Dessecação antecipada melhora o plantio de grãos

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Crédito: Claudinei Kappes

Laís Sousa Resende

Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP

sialresende@gmail.com

Alisson André Vicente Campos

Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – UFLA

alissonavcampos@yahoo.com.br

Lara Caroline Terra Reis

Graduanda em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA)

laracarolinet@gmail.com

A ocorrência de plantas daninhas é, de longe, um dos fatores que mais prejudica a produtividade das culturas. Além de contribuírem com a competição por recursos com a cultura principal, podem também proporcionar a ocorrência de pragas e doenças nas lavouras, dificuldade na colheita e diminuição do valor comercial das áreas cultivadas, perdas essas que podem chegar a até 90% do rendimento final.

Esses prejuízos costumam ser variáveis em virtude do estádio e da incidência da planta daninha e estádio da cultura.

Importância da dessecação

A dessecação pré-plantio ou antecipada se refere à prática de aplicar herbicidas a fim de eliminar todas as plantas daninhas e restos remanescentes de culturas, sendo realizada antes da semeadura de determinada cultura. Em resumo, essa prática se refere à preparação do solo para receber as sementes.

 As plantas daninhas competem com a cultura principal por água, luz e nutrientes.  Assim, a dessecação pré-plantio, quando bem realizada, facilita a semeadura devido ao melhor corte da palhada e à distribuição mais uniforme das sementes, permitindo o desenvolvimento da cultura no limpo, ou seja, livre de plantas daninhas.

Quando dessecar

A dessecação pré-plantio normalmente é realizada aproximadamente 30 dias antes da semeadura da cultura para a completa ação dos herbicidas. Esse período é importante para o controle de plantas daninhas resistentes ou de difícil manejo. Dessa forma, há maior rendimento da semeadora pela facilidade de corte da palha e uniformidade da área.

Para bons resultados, o produtor deve, primeiramente, identificar as plantas daninhas presentes na área a fim de direcionar o melhor herbicida a ser aplicado e quantas aplicações serão realizadas. Além disso, deve-se observar também o estádio dessas plantas daninhas. De modo geral, quanto menor a planta daninha, mais fácil será o controle.

Para a escolha dos herbicidas, é importante também considerar a seletividade para a cultura. Para o uso de herbicidas residuais, é necessário que o herbicida seja seletivo à cultura ou que o período de carência seja respeitado para que não haja o “carryover”, ou seja, fitointoxicação da cultura subsequente após a aplicação do herbicida.

Dessecação x vazio sanitário

A dessecação pré-plantio pode ser uma estratégia interessante no manejo de tigueras no vazio sanitário. As aplicações do manejo outonal permitem que tenha menor quantidade de tigueras de soja na safrinha de milho, facilitando o manejo para o vazio sanitário.

As plantas tigueras são problemáticas, por serem hospedeiras de pragas e doenças, atuando como “pontes verdes” para a próxima safra. É importante destacar que o período do vazio sanitário é em função de cada região.

O controle de plantas daninhas em estádio de desenvolvimento realizado no período de entressafra auxilia no pré-plantio da soja, devendo conta com boa dessecação para não iniciar o plantio em competição.

A dessecação sequencial pode ser feita duas vezes para controle de plantas daninhas de difícil controle, espaçadas em até 15 dias entre aplicações.

Como fazer a dessecação?

A prática da dessecação é essencial para eliminar plantas daninhas e remanescentes da cultura antecessora, sendo desejável sempre estar com a área limpa no momento do plantio. Esse momento é crucial para garantir a produtividade da cultura, uma vez que é comum ter perdas caso a dessecação seja realizada em momentos errados.

Portanto, é importante que esse manejo seja feito no período de entressafra, aproximadamente 30 dias antes do plantio, para que não atrapalhe a produção e a safra subsequente. E, nesse período, além do manejo químico, os manejos culturais e mecânicos também são muito usados.

Essa diversificação é importante para que os biótipos de plantas resistentes não sejam selecionados com a aplicação contínua de herbicidas.

No processo de dessecação da área, primeiramente é importante a identificação de quais plantas infestam e diferenciar, principalmente, entre as folhas largas e folhas estreitas e suas respectivas resistências.

A dessecação pré-plantio é feita pela aplicação de um ou mais herbicidas, dependendo de qual é a infestação de plantas na área e de seu estádio vegetativo. A utilização de herbicidas pré-emergentes é essencial para que a cultura permaneça por mais tempo no limpo, porém, é preciso ter cuidado com a tecnologia de aplicação.

Para evitar CarryOver, verificar sempre o período residual do herbicida utilizado.

Hora de escolher o herbicida

Após a identificação das daninhas presentes, o próximo passo é determinar quais herbicidas serão utilizados, e para isso, há alguns herbicidas que são mais utilizados para esse fim.

Como pós emergentes, temos: 2,4-D, Glyphosate, Glufosinato de Amônio, Saflufenacil, Cletodim e Haloxyfop. E como pré-emergentes: Atrazine, S-Metolachlor, Isoxaflutole e Trifluralina.

Em seguida, devemos seguir os cuidados que toda prática de aplicação necessita, como calibração de pulverizadores, qualidade da água, umidade relativa adequada e utilização de equipamentos adequados.

Custos

A dessecação em pré-plantio na cultura da soja está em torno de 4,4% do custo de produção, sendo relativamente baixo em comparação com outros custos. Entretanto, as plantas daninhas podem causar reduções de produtividade que ultrapassam os 40%. A presença de 1,0 buva m-2 reduz a produtividade da soja em até 14%, ou seja, 9,4 sacas ha-1.

A dessecação em pré-plantio também é uma estratégia em relação às plantas daninhas resistentes, visto a maior quantidade de mecanismos de ação envolvidos no seu controle. O manejo de plantas daninhas resistentes vem encarecendo o custo de controle, principalmente com resistências cruzadas e múltiplas, com a safra 2020/21 correspondendo a cerca de 20,2% dos custos com defensivos para a cultura da soja, segundo estimativas do IMEA, 2021.

Os herbicidas corresponderam a 59,6% do mercado nacional de agroquímicos no ano de 2020, demonstrando significativa participação no agronegócio brasileiro.

Custo-benefício da dessecação

A dessecação pré-plantio em lavouras de soja permite maior crescimento, devendo preferencialmente serem conduzidas “no limpo”, uma vez que apresentam curto período de convivência com as plantas daninhas (PCPI), no máximo de 18 dias.

Já lavouras de milho podem apresentar maior período de convivência com plantas daninhas, de até 30 dias. Nesse início a cultura é muito sensível à interferência das plantas daninhas.

Além de evitar a competição das plantas daninhas por recursos importantes, como água, nutrientes e luz, a dessecação pré-plantio pode auxiliar na redução das plantas que são hospedeiras de pragas durante o período da entressafra, atacando as lavouras nas fases iniciais.

Outro aspecto positivo da palhada produzida pela dessecação é a proteção do solo contra a ação da chuva, a manutenção da temperatura e umidade, que melhoram as condições para emergência das sementes.

O controle eficaz das plantas daninhas deve ser um dos principais objetivo do produtor, evitando que a produtividade seja afetada, uma vez que ela irá contribuir diretamente pelas receitas da propriedade agrícola, podendo atingir produtividades próximas de 80 sacas ha-1.

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