Estudo de cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Embrapa Meio Ambiente, Universidade Federal de Lavras (UFLA) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revelou a capacidade de duas linhagens brasileiras do fungo Trichoderma – Trichoderma asperelloides CMAA 1584 (BRM 065723) e Trichoderma lentiforme CMAA 1585 (BRM 065775) – em controlar o mofo-branco.
Trata-se de uma doença altamente destrutiva causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, que ataca diversas culturas de importância socioeconômica para o Brasil, como algodão, soja, feijão, girassol e tomate, entre outras.
Uma das cepas conseguiu inibir em 100% a germinação de escleródios do patógeno (estruturas que desempenham papel importante na sobrevivência do fungo de uma safra para outra). Além disso, ambas mostraram aptidão para solubilizar fósforo inorgânico, um macronutriente de baixa disponibilidade em solos tropicais.
Quem é ele
O Trichoderma é um dos principais aliados da ciência no controle biológico de doenças agrícolas. Os produtos microbianos à base desse fungo apresentam características multifuncionais na proteção de plantas, como competição e parasitismo de patógenos, indução de resistência às doenças e estímulo ao crescimento, além de aumento da disponibilidade de nutrientes.
Esta é uma estratégia que tem ajudado produtores a reduzir o uso de fungicidas químicos contra o mofo-branco e de fertilizantes em diversas culturas, como soja e feijão, além do algodão, no Brasil e em outros países.
Diante da importância desse microrganismo para a agricultura mundial, cientistas investem em estudos de triagem para identificação de novas linhagens de Trichoderma com potencial para uso em programas de biocontrole. “Na pesquisa em questão, os resultados reforçaram a necessidade de selecionar a cepa de acordo com o patógeno-alvo desejado, levando em consideração a sua biologia e a epidemiologia no sistema de cultivo”, explica o pesquisador Wagner Bettiol, da Embrapa Meio Ambiente.
Avaliação
De acordo com Bettiol, diversas cepas de Trichoderma foram avaliadas preliminarmente a esse estudo, visando ao controle do mofo-branco em plantas de feijão, e essas duas foram as mais eficazes nos testes.
A cepa de Trichoderma asperelloides CMAA 1584 (BRM 065723) mostrou bom potencial para controlar o patógeno causador do mofo-branco em condições de laboratório.
Já a cepa de Trichoderma lentiforme CMAA 1585 (BRM 065775) demonstrou capacidade bioestimulante no crescimento de algodão, por solubilizar fosfato no solo e incrementar o desenvolvimento de raízes.
“Como as duas cepas possuem funções complementares, sugere-se o uso combinado delas visando ao manejo do mofo-branco e à promoção de crescimento de plantas de algodão”, afirma o analista Gabriel Mascarin, da Embrapa Meio Ambiente.
Essa pesquisa faz parte da tese de doutorado de Lucas Guedes Silva, defendida na Unesp, que gerou o artigo Dual functionality of Trichoderma: Biocontrol of Sclerotinia sclerotiorum and bioestimulant of cotton plants, publicado na revista Frontiers in Plant Science.