Natanael Motta Garcia
natanaelmottagarcia@outlook.com
Bruno Englerth Pedrozo
Graduandos em Engenharia Agronômica – Centro Universitário de Ourinhos (Unifio)
bruno_englerth@hotmail.com
Marcelo de Souza Silva
Doutor e professor de Agronomia – Unifio
bruno_englerth@hotmail.com
Os inoculantes são insumos biológicos com a capacidade de suprir total ou parcialmente as necessidades de alguns elementos minerais pelas plantas. O uso destes produtos tem sido cada vez mais comum na agricultura brasileira.
É importante destacar que a inoculação é uma técnica que contém microrganismos, como bactérias e fungos com ação benéfica para as plantas. A aplicação desses microrganismos desempenha atividades fundamentais para diferentes processos fisiológicos nas plantas.
Orientações
Os inoculantes geralmente são baratos, oferecidos em forma líquida, gel, turfosos e até novas formulações. O inoculante em sua fórmula líquida pode ser aplicado via semente ou sulco de semeadura, e o produtor rural deve seguir rigorosamente as orientações descritas pelos fabricantes na embalagem do produto.
É de extrema importância que não sejam utilizados inoculantes sem registro no MAPA, e que não foram transportados e armazenados em locais frescos, que não estejam dentro do prazo de validade e que não apresentem população superior a 1×108 células por grama/mililitro do produto.
Também é fundamental que a inoculação das sementes seja feita seguindo todas as instruções técnicas do fabricante do produto, para que ocorra a máxima aderência e uniformidade da distribuição do produto.
Aplicação
Os inoculantes líquidos são produtos de fácil aplicação. Sua formulação possui microrganismos de alta compatibilidade, além de permitir inocular as sementes até 15 dias antes da semeadura, com concentração de até cinco bilhões de células/mL na data do vencimento, dependente da marca do produto.
Não é recomendado adicionar inoculante líquido diretamente na caixa de semeadura, uma vez que a uniformidade com que o inoculante recobre as sementes é de suma importância para a eficiência do processo de inoculação, e se feito dessa maneira, pode haver danos na cobertura das sementes.
Também há a opção de sementes já inoculadas, entretanto, nesse caso deve-se atentar para o tempo de armazenamento das sementes após a inoculação. Embora novas tecnologias, como polímeros e protetores, permitam uma maior longevidade das bactérias adicionadas via inoculante nas sementes, o ideal é que a semeadura ocorra no mesmo dia da inoculação.
Quando realizada a inoculação a nível de propriedade, não se deve fazer o “sopão” com inoculante e agroquímicos destinados ao tratamento das sementes. Recomenda-se a aplicação de inseticidas e/ou fungicidas no tratamento de sementes em uma operação, que se espere as sementes secarem (de preferência à sombra) e após, aplique-se o inoculante em outra operação (secagem à sombra).
Inoculante x fósforo
O inoculante também possui elevada sobrevivência de células nas sementes e boa compatibilidade com agrotóxicos. No mercado brasileiro já existem muitos produtos biológicos com funções popularmente conhecidas, como é o caso das bactérias fixadoras de nitrogênio, no entanto, muitos produtores estão curiosos sobre os resultados dos inoculantes para solubilização de fósforo (P) contido no solo.
Isso quer dizer que as bactérias ajudam a disponibilizar o nutriente que as plantas não conseguem resgatar por conta própria.
Sem o fósforo, as produtividades na agricultura brasileira ficam bastante limitadas. É uma oportunidade que o produtor tem para reverter isso. Acredita-se que 70% do fósforo lançado fica preso no solo e a planta não absorve.
Então, essa bactéria vem justamente para melhorar o acesso da planta a esse nutriente que já está no solo, diminuindo assim a necessidade de usar ainda mais adubo.
As bactérias, os fungos e alguns actinomicetos estão diretamente envolvidos nos processos de solubilização e mineralização do P no solo, desempenhando papel fundamental no ciclo deste elemento essencial em diferentes processos biológicos das plantas.
