Marcos Fabian Sanabria Franco
Engenheiro agrônomo, mestre em Agronomia e doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ-USP
marcosfabian@usp.br
O cultivo do maracujá exige solos ricos em matéria orgânica, alta disponibilidade de água, temperaturas entre 23 e 25ºC e intensa luminosidade. O ciclo produtivo pode durar até três anos, mas muitos produtores preferem dois anos, devido a problemas fitossanitários crescentes.
O maracujá é vulnerável a pragas como lagarta-da-folha, percevejos e besouros, e a doenças como tombamento, bacteriose e antracnose. Essas pragas e doenças afetam tanto o viveiro quanto o campo, causando diminuição na produção e na área plantada.
Sem cuidados fitossanitários adequados, a infestação e contaminação aumentam, prejudicando grandes áreas e levando ao abandono da cultura.
Mecanismos de defesa do maracujazeiro
Os aminoácidos surgem como alternativa para reduzir os estresses bióticos e abióticos, aumentando a capacidade de defesa, o que, consequentemente, favorece a qualidade dos frutos.
A aplicação exógena de aminoácidos pode fortalecer a absorção de nutrientes como boro, manganês, cálcio e zinco, essenciais para o metabolismo de açúcares, a formação de paredes celulares rígidas e as defesas antioxidantes, tanto enzimáticas quanto não enzimáticas da planta em condições adversas.
Além de agirem como agentes antiestresse, os aminoácidos auxiliam em processos morfofisiológicos das plantas. Ao melhorar o metabolismo celular, ocorre uma retranslocação eficiente dos minerais na planta, contribuindo para a formação de frutos bem desenvolvidos e homogêneos, com elevadas propriedades físico-químicas de interesse.
Síntese de proteínas essenciais
Os aminoácidos, em termos simples, são os blocos de construção das proteínas. São compostos por átomos de oxigênio, nitrogênio, carbono e hidrogênio que, ligados covalentemente por meio de ligações peptídicas, formam as proteínas, que são macromoléculas biológicas presentes em todas as células.
Aplicar aminoácidos exogenamente na produção de mudas pode ser uma alternativa eficaz, pois os aminoácidos aumentam a produção de raízes adventícias pelo controle hormonal e, ao atuarem como osmoprotetores, promovem maior eficiência na formação de proteínas e açúcares, que servem como fonte energética para a recuperação de tecidos com algum tipo de dano.
Melhora da assimilação de nutrientes
Ao fortalecer a absorção de nutrientes como boro, manganês, cálcio e zinco, o metabolismo de açúcares e as defesas antioxidantes aumentam, levando a uma maior reserva energética nas folhas e maior estabilidade das proteínas transportadoras de nutrientes.
Ao melhorar o metabolismo celular, aumenta a eficiência do uso de água nas folhas e a atividade enzimática da Ribulose-1,5-Bisfosfato Carboxilase/Oxigenase (RUBISCO). A planta de maracujá, quando exposta a condições ambientais adversas, apresenta elevada transpiração, alta taxa respiratória e diminuição da capacidade fotossintética.
Nessas situações, o uso de aminoácidos como glicina e prolina ajuda a planta a ter maior eficiência no uso de água, pois são osmoprotetores fundamentais para a estabilidade da membrana celular.
Vigor e resiliência do maracujá
Os aminoácidos aumentam o vigor das plantas e a resiliência em situações extremas de estresse. Por exemplo, o aminoácido aromático, como a tirosina, participa fortemente na lignificação dos tecidos, proporcionando maior capacidade de defesa às plântulas após o transplante.
A prolina melhora a tolerância ao sal em plantas, atenuando eventuais danos causados pelos sais dos fertilizantes. A cisteína auxilia no controle hormonal e é uma fornecedora de enxofre, contribuindo para a formação de proteínas de proteção ante ataques de patógenos.
Aminoácidos como tirosina, fenilalanina e triptofano favorecem a formação de metabólitos secundários essenciais para a planta, além de facilitar o controle hormonal.
Redução de danos causados pelo estresse
Os aminoácidos participam na homeostase celular, facilitam a absorção de nutrientes essenciais para a formação do pólen, como o boro, e ajudam na formação de metabólitos secundários fundamentais para a defesa.
Além disso, eles participam da formação de compostos voláteis fundamentais para a cultura de maracujá, pois esses compostos atraem as mamangavas, que são os polinizadores naturais dessa fruta.
Durante a formação dos frutos, os estresses ambientais podem causar muitos abortos de frutos. Portanto, o uso de aminoácidos pode ser uma excelente alternativa, ao participar do controle hormonal e mitigar esse estresse, resultando em plantas altamente produtivas.
Viabilidade
O maracujá enfrenta desafios na produção que podem ser mitigados pelo uso correto de aminoácidos durante o processo produtivo. Atuar sobre esses estresses bióticos e abióticos, aliado a um bom planejamento agronômico viável econômica e ecologicamente, é necessário.
Após a colheita, o uso de aminoácidos também é uma alternativa para mitigar estresses e estender a vida dos frutos. Aminoácidos como arginina, cisteína e metionina podem ser opções para manter a qualidade das frutas ao longo do armazenamento, preservando a vitamina C, aumentando a atividade antioxidante e reduzindo a respiração, a produção de etileno e a perda de peso.
A arginina possui a capacidade de atrasar o escurecimento enzimático e atua como atenuador de lesões por frio durante o armazenamento de produtos frutícolas. Ela garante a acumulação de fenóis, antocianinas e ácido ascórbico, aumentando a integridade das membranas celulares e reduzindo o acúmulo de H₂O₂.
A cisteína retarda a perda de cor, reduz a respiração e a produção de etileno, e aumenta compostos bioativos e o teor de sólidos solúveis, quando fornecida exogenamente. É um aminoácido que pode ser uma alternativa para atenuar as condições de estresse enfrentadas pelos frutos após a colheita.
Aminoácidos como triptofano, metionina e arginina, ou a mistura de alguns deles em doses corretas, ajudam a preservar os frutos por mais tempo.
Na dose certa
O uso de aminoácidos dependerá das condições agronômicas específicas. Não há uma dosagem única; a quantidade aplicada dependerá das características do produto comercial, da concentração dos aminoácidos presentes e do estágio fisiológico da planta.
É muito importante consultar um profissional agrônomo para o uso estratégico desses produtos, visando uma alta produtividade alcançada de forma ecologicamente correta.