Como o manejo da ordenha impacta na mastite de vacas leiteiras?

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Quando falamos sobre mastite, há um universo multifatorial que cerca a doença. A preocupação deve existir desde a presença de moscas e mamadas cruzadas, até lama e os cuidados que envolvem a saúde do úbere de uma maneira geral.  Quando realizada de maneira correta, a rotina de ordenha irá auxiliar na prevenção de casos de mastite, redução na contagem de células somáticas (CCS), contagem padrão em placas (CPP), dentre outros inúmeros benefícios. 

Tão importante quanto esses itens citados acima, é a manutenção da ordenhadeira e de todo o manejo que envolve o momento da retirada do leite a fim de evitar que as vacas se contaminem ou tenham as suas glândulas mamárias lesionadas.

As bactérias responsáveis pela mastite contagiosa, por exemplo, se encontram nas teteiras, nas mãos do ordenhador, na boca do bezerro e até no próprio organismo do animal, sobrevivendo por muito tempo nos hospedeiros com ou sem mastite. Os patógenos mais comuns nestes casos são Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Corynebacterium bovis e menos frequentemente, Mycoplasma spp.

O correto uso do equipamento de ordenha interfere na qualidade do leite e no controle de mastite

Obter um leite de alta qualidade é resultado de vários itens associados. Todos os esforços – como a nutrição, o melhoramento genético e sanidade – são “colhidos” no momento da ordenha, fato que torna a manutenção e o correto funcionamento do equipamento de ordenha essenciais.

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos apontou que os efeitos diretos e indiretos da máquina de ordenha podem representar até 20% de novas infecções no rebanho, mas, a média é de 10%, desde que as configurações das máquinas estejam corretas. Também, que as condições da máquina ou do seu gerenciamento podem levar a uma entrada repentina e transitória de ar através das glândulas mamárias, o que aumenta os riscos de mastite devido aos riscos do fluxo reverso de leite, por isso, a importância delas se manterem calibradas.

Outros fatores de risco importantes são:

  • deslizamento das teteiras e remoção grosseira delas (especialmente no final ou próximo ao final da ordenha);
  • alto nível e flutuações no nível de vácuo;
  • falhas nos pulsadores;
  • entre outros.

A ideia é também evitar o aumento das lesões na pele e nas extremidades dos tetos. Vale ressaltar que máquinas funcionando inadequadamente podem causar machucados, como a hiperqueratose, o que aumenta a chance de novas infecções. A integridade da ponta dos tetos é uma barreira física que pode prevenir infecções e esta é afetada negativamente pelo aumento exacerbado do vácuo na ponta do teto (vácuo acima de 41 Kpa), o que proporciona fechamento mais lento do canal, maior remoção de queratina, e consequentemente aumento do grau de hiperqueratose dos tetos.

O fato é que durante a ordenha, há uma grande oportunidade das bactérias se transferirem entre as vacas e os quartos mamários. Vacas infectadas podem contaminar a superfície das teteiras com resíduos de leite, podendo transmitir patógenos para vacas saudáveis ao longo da ordenha. Ficar de olho na vida útil das teteiras é também algo a ser realizado já que elas podem conter rachaduras e assim, acumular bactérias patogênicas.

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A importância da higiene no momento da ordenha

A transmissão de agentes causadores de mastite – além das questões apresentadas sobre as ordenhadeiras – também podem ser decorrentes da má higiene, como a utilização de toalhas de uso múltiplo ou ausência de limpeza das mãos dos ordenhadores. Nesse sentido, é de extrema relevância que os colaboradores que irão realizar a ordenha se atentem a lavagem dos dedos, mãos, braços e antebraços e usem luvas para evitar contaminantes.

De maneira resumida, eles devem seguir as boas práticas de ordenha as quais a fazenda deve disponibilizar a todos os envolvidos, inclusive, capacitando a mão de obra para tal.

Ainda sobre a equipe responsável  pela ordenha, é fundamental que eles se aperfeiçoem para ajudar na identificação precoce de vacas com mastite, tanto por meio de testes que precedem o momento da ordenha (como o da caneca de fundo preto e o California Mastitis Test [CMT]) quanto por observação do próprio comportamento dos animais.

O acompanhamento da CCS e a cultura microbiológica na fazenda também são imprescindíveis no auxílio do processo de controle da enfermidade, pois conforme o produtor passa a obter informações mais detalhadas sobre o seu rebanho, mais segurança ele tem para agir em cima do problema. Inclusive, a linha de ordenha pode ser utilizada como estratégia para evitar a transmissão dos patógenos para animais sadios. 

Em cima do que foi abordado, confira abaixo alguns tópicos que merecem a atenção do produtor e dos colaboradores para a otimização e melhorias na ordenha: 

  • uso de sistema de identificação animal individual e condução das vacas para a ordenha por meio de práticas focadas no bem-estar animal;
  • boa preparação do úbere antes da ordenha (as vacas devem ser ordenhadas com os tetos limpos e secos e deve ocorrer o uso do pré-dipping);
  • rotina de ordenha bem feita (desde o manejo com os animais a caminho da sala de ordenha até a correta colocação das teteiras);
  • desinfecção dos tetos após a ordenha (uso de pós-dipping para reduzir as novas infecções causadas por microrganismos contagiosos);
  • separação do leite de animais doentes e em tratamento;
  • manutenção do equipamento de ordenha (além disso, ele deve ser limpo e higienizado com detergentes específicos, tempo de ação e temperatura corretos);
  • higiene na área de permanência das vacas (evitando acúmulo de barro, lama e esterco, e quando confinadas, contar com um correto dimensionamento de baias e corredores);
  • limpeza da sala de ordenha e do equipamento de ordenha e utensílios; higiene do ordenhador e correta armazenagem do leite após a ordenha;
  • preocupação com a alimentação dos animais pós-ordenha (oferecendo alimentos de qualidade e evitando que as vacas se deitem logo após a ordenha já que o esfíncter ainda não estará totalmente fechado, o que eleva os riscos de mastite).

Assim, fica evidente a importância do adequado manejo da ordenha para evitar casos de mastite no rebanho e prejuízos oriundos da doença, como o descarte de leite e das próprias vacas. Prevenir o rebanho e entender realmente o que se passa com ele são poderosas ferramentas a fim de preparar a fazenda para eventualidades, além de contribuir com a redução nos custos de produção da atividade leiteira.

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