Atuação na planta
Vale destacar que os microrganismos contidos nos inoculantes líquidos afetam diretamente a habilidade das plantas em adquirirem o P do solo por meio de vários mecanismos.
Dentre os processos mais conhecidos, pode-se destacar o incremento na área superficial das raízes pela extensão do sistema radicular (associações com micorrizas) ou pela contribuição no crescimento das raízes laterais e pelos radiculares, alongamento esse promovido pela síntese de fitormônios, que são moléculas de sinalização produzidas dentro das plantas, que ocorrem em concentrações extremamente baixas.
Esses microrganismos atuam ainda no equilíbrio da adsorção do P, o que resulta em uma transferência de íons fosfato para solução do solo ou incremento na mobilidade de formas orgânicas de P.
Atuam, ainda, no estímulo de processos metabólicos que são efetivos na solubilização e mineralização de P a partir de formas pouco disponíveis de fósforo inorgânico e orgânico, segundo afirmam resultados de pesquisas obtidos em diferentes campos experimentais conduzidos pela Embrapa.
Todos esses ganhos podem ser associados ao uso de inoculantes líquidos que auxiliam na liberação de fósforo para as plantas. Assim, fica a critério do produtor e recomendação do técnico responsável pela escolha de produtos à base desses microrganismos, dentre os quais destacam-se as bactérias dos gêneros Bacillus, Pseudomonas e Agrobacterium e os fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium.
Cuidados
Independe do produto utilizado, alguns cuidados devem ser tomados para atenuar os fatores que interferem na inoculação, como a qualidade, transporte e armazenamento do inoculante; o ambiente e operação da inoculação; o tratamento químico das sementes.
A inoculação no sulco de semeadura dificulta o controle eletrônico quanto à adequada de aplicação. Aspectos relacionados à limpeza e manutenção do equipamento, velocidade de semeadura e solo úmido favorecem esta prática, que pode ser aplicada ainda via sistema de irrigação localizada.
O fósforo é um elemento-chave para a nutrição mineral das plantas. Está presente na estrutura, na matriz energética de processos como germinação, fotossíntese, divisão celular e frutificação, por exemplo, e é um dos componentes dos ácidos nucleicos, os tão conhecidos DNA e RNA.
Desafios
Com o objetivo de superar o desafio da restrição do fósforo nos solos brasileiros, os microrganismos potencializam a disponibilização deste elemento de forma orgânica e inorgânica, aumentando a eficiência do seu uso e promovendo maior desenvolvimento do sistema das raízes das plantas.
Por sua vez, aumentam o desenvolvimento e produtividade da lavoura, que em alguns casos pode chegar a incrementar em oito sacas de soja por hectare. Além de elevar a produtividade, existe a maior quantidade dos índices de fósforo disponível para a planta e maior desenvolvimento radicular, podendo afetar positivamente a redução dos custos com a cultura subsequente.
Sanidade e produtividade
O desenvolvimento e o estabelecimento radicular inicial de uma cultura estão totalmente atrelados à sanidade e à produtividade. Além disso, plantas com grande volume radicular tendem a sofrer menos estresses bióticos e abióticos, como estiagem, déficit nutricional, doenças, pragas e nematoides.
Uma das questões mais importantes para que uma determinada tecnologia, como os inoculantes líquidos, seja efetivamente adotada pelos produtores, é sua eficiência comprovada e o preço. Por mais importante que a nova ferramenta seja, essa questão nunca é deixada de lado e a conta precisa fechar.
Por esse motivo, é importante destacar que, além dos ganhos no desempenho das plantas, o valor médio do inoculante é encontrado no mercado por menos de uma saca de soja (valores atuais), já que a recomendação é usar 100 ml do inoculante por hectare. Os produtos mais comuns e bons do mercado custam, em média, R$ 10 por hectare.