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sexta-feira, novembro 22, 2024
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Alerta: Mistura de herbicidas em tanque

Autores

Leandro Bianchi
leandro_bianchii@hotmail.com
Vitor Muller Anunciato
vitor.muller@gmail.com 
Engenheiros agrônomos, mestres em Agricultura e doutorandos em Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu
Samara Moreira Perissato
Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Agricultura – UNESP – Botucatu
samaraperissato@gmail.com
Roque de Carvalho Dias
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu
roquediasagro@gmail.com
Leandro Tropaldi
Engenheiro agrônomo, mestre em Agricultura, doutor em Proteção de Plantas e professor de Plantas daninhas – UNESP – Dracena
l.tropaldi@unesp.br
Crédito: Jacto

A prática de mistura de herbicidas em tanque nunca foi ilegal no Brasil – cerca de 97% dos produtores utilizam mistura no manejo de plantas daninhas em soja resistente ao glyphosate (Gazziero et al., 2015). Entretanto, engenheiros agrônomos não podiam recomendar esse tipo de prática em receituário agronômico, consequentemente, os próprios produtores eram obrigados a escolher as misturas, sem muitas vezes conhecer a interação entre os produtos.

Em 2018, o MAPA, IBAMA e ANVISA aprovaram em conjunto uma nova instrução normativa, permitindo que os engenheiros agrônomos façam prescrição de mistura de defensivos agrícolas e afins em tanque de pulverização. Essa legislação melhora tanto a segurança ambiental dos produtos quanto de manejo de plantas daninhas, pois permite que profissionais capacitados recomendem as melhores opções de maneira correta.

Cuidados

Para recomendar a mistura dos produtos, os profissionais precisam que os defensivos estejam registrados para a cultura a ser aplicada. Todas as orientações de bula devem ser respeitadas, tanto em aspectos ambientais quanto relacionados à saúde humana e, se caso ocorrerem divergências entre as bulas, indicações serão necessárias no receituário agronômico.

Os produtos a serem misturados devem apresentar informações como: ingrediente ativo (i.a.); concentrações; tipos de formulações; incompatibilidade físico-químicas do i.a.; toxicidade e ecotoxicidade da mistura; precauções, cuidados e advertências de uso adicionais. Para mais informações, todos os detalhes estão presentes no diário oficial da união, que pode ser encontrado no site do MAPA.

Vantagens de realizar mistura de herbicidas

Uma das vantagens atribuídas à associação entre uma molécula de herbicida com diferente mecanismo de ação e até mesmo com mesmo mecanismo de ação é o aumento da eficácia dos produtos. Esse aumento do controle com a mistura é denominado interação sinérgica, e contribui para o manejo de plantas daninhas

No Brasil, após as culturas transgênicas de soja e milho serem introduzidas, a buva e o capim-amargoso resistentes ao glyphosate se destacaram como uma das mais problemáticas plantas daninhas. O uso de mistura de herbicidas, além de contribuir para o controle destas plantas, pode proporcionar maior rotação de ingredientes ativos utilizados na mesma área e prevenir que a ocorrência de resistência aumente nas próximas safras.

Combinação de herbicidas

Nos dias atuais, ocorre uma alta pressão no agronegócio para reduzir a quantidade de produtos fitossanitários e proporcionar o controle de plantas daninhas de forma mais racional e sustentável.

A combinação de herbicidas pode aumentar a eficácia de controle, mesmo utilizando baixas doses dos produtos. Já foi observado que o uso de glyphosate + clethodim em doses menores que a recomendada pela bula foi efetivo no controle de capim-amargoso resistente ao glyphosate em estádios iniciais, quando comparado ao uso isolado deles.

Por proporcionar maior controle, a mistura de produtos pode afetar diretamente o bolso do produtor, pois evita várias aplicações em uma mesma área, diminui os custos operacionais, reduz o tráfego de máquinas e diminui a compactação do solo.

Desvantagens das misturas

Como em qualquer outra atividade, a prática de mistura de herbicidas, quando realizada de forma incorreta, pode proporcionar alguns aspectos negativos no campo. O principal ponto está relacionado à incompatibilidade física ou química entre os produtos. A incompatibilidade física pode levar à formação de precipitados, complexação ou floculação. Já a incompatibilidade química pode causar hidrólises alcalinas, dissociação iônica ou inativações por radicais nas moléculas dos defensivos.

Todos esses fatores afetam diretamente a eficácia do produto no controle de plantas daninhas. Quando a mistura apresenta menor controle, comparada com o uso isolado de um herbicida, ocorre o que chamamos de efeito antagônico.

Inúmeros trabalhos demonstram a interação antagônica na mistura. Um exemplo clássico ocorre entre aplicações foliares de graminicidas com latifolicidas, principalmente de 2,4-D com herbicidas inibidores da acetil coenzima A (ACCase).

Da mesma forma que ocorre com herbicidas aplicados isoladamente, quando em mistura o uso excessivo e irracional de diferentes herbicidas com o mesmo ou com diferentes mecanismos de ação pode ocasionar a ocorrência de plantas daninhas tanto com resistência cruzada quanto múltipla.

Como evitar erros

Erros de incompatibilidade na mistura são frequentes em propriedades agrícolas. Para evitar que isso aconteça, existem tipos de formulações que não devem ser associadas, como por exemplo, a combinação entre pó-molhável e concentrado emulsionável, que resultam em alta sedimentação e pode obstruir filtros.

O pH da calda é um fator importante antes da pulverização. Geralmente, produtos apresentam menor eficácia quando são alcalinos e podem levar à perda do efeito sinérgico da mistura. Para evitar esse tipo de incompatibilidade são utilizados adjuvantes, que auxiliam na correção de pH. Entretanto, não existe um pH ideal, o que irá depender de cada produto, e por isso é necessário consultar as recomendações da bula.

Todavia, é necessário ter conhecimento técnico para realizar a mistura em tanque de maneira correta. A nova legislação foi proposta principalmente para evitar esses tipos de erros no momento da mistura. Portanto, ela permite que o engenheiro agrônomo, por meio de todo seu conhecimento técnico-científico, consiga exercer seu papel e auxiliar o produtor a escolher a opção correta.

Sustentabilidade

A mistura de herbicidas sempre foi um tema recorrente na agricultura. Com a nova legislação existe uma tendência de os produtos serem utilizados de maneira mais segura. A permissão dos engenheiros agrônomos em recomendar o melhor tipo de mistura pode trazer benefícios relacionados ao manejo de plantas daninhas, além de aumentar o espectro de controle, auxiliar no combate de resistência e, consequentemente, aumentar a sustentabilidade das moléculas já existentes.

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