Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma, mestra e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)
fernanda.dipple@unemat.br
Ana Cassia M. Possamai
Engenheira agrônoma, doutora e professora – Unemat
anacassiapossamai@unemat.br
O uso incorreto dos herbicidas ajudou a explicar o surgimento da resistência da buva a diversos ingredientes ativos e mecanismos de ação, como não seguir as recomendações da bula conforme tamanho da planta daninha e dose, além de problemas com a tecnologia de aplicação.
Estes fatores, com o passar dos anos, foram favorecendo a resistência de plantas daninhas a alguns herbicidas.
Iniciativas
Conforme HRAC-BR (Comitê de Ação à Resistência aos Herbicidas), a buva nas espécies de C. bonariensis e C. canadensis sp apresentaram, inicialmente, resistência ao herbicida que atua sobre inibidores da EPSPSintase (Glyphosate) em 2005.
Posteriormente, foi registrada resistência aos grupos D (inibidores da fotossíntese fotosistema I (PSI), paraquat, E (Inibidores de protoporfirinogênio oxidase PPO/PROTOX Saflufenacil), B (inibidores da ALS Acetolactato sintase Clorimuron) e O (Mimetizadores de auxina 2,4 D) para a Conyza sumatrensis, com resistência a outros herbicidas na região oeste do estado do Paraná.
Causas e consequências
A buva é comum em grandes culturas, como a soja e milho, com a importância aumentada nos últimos anos. Há estudos indicando que apenas 2,7 plantas de C. bonariensis por m² podem reduzir 50% a produtividade da soja.
O herbicida 2,4 D foi uma molécula que revolucionou a agricultura moderna, descoberta em meados de 1940. Este herbicida vem sendo utilizado desde então nas lavouras do mundo inteiro e do Brasil.
Classificado como mimetizador de auxina, possui grande eficiência para controle de folhas largas (eudicotiledôneas, como buva, caruru, corda de viola, etc.).
Devido à disponibilidade, preço, eficiência e menor persistência comparado a outros herbicidas do mesmo grupo, o 2,4 D é um dos herbicidas mais utilizado para controle de folhas largas na soja.
Prejuízos
Em sua maioria, não é a resistência da planta daninha, e sim o mau uso dessa molécula que traz a resistência e, por consequência, causa grandes prejuízos à cultura da soja.
A alta interferência que as plantas de buva causam às culturas, como por exemplo, o crescimento vigoroso, alta produção de sementes e alta adaptabilidade em diferentes ambientes de produção favorecem a problemática de manejo da buva. Além disso, alguns estudos também indicam a existência de efeitos alelopáticos causados pela presença de buva em outras espécies de plantas.
Ainda, vale ressaltar que a buva apresenta resistência a diferentes mecanismos de ação herbicidas, como, EPSPs (glifosato), ALS (clorimurom), FSI (paraquat), FSII (diurom), PPO (saflufenacil) e mimetizadores de auxina (2,4-D), tornando o manejo desta planta daninha cada vez mais complexo e explicando a sua dominância nas lavouras.
Entenda a resistência
A resistência a herbicidas é a capacidade de algumas plantas sobreviverem e se reproduzirem após serem expostas a uma dose de herbicida que seria letal para a população normal da mesma espécie.
Na maioria dos casos, existem manejos ineficientes com plantas muito grandes, ineficiência e problemas de aplicação, dose errada, falta de uso de diversas estratégias e não propriamente resistência da espécie em questão na área.
Se o produtor realizou todas as indicações corretas, existe um formulário da HRAC para notificação de resistência da planta daninha ao respectivo herbicida (https://www.hrac-br.org/relato-de-resist%C3%AAncia).
Este formulário tem por objetivo normatizar os relatos de resistência. Após realização de diversas etapas o relato será inserido no site da SBCPD e encaminhado para HRAC. Então, é elaborado um comunicado formal, que é divulgado no setor agrícola, com estratégias para manejo da planta daninha na região.
Rotação de princípios
Conforme citado anteriormente, é de suma importância a realização de MIPD com uso de diferentes estratégias para manejo, dentre as quais a rotação de mecanismos de ação de herbicidas, além de rotacionar diferentes mecanismos e ingredientes ativos.
Nas áreas com a presença de biótipos de plantas resistentes, é indispensável a adoção de práticas de manejo que incluam ações como não utilizar, por mais de duas vezes seguidas, na mesma área, herbicidas com o mesmo mecanismo de ação.
Dentre as moléculas registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para controle de buva, temos 2,4 D, ácido de picloran, clorimuron etílico, isoxaflutol tiencarbazona-metílica, bentazona, linuron, indaziflam, imazetapir, sulfentrazona, amicarbazona, imazapique mais imazapir, triclopir-butotílico, dicamba, flumioxazina mais imazetapir, glufositado sal de amônio, etc.
É importante sempre seguir a bula, a dose e as recomendação de uso. A mistura de ingredientes ativos e aplicações sequenciais têm apresentado excelentes resultados.
Atenção
O controle da buva deve ser realizado antes da semeadura da soja, momento em que é possível o uso de herbicidas não seletivos. Caso isso não aconteça, a convivência com a espécie daninha provocará perdas elevadas de rendimento de grãos, variáveis em função da infestação, mas que podem chegar a 70% ou mais, nos casos mais graves, além dos prejuízos causados pelos descontos devido ao aumento de impurezas e de umidade dos grãos.
Monitoramento contínuo
O monitoramento é fundamental, pois sem conhecer as plantas daninhas não será possível um controle eficiente. O monitoramento de plantas daninhas deverá ser feito com uso de uma técnica chamada levantamento fitossociológico.
Essa técnica permite o conhecimento da comunidade (espécies), da população (quantidade), da distribuição (agregadas ou aleatórias), da constância, da dominância e a importância das plantas daninhas. Somente após um monitoramento detalhado pode-se diagnosticar e manejar as plantas daninhas de forma eficiente.