Pedro Henrique Castro Magalhães Ferreira
Engenheiro agrônomo e mestrando em Proteção de Plantas – Unesp Botucatu
A cotonicultura tem ganhado espaço no Brasil nos últimos anos, tornando-se uma das principais commodities brasileiras, principalmente em função do avanço da cultura nas áreas de Cerrado, o que favoreceu um aumento na área plantada (Figura 1).
Figura 1: Evolução da área plantada, produção e produtividade de algodão no Brasil nos últimos anos.
Algodão e a economia brasileira
O algodão apresenta uma relevante importância socioeconômica para o Brasil, pois além de ser a maior fonte de fibras naturais, garante ao país lugar privilegiado no cenário internacional, por ser um dos maiores produtores mundiais.
O algodão é o quinto produto nacional em termos de valor bruto da produção (VBP) agrícola, ficando atrás apenas de culturas como a soja, milho, cana-de-açúcar e café (Figura 2).
A cultura do algodão deve atingir, em 2022, um VBP de R$ 42,9 bilhões (3,5% do VBP total), alta de quase 63% em relação a 2021 (R$ 26,4 bilhões). No Brasil, os maiores produtores de algodão são os Estados do Mato Grosso e Bahia, que se mostram a cada ano mais detentores de conhecimento e tecnologias para alavancar a produção nacional.
O VBP do algodão no Estado do Mato Grosso deverá chegar a R$ 31,4 bilhões, cerca de 73% do total brasileiro, também registrando aumento de 54,6% em relação a 2021. Já no Estado da Bahia o VBP deverá ser de R$ 8,4 bilhões, cerca de 29,2% maior em relação ao ano de 2021.
A cotonicultura gera desenvolvimento nas regiões onde está presente por ter uma cadeia produtiva complexa e de alto valor agregado, sendo importante para os fornecedores de insumos, para a indústria de fiação, tecelagem, moda e design, química e como alimento animal. Atualmente, abastece mais de 30 mil empresas e gera cerca de 1,5 milhão de empregos no País.
Destaque no cenário agrícola
Para chegar a esse patamar de destaque nacional, a produção algodoeira no Brasil passou por profundas transformações produtivas e tecnológicas, principalmente pela ocorrência do bicudo-do-algodoeiro, que causou uma crise no setor.
Como consequência dessa crise, em meados da década de 1990, a cultura do algodão migrou do Sul e Sudeste para o Cerrado (regiões do centro-oeste e do Matopiba, que compreende parte do território do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Esse processo de redistribuição geográfica da produção possibilitou a evolução do sistema produtivo do algodão, que passou do sistema manufatureiro para o tecnificado, gerando, assim, ganhos de escala, dada a expansão das unidades produtivas, sendo caracterizado pela mecanização completa (da semeadura até a colheita), com uso intensivo de insumos químicos e associação de algodão herbáceo com as culturas de soja e milho.
Além disso, o deslocamento da atividade algodoeira foi favorecido pelas inovações, que permitiram cultivar o algodão como segunda safra, tornando-se uma forma de diversificação de portfólio nas propriedades agrícolas.
Porém, essa redistribuição geográfica da produção exigiu a adoção de novos modelos de produção, a superação de paradigmas e a necessidade de conviver com a praga do bicudo-do-algodoeiro.
Diante disso, o investimento em pesquisa, os incentivos fiscais e o novo posicionamento profissional dos produtores foram elementos essenciais na recuperação do setor algodoeiro e na sua consolidação no Cerrado.
Tecnologias que favorecem a cultura e o produtor
Existem várias tecnologias e manejos que podem ser adotados, beneficiando a cultura e também o produtor em função dos maiores ganhos com a cultura, como por exemplo, a rotação de culturas, integração lavoura-pecuária, controle biológico, tecnologias e agricultura de precisão, etc.
O monocultivo do algodão favorece a incidência de pragas e doenças, assim como ocorre em outras culturas. Portanto, a rotação com outras espécies, como soja e milho, favorece a quebra do ciclo de diversas pragas.
Atualmente, além da rotação de culturas, tem-se utilizado ainda o sistema integração lavoura-pecuária, em que o componente pastagem é inserido em consórcio com o milho ou em sobressemeadura à soja antes da colheita, o qual serve de alimento para animais na época seca e permite o aproveitamento da terra durante todo o ano.
