Capina elétrica: quais as vantagens?

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Créditos Zasso

Daniele Maria do Nascimento

donascimentodm@gmail.com

Marcos Roberto Ribeiro Junior

marcos.ribeiro@unesp.br

Engenheiros agrônomos e doutores em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP

Adriana Zanin Kronka

Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e professora – UNESP

adriana.kronka@unesp.br

Controle de plantas daninhas por eletrocussão? Sim, a técnica conhecida por “capina elétrica” é possível e já está em prática, podendo ser mais uma das opções disponíveis para o manejo integrado de plantas daninhas.

A questão em foco não é “se” a energia elétrica é capaz de controlar uma planta daninha, pois qualquer ser vivo, dada a quantidade de energia necessária, é exterminado não só pelo aquecimento direto, como também pela dissociação molecular por eletrólise. O que precisamos determinar é: como aplicar esse conceito de maneira prática e economicamente viável?

O Brasil é pioneiro nessa área, onde a tecnologia vem sendo desenvolvida ao longo das últimas três décadas por empresas privadas e parcerias com instituições de pesquisa. O primeiro trabalho nesse sentido começou em 1988, quando foram consideradas quantidades de energia entre 100 a 5.000 joules como letais para uma planta.

Atualmente, a quantidade de energia reduziu para 50 a 1.000 joules. Desse primeiro protótipo, bastante limitado quanto a sua eficiência, o método se aperfeiçoou.

Um pouco de história

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em 1993, atualizou a então tecnologia disponível, demonstrando, por exemplo, que a eficácia do sistema é influenciada pela umidade do solo, que determina o consumo de energia necessário. Outras empresas e institutos uniram-se a essa parceria.

Uma nova tecnologia, com potencial para ser comercializada, foi apresentada, a qual era aplicada por corrente contínua ao invés de alternada trifásica. Com isso, os aplicadores eram construídos com apenas dois eletrodos, ao invés de três.

Na prática, essa modificação foi bastante oportuna, uma vez que, na tecnologia anterior, qualquer um dos três polos que entrasse em contato com o solo ou com a planta já comprometia a qualidade da aplicação.

Resultados

A Fundação Procafé iniciou, ainda em 2006, no município de Varginha (MG), o controle da trapoeraba (Commelina benghalensis), uma espécie que vinha apresentando resistência aos herbicidas empregados, por eletrocussão, utilizando um equipamento de 60KVA. Até 95% da população de trapoeraba foi controlada com sucesso por essa tecnologia.

Outros testes se sucederam, demonstrando que a técnica era eficiente e viável para o controle de plantas daninhas. Foram desenvolvidos aplicadores de eletrocussão acoplados aos tratores e também equipamentos manuais.

Vantagens

Esse método não apresenta qualquer risco de contaminação, uma vez que se baseia apenas no meio físico (eletrocussão). Sendo assim, também não há riscos quanto à intoxicação, um dos maiores problemas relacionados aos herbicidas comumente empregados.

Os herbicidas, aliás, se usados de maneira inadequada e desenfreada, podem contaminar o lençol freático, intoxicar animais aquáticos, dentre outras consequências que já são bem conhecidas e discutidas, o que tem incentivado a busca por métodos alternativos de controle.

Há também a questão da resistência, pois diversas espécies de plantas daninhas já apresentam resistência aos principais herbicidas comercializados, comprometendo toda a eficácia e sustentabilidade do controle químico. Nesse sentido, empregar a capina elétrica em lavouras com casos de resistência pode auxiliar e muito no manejo dessas plantas.

Manejo de plantas daninhas resistentes

Em 2013, a Prefeitura de Santo Cristo (RS), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, adquiriu um equipamento para capina elétrica da buva (Conyza spp.) resistente ao glifosato.

A buva foi altamente sensível à tecnologia, possivelmente devido a sua grande área foliar. Não foram descritas, até o momento, plantas insensíveis ou resistentes à eletrocussão e, possivelmente, não haverá casos de “resistência”, devido às peculiaridades desse método.

Efeito rápido

Ao contrário dos herbicidas que, dependendo de seu modo de ação, levam dias até o surgimento dos primeiros sintomas na planta, o efeito da capina elétrica é imediato. Esse efeito é ainda mais rápido em se tratando de plantas com grande estrutura foliar e raízes pequenas.

Uma outra vantagem do uso dessa técnica é que a entrada de pessoas na área é permitida logo após a aplicação, possibilitando a execução de outras tarefas necessárias na lavoura ou até mesmo em áreas urbanas, onde a eletrocussão tem sido utilizada.

Técnica nova

Comercialmente, a capina elétrica é uma técnica nova, apesar dos estudos terem se iniciado em 1988. Esse método vem sendo aprimorado e apresenta diversas vantagens em relação ao controle químico, como o efeito imediato, ausência de plantas insensíveis à eletrocussão e ausência de quaisquer resíduos químicos.

É uma tecnologia limpa, que tende a agregar bastante ao manejo de plantas daninhas, principalmente das que já apresentam resistência aos herbicidas comercializados no País.

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