Brenda Ventura de Lima e Silva
Engenheira agrônoma e mestre em Fitopatologia – IF Goiano
brenda.ventura@ifgoiano.edu.br
Gabriela Araújo Martins
gabriela.martins@estudante.ifgoiano.edu.br
Ana Paula Gonçalves Ferreira
ana.goncalves@estudante.ifgoiano.edu.br
Mestrandas em Olericultura – IF Goiano
Rodrigo Vieira da Silva
Engenheiro agrônomo, doutor em Fitopatologia e professor – IF Goiano
A ocorrência de pragas e doenças no cultivo de abacate ocorre em função de condições climáticas favoráveis, entre as quais podemos destacar a temperatura, a umidade relativa do ar e a quantidade de chuvas.
Além disso, o estádio de desenvolvimento da cultura, tipo de solo da região e, principalmente, o manejo fitossanitário, podem ter influência direta na presença desses patógenos e pragas durante o ciclo do abacateiro.
Para que as plantas de abacate possam responder melhor ao ataque de pragas e doenças, o mais recomendado é a adoção de estratégias ligadas ao manejo integrado. Dessa forma, os produtores poderão utilizar técnicas de controle disponíveis para manejar a cultura da melhor maneira possível, garantindo uma produção final de qualidade.
Destaca-se a escolha correta da área de cultivo, o preparo, correção e adubação do solo, associado a um bom manejo fitossanitário. Assim, as alternativas de manejo de pragas e doenças de plantas utilizadas devem priorizar aspectos ambientais, visando um manejo mais sustentável.
Principais pragas e doenças
Em relação aos insetos-pragas, os maiores problemas são ocasionados pela broca ou lagarta-do-fruto (Stenoma catenifer), considerada a principal praga no Brasil; além do bicudo-do-abacateiro (Heilipus catagraphus), carunchos (coleobrocas), lagartas, ácaros (Oligonychus yothersi e Oligonychus persea). Em determinadas regiões os insetos tripes, percevejos e formigas também podem causar grandes prejuízos.
No Brasil, dentre as principais doenças que podem acometer o abacateiro, destaca-se a podridão radicular ou gomose causada pelo fungo Phytophthora cinnamomi, considerada a principal a nível mundial e no Brasil.
Também são consideradas doenças importantes a antracnose, cercosporiose, verrugose e oídio, provocadas pelo parasitismo dos fungos: Colletotrichum gloeosporioides, Cercospora purpurea, Sphaceloma perseae e Oidium perseae, respectivamente.
Tabela 1. Relação das principais pragas e doenças no abacateiro no Brasil e seus respectivos sintomas.
Pragas | Sintomas |
Bicudo do abacateiro e carunchos | Lesões nos troncos, formações de galerias, seca de galhos e frutos novos perfurados. |
Lagartas | Folhas perfuradas |
Broca do fruto | Danos na casca do fruto |
Ácaros e Tripes | Bronzeamento de folhas e frutos |
Percevejos | Frutos manchados ou mal formados |
Doenças | Sintomas |
Podridão radicular | Murcha de folhas, que caem posteriormente. Além disso, pode ocorrer a seca total de galhos e ramos e a consequente morte da planta |
Antracnose, Cercosporiose e Verrugose | Manchas foliares e frutos manchados e danificados |
Manejo para redução dos prejuízos
Para se obter sucesso no manejo de pragas e doenças do abacateiro, deve-se adotar o manejo integrado, em que várias estratégias são utilizadas antes, durante e depois do cultivo, para otimizar o controle da forma mais sustentável e eficiente possível.
Controle cultural
A prática cultural mais eficiente na cultura do abacateiro é a realização da catação ou derrubada de frutos doentes e contaminados com pragas e doenças, mantendo o ambiente limpo.
A prática de podas também é importante para manter a área iluminada e arejada, além de manter a limpeza da área eliminando os restos culturais, como galhos, folhas e frutos que podem servir como contaminantes.
Uma prática que vem sendo adotada na cultura do abacateiro é a realização de adubações à base de fosfito de quatro a seis vezes ao ano, para promover o equilíbrio nutricional da planta, além de ser controle preventivo contra patógenos e auxiliar no sistema de defesa da planta.
A adubação verde também pode ser utilizada na cultura do abacateiro, pois além de fornecer nutrientes à planta, garantirá palhada ao solo, contribuindo para o controle de plantas daninhas, que são uma das principais hospedeiras de pragas e doenças.
Controle biológico
O uso de produtos biológicos na cultura do abacateiro tem crescido muito nos últimos anos. Estes auxiliam no estabelecimento de inimigos naturais, além de reduzir o uso indiscriminado de defensivos mais tóxicos.
