles convencionais de ervas daninhas, fungos e insetos”, considera.
Outro ponto é o preço final do produto, que depende muito da qualidade do grão. Por este motivo, os fatores acima precisam ocorrer, condição ressaltada por Ricardo. “Eu, como produtor, não vejo pontos negativos com o aumento do preço do trigo. O Brasil, estranhamente, continua ainda muito dependente da importação. Talvez com preços melhores e mais estáveis a produção aumente, beneficiando o consumidor brasileiro”, avalia.
Continuando, ele diz que, hoje, com os atuais preços do milho, soja, boi, etc., o trigo ainda tem uma enorme dificuldade em ampliação de área. Como solução, ele acredita na remuneração mais interessante, para tentar lentamente diminuir a dependência do trigo estrangeiro.
- No Brasil, a área semeada de trigo é de mais de 2 milhões de hectares.
- A demanda interna é de aproximadamente 12 milhões de toneladas, e a produção média supre cerca de 50 a 60% da necessidade.
- A previsão é que o preço do trigo vai continuar aumentando durante 2021, sendo a saca de 60 kg prevista comercialização a US$ 14,50 no mercado internacional, podendo chegar a mais de R$ 80 no Brasil.
- O valor gerado mundialmente pela safra de trigo 2020 foi de aproximadamente US$ 190 trilhões por uma produção de 765 milhões de toneladas a US$ 249,66 por tonelada comercializada.
- No Brasil, a produção é avaliada em aproximadamente em US$ 1,6 trilhão e a necessidade de compra no mercado externo de aproximadamente outros US$ 1,6 trilhão