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André F. Colaço
Engenheiro agrônomo, Msc. e doutorando em Eng. de Sistemas Agrícolas ” ESALQ/USP
José Paulo Molin
Engenheiro Agrícola, PhD, Professor Associado III
ESALQ/USP
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A agricultura de precisão (AP) envolve uma série de ferramentas, e na citricultura não é diferente. A mais comum entre os adotantes de AP em citricultura e em outras culturas, de maneira geral, é a chamada amostragem de solo em grade.
Trata-se da amostragem de solo georreferenciada, ou seja, em pontos com locais conhecidos e pré-determinados, espalhados ao longo de toda a área de forma a permitir o mapeamento do solo para os diversos parâmetros de fertilidade.
Lembrando que na amostragem convencional a amostra representa um valor médio de toda a área, enquanto que na amostragem em grade ela representa o valor exato (ou o mais próximo possível disso) ao longo de toda a área mapeada.
Outra ferramenta comum é a aplicação de fertilizantes em taxa variável, que é consequência da etapa anterior, a amostragem. Tendo em mão os valores de fertilidade em toda a área é possível, por meio da automação agrícola, aplicar doses variadas, ou seja, proporcionais às demandas por insumos em cada pequena porção da área.
Na aplicação convencional, a aplicação é uniforme, com base no valor médio de fertilidade obtido na amostragem convencional.
A prática da AP
Muitos agricultores e prestadores de serviço baseiam suas atividades de agricultura de precisão estritamente nessas duas ferramentas, embora uma diversidade de outras práticas seja possível.
Uma ferramenta de extrema importância é o mapeamento da produtividade. Em culturas que empregam a colheita mecanizada é possível para o mapeamento a utilização de um equipamento instalado na colhedora denominado monitor de produtividade. Ao longo da colheita ele registra valores de produtividade da cultura e suas respectivas coordenadas geográficas, o que permite a geração do mapa de produtividade.
Solução para a citricultura
Na citricultura, como a colheita ainda é predominantemente manual, um método diferenciado foi desenvolvido pelo Laboratório de Agricultura de Precisão (LAP) da Universidade de São Paulo na Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’ (Piracicaba-SP) (www.agriculturadeprecisao.org.br).
Ele permite o cálculo localizado da produtividade, com base na distribuição e volume dos “big bags“ utilizados na colheita. Para isso basta que os bags tenham suas posições geográficas registradas por meio de um GPS durante a colheita.
O mapa final de produtividade servirá para evidenciar áreas com boa produção e aquelas com algum problema que indiquem necessidade de tratamento diferenciado. Um exemplo palpável do mapa de produtividade é para melhorar a qualidade da fertilização em taxa variável, ou seja, áreas que produziram mais, consequentemente precisam de mais adubo, pois houve maior extração e exportação de nutrientes.
A grande vantagem do mapa de produtividade por meio desse método é a sua praticidade e baixo custo de obtenção, se comparado à amostragem de solo, por exemplo.
Zonas de manejo e outras ferramentas
Outro conceito dentro da AP que ainda não é muito tratado na citricultura são as zonas de manejo (também denominadas como “unidades de gestão diferenciada“), que nada mais são do que a divisão dos talhões em áreas menores que apresentem potencial produtivo diferente. Ou seja, distinguir com base nos mapas de solo e histórico de produtividade, áreas que apresentem algum tipo de limitação (por exemplo, áreas com má drenagem ou solo mais arenoso) de áreas com grande potencial de produção (por exemplo, solos bem drenados, profundos e argilosos). Isso permite um nível de tratamento extremamente personalizado e vantajoso.
Outra possibilidade para AP na citricultura é a utilização de imagens aéreas (por satélites, aviões ou “drones“) ou sensores terrestres para verificação do estado nutricional e fitossanitário da cultura e permitir o tratamento localizado, embora muitas dessas ferramentas ainda se encontrem em fase de pesquisa.
Benefícios para a citricultura
A amostragem de solo georreferenciada permite a investigação da variação dos níveis de fertilidade dentro de uma área, sendo a informação base para as aplicações em taxa variada.