Para essa finalidade, comumente são empregados os microrganismos benéficos, conhecidos com agentes de controle biológico, com destaque para: Bacillus thuringensis, Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae, Trichoderma harzianum, Bacillus subtilis e várias espécies de Trichogramma e ácaros predadores.
Um exemplo de controle biológico eficaz na cultura do abacateiro é o uso de Trichograma no controle de broca-do-fruto (Persea americana), que é considerada praga-chave da cultura.
Controle químico
Na ordem cronológica, o controle químico deve ser empregado como o último recurso para o manejo de doenças. Quando este for necessário, o mais recomendado é a utilização de produtos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do abacate, dando preferência para aqueles mais seletivos e menos tóxicos aos inimigos naturais e abelhas.
Vale ressaltar a importância de seguir a recomendação do fabricante quanto à dose, volume de calda, horário, condições de aplicação e uso de equipamentos de proteção individual durante a sua aplicação.
Para o sucesso do controle químico, faz-se necessário realizar o correto monitoramento da densidade populacional de pragas e doenças-chaves, com a assistência técnica de um agrônomo especialista nesta área.
O conhecimento do comportamento dos diversos patógenos e pragas do abacateiro faz com que os produtores, durante a tomada de decisão, tenham decisões mais assertivas e rentáveis à sua realidade.
Erros mais frequentes
O erro mais frequente dos produtores de abacate no Brasil está no fato de não realizarem o monitoramento das populações de pragas e doenças da cultura. Consequentemente, faz-se o uso indiscriminado e incorreto de defensivos agrícolas.
Além disso, ocorrem muitos casos de utilização de defensivos não registrados no MAPA e aplicados de maneira incorreta, sem o auxílio de um técnico especialista.
Para evitar erros, ao realizar a aplicação de um defensivo é muito importante se atentar à dose recomendada, preparação correta da calda contida na bula e às condições climáticas ideais para aplicação.
É essencial fazer uma rotação dos ingredientes ativos que serão aplicados na cultura para evitar futuras seleções de pragas e patógenos que podem adquirir resistência. Dessa forma, para minimizar esse erro, importante aliar o manejo integrado entre controle químico, biológico e cultural.
Outra forma de evitar erros no controle de pragas e doenças é buscar sempre a ajuda de um profissional técnico e/ou especializado para orientar melhor o produtor quanto ao controle eficiente.
As adubações devem ser bem manejadas para manter o equilíbrio nutricional e evitar que essas plantas se tornem suscetíveis a pragas e doenças. Realizar a limpeza da área, como restos culturais e frutos caídos no chão, é essencial para evitar a presença de inóculos de doenças e pragas no local.
O controle de plantas daninhas também é importante, pois elas podem ser hospedeiras de pragas e patógenos e, posteriormente, atacar as plantas de abacateiro.
Custo do manejo
As principais fontes de gastos ocorrem na fase de implantação do pomar de abacate. Os insumos, adubos, produtos fitossanitários, logo no primeiro ano de implantação da cultura, apresentam custos mais elevados.
Porém, os custos de produção agrícola podem sofrer grande influência no planejamento e eficiência de uso de insumos e defensivos. Vale destacar que, em função da Pandemia de coronavírus e, posteriormente, com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, o custo dos insumos agrícolas tiveram um aumento muito grande, inclusive alguns com mais de 100% de reajuste.
Importante se atentar que, ao escolher mudas de boa qualidade e certificadas, estas terão um custo inicial maior, porém, proporcionarão mais segurança contra pragas e doenças.
Estima-se que quando se realiza o manejo integrado de pragas e doenças, se pode reduzir custos com aplicação de defensivos em até 50%.
Vantagens de um bom manejo fitossanitário
Investir em manejo fitossanitário preventivo e integrado é um fator essencial para obter sucesso, de modo a prevenir e criar condições que desfavoreçam o aparecimento de pragas e doenças na cultura do abacateiro.
Várias medidas podem ser tomadas para investir nesse tipo de manejo, tais como: realizar plantio com mudas certificadas e adaptadas Às condições de clima e solo da região, utilizar cultivares geneticamente resistentes a pragas e doenças, manter uma boa adubação e equilíbrio nutricional, além de utilizar os defensivos com a quantidade e momento ideais para aplicação.
O principal retorno ao realizar um bom manejo fitossanitário está em reduzir os custos com defensivos químicos, como fungicidas e inseticidas, aumentar a população de inimigos naturais, garantir a eficiência de controle de pragas e doenças, realizar aplicações reduzidas e programadas e trazer uma melhor viabilidade econômica para o produtor.