Marco Aurélio Casari
Lidce do Rosário da Silva Cutrim
Graduandos em Engenharia Agronômica – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB)
Ana Paula Preczenhak
Doutora, pós-doutoranda na ESALQ-USP e professora – FAESB
Segundo o Cepea (2022), a cenoura é a 5º hortaliça mais cultivada no Brasil e 80% da produção é destinada ao mercado interno. Com uma produção estimada em 760 mil toneladas por ano, o País possui área de cultivo superior a 20 mil hectares, distribuídos entre as regiões do Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Carandaí (MG), Cristalina (GO), Marilândia do Sul (PR), Caxias do Sul e Vacaria (RS), Irecê (BA) e São José do Rio Pardo (SP).
Vem sendo amplamente cultivada em todo o País e em todas as estações do ano, com exceção da região norte, devido às condições climáticas.
Melhoramento genético
A cenoura geneticamente é uma hortaliça que se desenvolve em climas amenos, porém, com o melhoramento genético, atualmente temos disponíveis variedades de outono/inverno e de verão.
Cada cultivar tem características próprias quanto ao formato das raízes e resistência às doenças. Existem aproximadamente 300 cultivares de cenouras registradas junto ao MAPA, as quais pertencem a basicamente três grupos: Brasília, Kuroda e Nantes.
Os genótipos do grupo Nantes são os mais adequados para plantio de outono/inverno. As variedades do grupo Nantes são de origem europeia, têm coloração laranja intensa, formato cilíndrico, ciclo vegetativo entre 100 – 130 dias, com alta produtividade e qualidade das raízes.
Recomendações
Sua caraterística de maior produtividade em climas amenos é puramente relacionada com o produto de interesse da cultura, que é a raiz. Como o produto de interesse se desenvolve durante a fase vegetativa, não é recomendado que a cenoura complete seu ciclo de vida, avançando para a fase reprodutiva (florescimento), que é estimulada pelo aumento da temperatura.
Além disso, altas temperaturas induzem o aparecimento de doenças fúngicas, assim como a alta incidência solar pode causar queima das folhas e estimular a produção de clorofila e/ou antocianinas na base da raiz, chamado ombro verde ou roxo, respectivamente.
Este desenvolvimento de pigmentos no “ombro” da cenoura é uma característica genética, desta forma, sua ocorrência é variável entre as cultivares. Portanto, a temperatura é considerada um dos fatores que mais compromete o desempenho da cultura no campo.
As cultivares de outono/inverno expressam todo o potencial de desenvolvimento das raízes em temperaturas entre 10 – 15°C. Do contrário, temperaturas acima de 30°C são muito prejudiciais, pois reduzem o ciclo vegetativo, afetando o desenvolvimento das raízes (curtas) e a produtividade. A temperatura do solo para semeadura, considerada como ideal, permeia a faixa entre 7,0 – 29°C.
Como escolher materiais adequados
A escolha do híbrido adequado está diretamente ligada às condições de clima predominantes em cada época de plantio e em cada região do País. Os genótipos modernos para cultivo de inverno disponíveis são os híbridos, que expressam maior potencial produtivo e características desejadas pelo mercado, como coloração alaranjada externa e interna intensas, excelente fechamento de ponta e ombro, inserção de folhagem reduzida e pele lisa e brilhante.
Atualmente, estão disponíveis cenouras de inverno pleno recomendadas para a região Sul e variedades recomendadas para a região sudeste e Cerrado. Estas últimas são caracterizadas pela arquitetura mais baixa, permitindo a colheita mecanizada.
Manejo do solo
Depois da escolha do híbrido mais adequado para a região, os cuidados com o manejo do solo devem receber atenção. O melhor cenário para o cultivo da hortaliça é de solos de textura média, profundos e bem drenados, com pH próximo a 6,0 e ricos em matéria orgânica (solo descompactado).
A análise de solo é uma importante etapa que auxilia na decisão do manejo correto da área, tanto para correção de acidez quanto para suprimento de nutrientes. Havendo a necessidade de calagem, por exemplo, a saturação de bases deve ser elevada até 60 – 70% e, entre os principais nutrientes, o teor de magnésio não deve ser inferior a 0,8 cmolc/dm3. A correção do solo é recomendada de dois a três meses antes do plantio.
Plantio e irrigação
A cenoura pode ser semeada diretamente nos canteiros, manualmente, com semeadores manuais, com semeadoras tratorizadas ou com plantadoras a vácuo de alta precisão, levando em conta o tamanho da área a ser cultivada.
Independente do sistema adotado, a semeadura deve ser feita em profundidades entre 1,0 – 2,0 cm. Maiores profundidades afetam a germinação, e semeaduras menos profundas deixam as sementes vulneráveis a serem arrancadas e arrastadas pela água da chuva ou da irrigação.
Outro cuidado é o fornecimento de água em períodos de baixa pluviosidade, pois a cenoura é uma cultura exigente em umidade. Na maior parte são utilizados, e recomendados, aspersores.
Logo após o plantio, caso não chova, é recomendado irrigar de forma a umedecer o solo a uma profundidade de 20 cm. A partir desse momento até a completa germinação, deve-se evitar o ressecamento da camada superficial do solo a fim de evitar o incrustamento, que dificulta a germinação das sementes.
Plantas daninhas, doenças e pragas
O manejo da população de plantas por hectare (raleio) é feito para reduzir a competição planta/planta, assim como no controle de plantas daninhas, pragas e doenças é sugerido ser realizado conforme a necessidade.
Colheita
Quanto à colheita, pode ser realizada manualmente, mecanizada ou semi-mecanizada, dependendo da extensão da lavoura e da tecnologia disponível. Devem ser colhidas de forma cuidadosa, evitando-se danos mecânicos e acondicionamento em caixas ásperas.
É recomendado serem protegidas do sol o mais rápido possível (transportadas para galpões de beneficiamento ou colocadas à sombra). As raízes expostas à luz solar podem rapidamente tornar-se de 4 a 6 ºC mais quentes que a temperatura do ar, ocasionando a menor durabilidade.
Custo envolvido
Além dos investimentos com o manejo de irrigação e plantios convencionais, a produção de cenoura também necessita de muita mão de obra e/ou equipamentos de colheita, o que onera a sua produção.
O preço da semente varia entre os fornecedores e a tecnologia empregada no desenvolvimento das variedades, ficando na média de R$175,00 R$ 200,00 por 500 g de sementes.
Segundo dados do Cepea (2022), mesmo com o aumento do custo da produção ocasionado pela alta dos fertilizantes, a rentabilidade segue positiva. No período as cotações seguem em queda, refletidas pelo aumento da oferta (preço médio de R$ 2,68/kg).
Ao considerar apenas a safra de inverno, em 2021 a cidade mineira de São Gotardo liderou a produção de cenouras, com cerca de 2.000 hectares plantados, seguida por Irecê (BA), com 600 ha, Marilândia (PR) com 600 ha e Caxias do Sul (RS) com 450 ha.