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Águas salobras para irrigação e o problema do Sódio na Condutividade Elétrica (CE)

Foto: Pixabay

Luiz Dimenstein
luiz.dimenstein@fertirrigar.com

Um exemplo do problema da água de irrigação que contém Sódio (Na+). O peso molecular do Sódio (Na+) é 23 e como é um íon monovalente ao dividir seu peso pela valência que é um, teremos seu Equivalente Químico (Eq) igual ao seu peso. Afirmamos que 1 Eq tem o poder de salinização de 0,1 dS/m = 0,1 mS/cm. Se na análise da qualidade da água a concentração do Sódio for por exemplo 230 ppm (mg/L) então serão 10 Eqs de Sódio e no condutivímetro teremos 1,0 dS/m originado apenas pelo Sódio.

Os demais cátions terão assim forte concorrência na solução do solo. Um Eq de K+ que pesa 39 e é monovalente, terá que somar outros 10 Eqs x 39 = 390 ppm para ter o mesmo nível de salinização de 230 ppm de Na+. Nesse exemplo ambos contribuem com 1,0 dS/m no condutivímetro que marcaria o somatório de ambos os cátions.

Se for fazer o mesmo exercício para outros 10 Eqs de Ca++ que pesa 40, mas por ser bivalente tem que dividir o peso por 2 e teremos o Eq de Ca++ = 40/2 = 20 ppm. Assim 20 ppm de Ca++ saliniza igual a 23 ppm de Na+ e igual a 39 ppm de K+. Cada Eq de qualquer íon saliniza no condutivímetro 0,1 dS/m. A competição entre os cátions depende do número de Eqs e do diâmetro do íon em estado hidratado cujas variações são muito dinâmicas à medida que o solo sai da capacidade de campo e passa a ter menor retenção de água no solo e seus solutos em solução no solo.

Outro fator além da competição é que alguns íons não são nutrientes, tais quais Sódio, Alumínio e alguns metais pesados, mas todos os cátions competem uns contra os outros na solução.

Quando a água de irrigação é de baixa salinidade original, os 3 principais cátions são dominantes com K+, Ca++ e Mg++ contribuindo com mais de 95% da salinidade total. Outros cátions principalmente os Micros como Ferro, Zinco, Cobre e Manganês entram com o restante que em geral fica menos que 5% da CE total. Os ajustes entre os 3 principais cátions na solução do solo é um jogo de ajustes por fase fenológica que podemos manipular via fertirrigações monitoradas.

Para os ânions, temos Fosfatos, Sulfatos, Nitratos e Cloretos, além dos micros Boratos e Molibdatos. Porém, esses, por serem ânions, são facilmente lixiviados, com exceção do Fosfato. Assim, em comparação com os cátions, há algumas variações no número de Eqs na solução do solo, que é mais próximo do número de Eqs dos cátions em solos argilosos e menos em solos arenosos. Apenas em hidroponia, os Eqs de cátions e de ânions são iguais. Para fertirrigação em solo, a referência deve seguir os cátions na solução do solo.

Voltando ao caso do Sódio, teremos problemas quando sua concentração for acima de 30% da CE. Para uma CE = 1 dS/m, teremos até 3 Eqs de Na+, que valem 23 x 3 = 69 ppm. Se a CE = 2 dS/m, então 30% serão 6 Eqs x 23 = 138 ppm. Assim, o critério é a competição entre os cátions dentro da CE total na solução do solo e não na CE da injeção.

Quando a CE total passa de 3 dS/m, teremos outro problema, além da competição entre os íons, que é a salinidade total. Essa salinidade gera uma forte tensão contrária às raízes para retenção da água no solo e dificulta a absorção dessa solução salina, mesmo em solo úmido. Pode haver efeito de estresse hídrico, mesmo em solo úmido, porém a baixa absorção ocorre em função da alta salinidade. Quando a CE > 4 dS/m, independente dos sais que compõem essa salinidade, as raízes passarão as horas de maior temperatura incapazes de repor as perdas da transpiração. Logo, veremos sintomas de folhas murchas. Para se defender desse estresse, as folhas fecham os estômatos para diminuir a desidratação. Assim, o número de horas de fotossíntese cai drasticamente, seja por ter águas salobras na irrigação ou por excesso de fertilizantes aplicados, que causam o mesmo efeito.

A chave da eficiência hídrica e de obter o maior número de horas de fotossíntese é manter a CE na solução do solo em níveis suaves, entre 1 e 3 dS/m. De preferência, entre 1 e 2 dS/m seria ideal para a grande maioria dos cultivos e suas fases fenológicas. O monitoramento semanal é uma ferramenta fácil de usar, e isso se aplica à solução do solo e não à injeção dos fertilizantes.

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