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Agricultura regenerativa e o futuro da produção sustentável no cerrado

Crédito: Marcus Mesquita

A agricultura enfrenta desafios crescentes, como a degradação do solo, a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas. Nesse cenário, a agricultura regenerativa surge como uma solução promissora.

A pesquisadora Eliana Maria Gouveia Fontes, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, conta que, desde sua definição em 1983 por Robert Rodale, a agricultura regenerativa tem sido reconhecida por sua capacidade de restaurar e revitalizar os ecossistemas agrícolas. “Essa prática promove a saúde do solo, melhorando sua estrutura, fertilidade e capacidade de retenção de água”, explica.

Além disso, a especialista destaca que há aumento da biodiversidade, facilitando o controle biológico natural e a polinização, tornando o sistema agrícola mais resiliente às mudanças climáticas.

O conceito da agricultura regenerativa enfatiza a interrelação de todas as partes de um sistema agrícola, incluindo o agricultor e sua família. Também destaca a importância da manutenção das redes alimentares e a necessidade de maximizar as relações biológicas desejadas no sistema, como o controle biológico e a polinização, incluindo a minimização do uso de práticas que perturbam essas relações.

Neste contexto, solos saudáveis sustentam colheitas mais produtivas, mais resilientes economicamente e promovem a diversificação da produção e a segurança alimentar.

Projetos inéditos

No Cerrado, uma das regiões mais importantes para a produção agrícola no Brasil, o Projeto Regenera Cerrado tem desempenhado um papel importante. “Estamos avaliando o efeito do uso de práticas agrícolas regenerativas e convencionais em 13 fazendas e 17 áreas de estudo, ao longo de duas safras de soja e duas de milho”, relata a pesquisadora.

O objetivo é entender como essas práticas contribuem para a saúde do solo e a manutenção dos serviços ecossistêmicos que são providos pela biodiversidade.

Eliana confirma que a saúde do solo e a biodiversidade estão em crise mundialmente e sua avaliação nas fazendas está sendo usada para mensurar o quanto estas fazendas estão avançando na adoção dos princípios da agricultura regenerativa definidos por Rodale e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Assim, a saúde do solo e a biodiversidade são temas centrais no estudo, com a equipe de Eliana focada na microbiologia, física e química dos solos, patógenos de raízes e da parte aérea das plantas, e estudos de entomologia e controle biológico.

Em 2024 foi finalizada a coleta de dados e estão sendo analisados os resultados dos estudos de microbiologia, física e química orgânica dos solos, dos patógenos de raízes e da parte aérea das plantas, estudos de entomologia, nematologia e controle biológico, além da avalição econômica da produção. 

“Podemos dizer que todas as fazendas estão adotando práticas regenerativas para recuperar a saúde do solo, algumas mais e outras menos, e isto tem um reflexo nos índices de biodiversidade”, afirma.

Um dos achados preliminares do projeto é o papel crucial dos bioinseticidas no controle biológico natural, que tem mostrado melhor desempenho em áreas onde esses produtos são utilizados, reduzindo a necessidade de inseticidas químicos.

Isso reforça a importância da integração de práticas modernas com conhecimento tradicional para desenvolver soluções adaptadas às condições específicas da região. “Essa abordagem não só aumenta a produtividade e a sustentabilidade da agricultura, mas também contribui para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, criando sistemas agrícolas mais robustos e resilientes”, pontua.

Importância da cobertura do solo

“Nas pesquisas em andamento, estamos monitorando práticas que promovem a melhoria da saúde dos solos, como cobertura vegetal, plantio direto, sucessão de culturas e o uso de bioinsumos”, explica Eliana. Essas práticas são comparadas com métodos convencionais, com o objetivo de entender como elas afetam a fertilidade do solo, o crescimento das plantas e sua resistência a pragas e doenças.

A cobertura vegetal, citada como exemplo por ela, é uma técnica que protege o solo da erosão, melhora sua estrutura e aumenta sua capacidade de retenção de água. O plantio direto, por sua vez, minimiza a perturbação do solo, preservando sua integridade e promovendo a acumulação de matéria orgânica. “A redução do uso de insumos sintéticos é outro aspecto crucial, pois favorece a manutenção da biodiversidade e cria um ambiente propício para o controle biológico natural”, acrescenta Eliana.

Conservação do solo

Além de proteger a biodiversidade, a agricultura regenerativa desempenha um papel vital na conservação de solos saudáveis e no sequestro de carbono. Técnicas como a rotação de culturas e a adubação orgânica contribuem para a acumulação de matéria orgânica, aumentando a capacidade do solo de armazenar carbono. “Solos saudáveis são mais resistentes à erosão e mais capazes de reter água, o que é fundamental em um cenário de mudanças climáticas”, afirma a pesquisadora.

A redução do uso de fertilizantes minerais e pesticidas químicos é outro benefício significativo da agricultura regenerativa. “Estamos observando nas áreas de estudo do Projeto Regenera Cerrado que práticas como adubação orgânica e controle biológico podem reduzir significativamente a necessidade de insumos sintéticos”, explica Eliana. Essa redução não só protege a qualidade da água e preserva a biodiversidade, mas também melhora a saúde humana ao fornecer alimentos mais seguros e criar comunidades agrícolas mais saudáveis.

A implementação da agricultura regenerativa no Cerrado, segundo Eliana, depende do engajamento das comunidades locais e da integração do conhecimento tradicional com práticas modernas. “Ao valorizar o conhecimento local, os agricultores podem desenvolver soluções adaptadas às condições específicas da região”, enfatiza.

O Projeto Regenera Cerrado continua a avançar, e os resultados preliminares já indicam uma transformação significativa na forma como o Cerrado é cultivado. Com a continuidade das pesquisas, a expectativa é que a agricultura regenerativa se estabeleça como um pilar central na construção de um futuro agrícola mais sustentável e resiliente.

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