O controle biológico é outra estratégia válida, principalmente para a cultura do algodão, que tem a reputação de ser a maior consumidora de produtos fitossanitários. O controle biológico consiste em utilizar outras espécies que, de alguma forma, tenham a capacidade de reduzir os danos causados pelas pragas, como por exemplo fungos e vírus que causam doenças nos insetos, sendo assim uma opção menos impactante para o meio ambiente e mais sustentável em longo prazo.
A agricultura de precisão associada a esses manejos pode favorecer ainda mais a cultura e o produtor. Este é um termo genérico para estratégias de gestão que, com o uso de tecnologias e técnicas, analisam dados temporais e espaciais, associando informações pré-existentes, objetivando o suporte técnico às decisões de gestão de acordo com a variabilidade estimada, para melhorar a eficiência do uso dos recursos e a produtividade das culturas, garantindo uma maior rentabilidade da produção agrícola.
Esta técnica permite realizar um manejo diferenciado, levando em conta a variabilidade espacial dentro dos talhões e regiões com características similares para um manejo localizado.
Outras tecnologias podem ser utilizadas, desde o preparo do solo até a colheita, como por exemplo sensores de monitoramento das condições de solo, pragas, doenças, índices de vegetação e tantos outros exemplos, que se tornam cada vez mais comuns e procurados no meio agrícola.
Novidades no mercado de algodão
O investimento na descoberta de novos eventos que tenham a capacidade de conferir resistências à cultura do algodão tem sido cada vez mais o foco das empresas de pesquisa e desenvolvimento, assim como a maior demanda dos produtores.
As empresas têm apostado em pesquisas que visam desde a descoberta de resistências nativas até modificações genéticas que resultem na seleção de um novo trait para o mercado, buscando soluções para um futuro sustentável e livre das complexidades do manejo.
Nos últimos anos, tem-se percebido o aumento das novidades no mercado, em que lançamentos de novas cultivares resistentes a doenças, insetos e herbicidas tem sido visualizada frequentemente. Já foram lançados no meio agrícola materiais com diferentes resistências, dentre elas aos herbicidas, que tornam o controle de plantas daninhas mais simples e eficiente, como ao glufosinato de amônio e glifosato, ingredientes ativos importantes no cenário atual.
Outra resistência relevante são aos insetos-praga. Com grande impacto na produtividade, o controle químico chega a representar 25% dos custos de produção da cultura, e lavouras com plantas geneticamente modificadas e que apresentam resistência, são um auxílio no manejo para o produtor.
As tolerâncias a doenças e nematoides também estão ganhando cada vez mais destaque, dentre elas a ramulária causada pelo fungo Ramularia gossypii e o nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita), dois sérios problemas enfrentados hoje pelos cotonicultores.
Cultivares que apresentam uma múltipla associação de resistências a herbicidas, insetos, doenças e nematoides trazem a inovação que o mercado busca e necessita. Além disso, o melhoramento genético apresenta variedades com diferentes características, como diferentes ciclos, maiores rendimentos de pluma, qualidade de fibra, alto teto produtivo, ampla adaptabilidade, elevado peso de capulho, tolerância à seca e diversas outras características vantajosas para a lucratividade.
Custo-benefício da produção cotonicultora
O mercado de algodão brasileiro tem apresentado excelentes perspectivas presentes e futuras. As projeções mostram que a demanda mundial seguirá crescendo e os preços continuarão atrativos, favorecendo assim as exportações.
Mesmo com a forte elevação dos custos de produção, a rentabilidade segue atrativa para o produtor, uma vez que, de forma sucessiva, são renovados os patamares máximos nominais do valor pago pela pluma.
Na safra 2021/22, o custo total de produção da cultura do algodão no Estado do Mato Grosso, o maior produtor atual, foi estimado em R$ 13.463,91 ha-1. Considerando que a produtividade média estimada do Estado é de 1.741,21 kg ha-1 (116,08 @ ha-1) e que o preço atual de mercado do algodão é de R$ 230,5 @-1, o cultivo de algodão está gerando um capital de R$ 26.762,24 ha-1.
Portanto, o produtor está obtendo um lucro de R$ 13.298,33 ha-1. Na safra 2020/21, o custo total de produção estimado foi de R$ 10.950,34 ha-1, cerca de 22,9% inferior à safra atual, com uma produtividade de 1.682,23 kg ha-1 (112,15 @ ha-1) e o preço do algodão nesta mesma época saindo a R$ 149,41 @-1. Diante desse cenário, na safra 2020/21 o produtor mato-grossense obteve, em média, um lucro de R$ 5.805,99 ha-1, sendo cerca de 2,29 vezes inferior quando comparado à expectativa da safra atual (2021/22).