21.6 C
Uberlândia
segunda-feira, abril 28, 2025
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosAgricultura regenerativa e o futuro da produção sustentável no cerrado

Agricultura regenerativa e o futuro da produção sustentável no cerrado

Crédito: Marcus Mesquita

A agricultura enfrenta desafios crescentes, como a degradação do solo, a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas. Nesse cenário, a agricultura regenerativa surge como uma solução promissora.

A pesquisadora Eliana Maria Gouveia Fontes, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, conta que, desde sua definição em 1983 por Robert Rodale, a agricultura regenerativa tem sido reconhecida por sua capacidade de restaurar e revitalizar os ecossistemas agrícolas. “Essa prática promove a saúde do solo, melhorando sua estrutura, fertilidade e capacidade de retenção de água”, explica.

Além disso, a especialista destaca que há aumento da biodiversidade, facilitando o controle biológico natural e a polinização, tornando o sistema agrícola mais resiliente às mudanças climáticas.

O conceito da agricultura regenerativa enfatiza a interrelação de todas as partes de um sistema agrícola, incluindo o agricultor e sua família. Também destaca a importância da manutenção das redes alimentares e a necessidade de maximizar as relações biológicas desejadas no sistema, como o controle biológico e a polinização, incluindo a minimização do uso de práticas que perturbam essas relações.

Neste contexto, solos saudáveis sustentam colheitas mais produtivas, mais resilientes economicamente e promovem a diversificação da produção e a segurança alimentar.

Projetos inéditos

No Cerrado, uma das regiões mais importantes para a produção agrícola no Brasil, o Projeto Regenera Cerrado tem desempenhado um papel importante. “Estamos avaliando o efeito do uso de práticas agrícolas regenerativas e convencionais em 13 fazendas e 17 áreas de estudo, ao longo de duas safras de soja e duas de milho”, relata a pesquisadora.

O objetivo é entender como essas práticas contribuem para a saúde do solo e a manutenção dos serviços ecossistêmicos que são providos pela biodiversidade.

Eliana confirma que a saúde do solo e a biodiversidade estão em crise mundialmente e sua avaliação nas fazendas está sendo usada para mensurar o quanto estas fazendas estão avançando na adoção dos princípios da agricultura regenerativa definidos por Rodale e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Assim, a saúde do solo e a biodiversidade são temas centrais no estudo, com a equipe de Eliana focada na microbiologia, física e química dos solos, patógenos de raízes e da parte aérea das plantas, e estudos de entomologia e controle biológico.

Em 2024 foi finalizada a coleta de dados e estão sendo analisados os resultados dos estudos de microbiologia, física e química orgânica dos solos, dos patógenos de raízes e da parte aérea das plantas, estudos de entomologia, nematologia e controle biológico, além da avalição econômica da produção. 

“Podemos dizer que todas as fazendas estão adotando práticas regenerativas para recuperar a saúde do solo, algumas mais e outras menos, e isto tem um reflexo nos índices de biodiversidade”, afirma.

Um dos achados preliminares do projeto é o papel crucial dos bioinseticidas no controle biológico natural, que tem mostrado melhor desempenho em áreas onde esses produtos são utilizados, reduzindo a necessidade de inseticidas químicos.

Isso reforça a importância da integração de práticas modernas com conhecimento tradicional para desenvolver soluções adaptadas às condições específicas da região. “Essa abordagem não só aumenta a produtividade e a sustentabilidade da agricultura, mas também contribui para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, criando sistemas agrícolas mais robustos e resilientes”, pontua.

Importância da cobertura do solo

“Nas pesquisas em andamento, estamos monitorando práticas que promovem a melhoria da saúde dos solos, como cobertura vegetal, plantio direto, sucessão de culturas e o uso de bioinsumos”, explica Eliana. Essas práticas são comparadas com métodos convencionais, com o objetivo de entender como elas afetam a fertilidade do solo, o crescimento das plantas e sua resistência a pragas e doenças.

A cobertura vegetal, citada como exemplo por ela, é uma técnica que protege o solo da erosão, melhora sua estrutura e aumenta sua capacidade de retenção de água. O plantio direto, por sua vez, minimiza a perturbação do solo, preservando sua integridade e promovendo a acumulação de matéria orgânica. “A redução do uso de insumos sintéticos é outro aspecto crucial, pois favorece a manutenção da biodiversidade e cria um ambiente propício para o controle biológico natural”, acrescenta Eliana.

Conservação do solo

Além de proteger a biodiversidade, a agricultura regenerativa desempenha um papel vital na conservação de solos saudáveis e no sequestro de carbono. Técnicas como a rotação de culturas e a adubação orgânica contribuem para a acumulação de matéria orgânica, aumentando a capacidade do solo de armazenar carbono. “Solos saudáveis são mais resistentes à erosão e mais capazes de reter água, o que é fundamental em um cenário de mudanças climáticas”, afirma a pesquisadora.

A redução do uso de fertilizantes minerais e pesticidas químicos é outro benefício significativo da agricultura regenerativa. “Estamos observando nas áreas de estudo do Projeto Regenera Cerrado que práticas como adubação orgânica e controle biológico podem reduzir significativamente a necessidade de insumos sintéticos”, explica Eliana. Essa redução não só protege a qualidade da água e preserva a biodiversidade, mas também melhora a saúde humana ao fornecer alimentos mais seguros e criar comunidades agrícolas mais saudáveis.

A implementação da agricultura regenerativa no Cerrado, segundo Eliana, depende do engajamento das comunidades locais e da integração do conhecimento tradicional com práticas modernas. “Ao valorizar o conhecimento local, os agricultores podem desenvolver soluções adaptadas às condições específicas da região”, enfatiza.

O Projeto Regenera Cerrado continua a avançar, e os resultados preliminares já indicam uma transformação significativa na forma como o Cerrado é cultivado. Com a continuidade das pesquisas, a expectativa é que a agricultura regenerativa se estabeleça como um pilar central na construção de um futuro agrícola mais sustentável e resiliente.

ARTIGOS RELACIONADOS

Trigo safrinha ganha espaço no Cerrado

Na região chamada de Brasil Central, que engloba os estados de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal

Porta-enxertos – Propagação ideal da ameixa

A ameixeira pertence à família Rosaceae, à subfamília Prunoidae e ao gênero Prunus, dentro desse gênero se encontram as duas mais importantes espécies de ameixeiras cultivadas atualmente: Prunus salicina Lindl. e Prunus domestica L.

Tratamento de sementes de algodão com fungicida e inseticida

Alderi Emídio de Araújo Engenheiro agrônomo fitopatologista, D.Sc. e pesquisador da Embrapa Algodão   O tratamento de sementes é uma prática comum e imprescindível para assegurar uma...

Fitossanidade do cafeeiro – As doenças que precisam ser controladas

Roberto Santinato Engenheiro agrônomo do MAPA/Procafé Felipe Santinato Mestre em Agronomia fpsantinato@hotmail.com Reginaldo Oliveira Silva Técnico agrícola As pragas e doenças que atacam o cafeeiro são responsáveis pela redução do desenvolvimento...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!