Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
A broca-do-fruto, denominada cientificamente de Stenoma catenifer Walsingham, (Lepidoptera: Elachistidae) é a principal praga que ocorre na cultura do abacateiro [Persea americana Mill. (Lauraceae)]. É popularmente conhecida como broca-do-abacate, broca-do-fruto, lagarta-do-fruto ou lagarta-da-semente.
As perdas econômicas são causadas pelas lagartas nos frutos, que ficam depreciados tanto externo quanto internamente, além de promover a queda prematura destes. A praga pode provocar grandes prejuízos econômicos e até mesmo obrigar o produtor a abandonar as áreas de produção quando o controle se torna ineficiente, pela falta de medidas eficazes e de baixo impacto ambiental.
Assim, o conhecimento de medidas eficazes e eficientes, que busquem minimizar impactos ao ambiente e que sejam seguras aos trabalhadores é essencial no manejo da produção do abacate, proporcionando o consumo de frutos saudáveis e seguros à população.
Atuação no abacateiro
O adulto faz uma pequena ranhura na casca do fruto, em geral em estágios ainda iniciais de desenvolvimento deste, no qual deposita o ovo. Ao eclodir, a lagarta penetra logo em seguida no fruto, perfurando a epiderme e formando galerias na polpa em seu interior em direção à semente, da qual se alimenta.
Em fases mais adiantadas de crescimento, é possível notar excrementos da praga expostos por uma galeria aberta através da polpa do fruto. Em 60 a 80 dias após a postura, a broca se torna pulpa, ainda dentro da semente, de onde sai o adulto cerca de 80 a 100 dias após a postura.
As lagartas abandonam os frutos ao estarem prestes a empupar e transformam-se em pupas no interior de frutos caídos ou no solo, sob os detritos das folhas, à profundidade de 0,5 a 1,5 cm.
Sintomas
Os frutos que se encontram ainda verdes são os mais atacados. No ataque, ocorre a destruição da polpa e, consequentemente, da semente, sendo que tal dano provoca a queda prematura dos frutos.
Conforme dito, S. catenifer é a principal praga que ocorre na cultura do abacateiro no Brasil. Segundo Simão (1998), é uma praga específica do abacateiro. Sua presença é relatada no País desde 1923 e é quarentenária em países como Estados Unidos.
No Brasil, está presente em diversos Estados, como Minas Gerais, São Paulo, Pará, Espírito Santo, Paraná, Bahia e Santa Catarina.
Os frutos atacados, quando ainda pequenos, em geral sofrem queda da planta. Já quando o ataque ocorre em estágios mais próximos da colheita, ficam imprestáveis para comercialização e consumo. Em condições de ataques com severidade, podem ser observadas diversas lagartas no interior de um único fruto, causando sua queda mais rapidamente.
Os danos causados pela broca-do-abacate podem ocasionar perdas totais na cultura e variam em função da cultivar, do ano, do local e do manejo da cultura.
Manejo
O manejo da praga tem sido dificultado por fatores relacionados à falta de conhecimento da sua bioecologia e aos sistemas de condução dos pomares. O principal método de controle empregado no controle da broca-do-abacate é o químico, no qual são utilizados inseticidas do grupo químico dos piretroides, sendo estes os mais utilizados.
Outras práticas recomendadas para o controle, disponíveis no Sistema de Registro de Agrotóxicos do Ministério da Agricultura [Agrofit] do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, são o controle químico por meio da realização de pulverizações preventivas, ou seja, antes da penetração das lagartas; e o controle mecânico com a catação manual dos frutos atacados, principalmente daqueles que estiverem caídos no chão, com posterior queima dos mesmos.
Atualmente, se encontra registrado no Agrofit um ingrediente ativo para o controle de S. catenifer, consistindo em um inseticida não sistêmico de origem biológica do grupo químico das espinosinas.
Tecnologias
A aplicação de medidas de controle, em conjunto, como o Manejo Integrado de Pragas (MIP), é uma alternativa considerável e muito relevante do ponto de vista técnico, sendo que a determinação do momento de controle é realizada pelo monitoramento das densidades populacionais das pragas. Contudo, ainda são poucos os métodos que propiciem a avaliação da densidade populacional de S. catenifer.
Atualmente, pode-se fazer o monitoramento de adultos de S. catenifer com o uso do feromônio sexual, identificado como (9Z) – 9,13-tetradecadien-11-ynal na natureza. O mesmo é liberado pelas fêmeas visando a atração dos machos para o acasalamento.
Novidades
O controle biológico com agentes como insetos, ácaros e nematoides entomopatogênicos vem sendo estudado como componente da estratégia do manejo integrado desta praga.
Nava et al. (2006) sugerem o ensacamento dos frutos caídos com sintomas de ataque da broca (excrementos no orifício de entrada), apontando como grande vantagem dessa técnica o fato de os frutos poderem permanecer na lavoura, sob os abacateiros, não havendo a necessidade de retirada do pomar para sua destruição, o que demandaria grande quantidade de mão de obra.
O ensacamento dos frutos infestados pela broca pode ser considerado um método cultural de controle. Como desvantagem da utilização desta técnica, estes autores citam que o ensacamento poderia ocasionar também a morte de parasitoides, além das brocas, o que prejudicaria a manutenção do nível populacional de S. catenifer em pomares que utilizam o Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Em campo
De acordo com Nava et al. (2005), são conhecidos sete parasitoides larvais de S. catenifer, pertencentes às famílias Braconidae e Ichneumonidae. Dentre todos os parasitoides registrados para S. catenifer, as espécies de Trichogramma são as que apresentam maior viabilidade para a implementação de um programa de controle biológico.
É importante ressaltar que cada fêmea pode depositar mais de 120 ovos.